Cidade do México, México, 2/7/2013 – Um ano depois de endossar os princípios da economia verde na cúpula Rio+20, a América Latina apresenta um avanço duvidoso para modelos de desenvolvimento sustentável. Esta é a opinião dominante entre especialistas consultados pela IPS. A região, “em geral, está em uma situação precária; embora haja esforços de política pública para integrar o capital natural como objeto de sustentabilidade econômica, pode-se contar os poucos casos. Não há um enfoque transversal e compreensivo”, disse à IPS a diretora do Instituto Global para a Sustentabilidade (IGS), Isabel Studer, do Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey.
O IGS participa de um estudo comandado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) sobre experiências de sucesso em economia verde em nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que deve ficar pronto no final deste ano. Segundo Studer, os países “baseiam seu crescimento econômico na exploração dos recursos naturais, e isto agravou uma situação que por si só não era das melhores. Não se integrou a sustentabilidade ambiental à política econômica”.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), sustentabilidade é “um sistema de atividades econômicas relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços que resulta em melhoria do bem-estar humano no longo prazo, sem, ao mesmo tempo, expor as gerações futuras a riscos ambientais e escassez ecológica significativa”. Para o Pnuma, o investimento verde pode contribuir com a redução da demanda de energia e água e da pegada de carbono na produção de bens e serviços, e ajudar no combate à pobreza e à desigualdade social.
“Primeiro é preciso conhecer as condições da economia e depois as que podem ser aplicadas. Antes vem uma análise das maneiras e dos setores prioritários para transitar para uma economia verde”, disse Dolores Barrientos, representante do Pnuma no México. “O avanço fundamental é reconhecer as falhas no sistema econômico, que eventualmente possam ser corrigidas com melhores políticas públicas e que possam incluir os grandes temas da economia verde”, pontuou.
A declaração “O futuro que queremos”, adotada em junho de 2012 pela conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), no Rio de Janeiro, considera que a economia verde é um dos instrumentos mais importantes para se conseguir a sustentabilidade e poder oferecer alternativas para a formulação de políticas. Ao mesmo tempo, reconhece os diferentes enfoques, visões e modelos, em função das circunstâncias e prioridades nacionais. Governos, universidades, organizações não governamentais e empresas registraram, junto ao secretariado da Rio+20, 741 iniciativas voluntárias em setores como energia, transporte, agricultura e saúde. O Brasil apresentou 72, México 47 e Peru 25.
O Pnuma afirmou que são necessários por ano mais de US$ 1,3 bilhão em iniciativas sustentáveis para enfrentar o esgotamento dos recursos e diminuir a produção de substâncias contaminantes. Até 2030, o México necessitará de investimentos no valor de US$ 64 bilhões em geração elétrica, petróleo e gás, agricultura e silvicultura, consumo de energia e transporte para gerar menos emissões contaminantes, segundo o Banco Mundial, que prefere falar em “crescimento verde e inclusivo” e destaca experiências que já são aplicadas em muitos países da região.
Porém, governos, acadêmicos e organizações da sociedade civil, especialmente do mundo em desenvolvimento, questionam os postulados da economia verde com o argumento de que a riqueza natural será mercantilizada, sem dar resposta a problemas de fundo, como a pobreza e a desigualdade, que são muito graves na América Latina. Em seu estudo Estratégias de Desenvolvimento de Países Latino-Americanos e Caribenhos Selecionados e sua Aproximação da Economia Verde. Uma Análise Comparativa, o Pnuma avaliou os casos de Cuba, Nicarágua, Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, cujos governos não creem na economia verde.
O documento constata que, “apesar de a maioria dos países analisados integrar em suas estratégias de desenvolvimento certos elementos que regem a relação de pessoas e comunidades com o meio ambiente e os caminhos para alcançar a sustentabilidade, há uma brecha entre as posturas dos países, frequentemente muito inovadoras expressas na esfera internacional, e suas atuais políticas de desenvolvimento”. “O desafio é fazer mudanças substanciais de maneira integral na economia nacional. As políticas públicas passam pelas políticas macroeconômica, financeira, fiscal e de inovação. A economia verde pode ser motor para corrigir desigualdades”, destacou Studer.
Para a diretora do IGS, “a economia verde não é opcional, porque os problemas existentes vão se agravar. Ela oferece oportunidade de desenvolvimento de novas indústrias, de energia renovável, de reciclagem de materiais; mas requer um esforço gigantesco para incluir externalidades nos preços e avaliar custos de oportunidade”. Em agosto serão apresentados resultados sobre boas práticas na Alemanha, China e Austrália, vinculadas ao manejo da água e a incentivos às energias renováveis.
Em geral, os especialistas coincidem quanto à urgência de adotar medidas para enfrentar de forma mais eficiente o uso da energia e os recursos hídricos e para manejar o lixo e o transporte. O México está para concluir um estudo sobre agricultura, capital natural, transporte, água e empregos verdes, que pode ser insumo para que os tomadores de decisões desenhem políticas.
Outros países da região começam a estudar e analisar diferentes setores sob esta ótica. “A chave é os países se convencerem das recomendações da economia verde, a seguir analisarem onde há oportunidades para aplicá-las e executarem essas ações”, opinou Barrientos. O estudo do Pnuma aconselha a estabelecer mecanismos internacionais que garantam que uma economia verde contribuirá para a erradicação da pobreza, respeitará a soberania das nações, facilitará a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade e permitirá uma distribuição equitativa da riqueza. Envolverde/IPS