A situação econômica e social do mundo é preocupante. A recuperação dos Estados Unidos continua lenta e incerta. E, pior, ela se faz sem um aumento do nível de emprego. O FED (banco central americano) tenta sustentar o crescimento entre 2,5% e 3% para 2011, sob a ameaça das consequências indesejadas no longo prazo de suas políticas de curto prazo, mas a ação do Executivo está paralisada no Congresso pela eleição de 2012.

Como disse Herbert Stein (presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente dos Estados Unidos, de 1972 a 1974), “os economistas não sabem muita coisa sobre como funciona o sistema econômico, mas os outros – particularmente os políticos responsáveis pela política econômica – sabem muito menos!”.

A situação da Europa (e do euro) talvez seja ainda mais complicada do que a dos Estados Unidos, apesar do crescimento da Alemanha. É pouco provável que a dívida pública acumulada por alguns dos seus membros (particularmente a Grécia) possa ser resolvida sem uma renegociação adequada acompanhada por formidável e pouco provável aumento da produtividade.

Todos os emergentes (inclusive a China e a Índia) sofrem a ameaça de processos inflacionários. Estão tentando reduzir (com cuidado) o ritmo de seu crescimento, o que implicará uma redução do volume da demanda mundial de importação. Os preços, entretanto, dependerão da política monetária dos Estados Unidos e da consequente variação do valor do dólar.

Esta comanda a ação dos hedges funds que determinam, mais do que a relação entre a oferta e a demanda físicas das commodities, os seus preços. O caso mais conspícuo é a cotação do petróleo.

Sem meias palavras: o vento a favor que soprou até 2008 transformou-se numa calmaria que pode prenunciar grave tempestade. É tempo, portanto, de colocarmos nossas barbas de molho.

A atual política econômica e social tem nos servido muito bem nessa travessia. Nunca como agora, porém, foi tão necessário tranquilizar a sociedade, acelerando a implementação de medidas macro e microeconômicas coordenadas que produzam um aumento persistente da produtividade da mão de obra e também contribuam na redução das pressões inflacionárias.

Isto exige a máxima credibilidade do governo. O affaire Palocci, por exemplo, insere-se nesse contexto. É fundamental que o ministro esclareça o assunto com presteza para que não seja julgado apenas por sinais exteriores. Nem o valor dos contratos, nem as cláusulas de confidencialidade, nem mesmo a taxa de “sucesso” configuram, a priori, comportamento condenável.

É evidente que só a transparência urgente e absoluta pavimentará a recuperação da sua credibilidade.

* Delfim Netto é economista e escreve às quartas-feiras no jornal Folha de S. Paulo.

** Publicado originalmente no site EcoD.