Por meio da interação dos pequenos com a natureza, ações do Instituto Rã-Bugio, de Santa Catarina, ajudam a divulgar valores ecológicos e a conscientizar as crianças sobre a importância da preservação dos ecossistemas.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, neste 5 de junho, nos lembra dos tantos desafios de conservação ambiental que enfrentamos atualmente, como a derrubada e queimada de florestas, extinção de espécies, mudanças climáticas, poluição de fontes hídricas, etc. Com tantos problemas, a data nos serve muito mais como um alerta do que como uma comemoração.
Mas algumas iniciativas, como os projetos da ONG Instituto Rã-Bugio para Conservação da Biodiversidade, ajudam a estimular a preservação da natureza e colocam um pouco de otimismo no que, de outra maneira, poderá ser um futuro bem desanimador para a humanidade.
No dia 5 de abril de 2003, nascia em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, o Instituto Rã-Bugio, que tem como principal objetivo realizar iniciativas de educação ambiental por meio da interação da sociedade, em especial das crianças, com a natureza. A ONG surgiu a partir da ideia do casal Elza Nishimura Woehl e Germano Woehl Júnior, que desde 1994 realiza ações de preservação.
Germano comenta que, durante sua formação, sempre ficava angustiado com os desmatamentos intensos que ocorriam na cidade onde cresceu, Itaiópolis (SC), e em outros municípios catarinenses. Por isso, começou a pensar em fazer algo consistente para salvar as florestas da região.
Em 1994, o casal comprou uma pequena área de Mata Atlântica em Guaramirim (SC) para preservação, e, movidos pelo desejo de divulgar e conscientizar sobre a importância da conservação do meio ambiente, começaram a expor material e a dar palestras em escolas e locais públicos sobre o assunto, criando depois a estratégia de levar estudantes a trilhas para terem contato com a natureza.
A partir dessas atividades foi criada a ONG, que recebeu o nome Rã-Bugio devido ao fascínio de Germano por anfíbios. Logo após o nascimento do Instituto, o casal criou o Centro Interpretativo da Mata Atlântica (Cima), construído em uma área de 40 hectares na Serra do Mar. O Centro, sediado em uma simpática casa de tijolos, deu início a uma nova fase do trabalho de Germano e Elza de educação ambiental, e é lá que o casal realiza seus projetos.
Atualmente, entre os projetos em andamento estão o “Educação ambiental para salvar a Serra do Mar” e o “Mata Atlântica é qualidade de vida”. O primeiro atende crianças e adolescentes de escolas públicas e está sendo executado em Joinville (SC). Por meio da participação em trilhas interpretativas, as crianças interagem com a natureza e aprendem sobre a importância do ecossistema da Mata Atlântica e sua preservação.
Já o segundo, patrocinado pela Johnson & Johnson, está sendo realizado em escolas públicas de São José dos Campos (SP) e já foi renovado três vezes. Neste projeto, os estudantes têm contato com a natureza e aprendem sobre a importância dos serviços ambientais da Mata Atlântica, sobretudo na proteção dos mananciais e da biodiversidade.
Como muitas ONGs socioambientais, no entanto, o Instituto Rã-Bugio também enfrenta dificuldades para fazer suas ações saírem do papel. Além da questão financeira – os projetos da ONG dependem de doações de pessoas físicas, patrocínios de empresas e também da prefeitura de Jaraguá do Sul – há também o problema da falta de segurança, tanto da propriedade do casal destinada à preservação quanto dos próprios realizadores.
“Defender seriamente a natureza no Brasil é uma subversão. E muito perigosa. Lutar contra o desmatamento, ou seja, a destruição dos ecossistemas, o tráfico de animais, é encrenca na certa, uma atividade de alto risco”, alerta Germano.
“Abordar estes temas de educação ambiental exige muita coragem e ousadia. Se eu não me cuidasse e não levasse a sério as precauções relacionadas com a segurança, certamente não estaria mais aqui. A perda da liberdade é o que mais me deixa triste”, lamenta o idealizador do Instituto.
Ainda assim, Elza e Germano acreditam que seu trabalho vale a pena, e já sentem alguns efeitos concretos por seu esforço.“É um trabalho cujos resultados são esperados a médio e longo prazos. Entretanto, já temos indicadores concretos de resultados.”
“Tanto na conservação da natureza como nos projetos de educação ambiental para colocar os estudantes em contato com a natureza, o que, de acordo com estudos científicos, proporciona uma série de benefícios na formação deles, estimulando a criatividade e melhorando o desempenho em várias disciplinas como estudos sociais, ciências, artes, linguagem e matemática.”
Uma dessas consequências positivas é o fato de os programas já terem atendido cerca de 50 mil estudantes e 2,5 mil professores, e terem corrido diversos municípios brasileiros. “Sabemos que nosso projeto vem sendo replicado em várias cidades brasileiras”, informa o realizador.
Outro resultado é a questão do estímulo à criação e aumento de áreas de preservação. “Com a forte divulgação que tivemos na mídia em todo o território nacional, muitas prefeituras estão destinando matas preservadas em áreas urbanas para as atividades educativas, construindo trilhas interpretativas e infraestrutura para serem utilizadas pelas escolas. Geralmente por iniciativa de um professor ou diretor de escola.”
A própria Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do casal vem recebendo incentivos externos e, tendo começado com dois hectares, atualmente está com mais de 800, protegendo várias espécies de animais e árvores gigantescas e centenárias ameaçadas de extinção.
“É surpreendente que os últimos 212 hectares, onde está sendo criada a RPPN Odir Zanelatto, foram comprados com dinheiro de doadores. Com a divulgação destas ações, centenas de proprietários de matas preservadas ou outras formas de ecossistemas (vegetação rasteira), como os campos de altitude, já nos procuraram para orientá-los no processo de transformação em RPPN destas áreas naturais.”
“Tivemos até o caso de um empresário dono de dez mil hectares de Mata Atlântica que nos procurou para aconselhá-lo sobre qual a melhor forma de garantir a preservação da área. Fez questão de dizer que nos procurou por causa da confiança em nós”, lembra Germano.
Por todo esse trabalho, as iniciativas de Germano e Elza acabaram chamando a atenção internacional, e em setembro o casal será homenageado no Congresso Mundial de Conservação, em Jeju, na Coreia do Sul, com o prêmio Luc Hoffmann, criado pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), da Suíça.
Esse retorno animador faz com que os criadores da ONG já planejem voar mais alto e alcançar ainda mais pessoas com seus projetos. “Estamos com novas estratégias para ampliar a escala. Vamos concentrar mais nossas ações nos jovens, futuros professores. O Cima foi idealizado para esta finalidade, para promover a educação ambiental ao ar livre em larga escala.”
“Queremos que os professores levem cada vez mais seus alunos para terem contato com a natureza em locais apropriados, com infraestrutura e segurança. Vamos também usar estratégias para atrair mais doadores para compras de áreas preservadas e ampliar as RPPNs que já criamos”, observa.
“A satisfação em ver os resultados compensa, e muito. É um trabalho que nos proporciona muita felicidade, que todo o ser humano busca, e a gente procura fazer o melhor possível com todo o prazer. A motivação e o estímulo vêm das pessoas que reconhecem este esforço e compreendem a importância e necessidade de salvarmos as matas nativas que ainda restam, para garantirmos a continuidade da vida de todos os organismos deste planeta”, conclui ele.
Que essas ações façam com que, futuramente, possamos celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente comemorando algo que ainda esteja preservado à nossa volta, e não lamentando os milhares de ecossistemas que se tenham tornado passado para nós.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.