Por Neuza Árbocz, para o Instituto Ethos
Entregue aos ministros Joaquim Levy e Izabella Teixeira, a carta reúne compromissos das empresas com a nova economia e propostas ao governo para a COP-21.
No dia 13 de agosto, em São Paulo, presidentes de grandes grupos corporativos e organizações ligadas à economia de baixo carbono integrantes do Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas, realizaram a entrega ao governo federal de um documento oficial de ações de combate às emissões de gases de efeito estufa (GEE). Trata-se da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudança do Clima – 2015.
Com articulação do Instituto Ethos, a iniciativa é uma continuidade do esforço iniciado em 2009, quando lideranças empresariais do país, de forma pioneira, redigiram a primeira Carta Aberta, com promessas públicas de redução de GEE. “É importante destacar que as empresas assumem compromissos e não apenas fazem demandas ou exigências às autoridades. A intenção é firmar uma aliança em torno das mudanças necessárias”, ressaltou Jorge Abrahão, diretor-presidente do Ethos, na abertura do evento.
“Antecipar-se a mudanças políticas e regulatórias é um bom negócio. Integrar empresas, governos e a sociedade é a única forma possível de superar os desafios da sustentabilidade”, afirmou José Luciano Penido, da Fibria Celulose, que falou em nome do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Essa organização destaca que estamos num momento emblemático: “Um novo acordo climático global será negociado na 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP 21), em Paris, no fim deste ano. Com esse cenário promissor, é de total importância o papel do setor empresarial no desenvolvimento de novas tecnologias e no apoio a ações inovadoras e mobilizadoras”.
“O Brasil é um dos poucos países onde empresas e governos se juntaram em busca de soluções viáveis para as mudanças climáticas e há consenso da necessidade de mantermos florestas e agricultura equilibradas”, manifestou Roberto Waack, da Amata, em nome da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Outros pronunciamentos destacaram a importância histórica da solenidade, que envolveu, pela primeira vez, o responsável federal pelas finanças do país.
“Em 2009, já tivemos a presença da ministra do Meio Ambiente na entrega dos compromissos. Contarmos agora também com Joaquim Levy, ministro da Fazenda, mostra que o Brasil acredita na construção da sustentabilidade de seus processos produtivos”, comentou Ricardo Vescovi, presidente da Samarco Mineração, que, ao lado de outros CEOs de empresas integrantes do Fórum Clima, participou do primeiro painel do evento, mediado pela jornalista Daniela Chiaretti, do jornal Valor Econômico.
O executivo destacou ainda que falta agora garantir a atenção do representante federal da área social. “Dessa forma, alcançaremos o triple bottom line”, disse, em referência ao tripé básico do desenvolvimento sustentável: ações socialmente justas, ecologicamente corretas e economicamente viáveis. “É importante que a sociedade se engaje de forma ativa nas mudanças em curso. Sem a sociedade, não vamos a lugar algum”.
Indagados pela mediadora do debate se, mesmo em face da presente crise econômica, é viável investir em mudanças nas cadeias produtivas, os dirigentes convidados foram unânimes em responder afirmativamente. “Compromissos pela sustentabilidade são para longo prazo”, afirmou Marcelo Araujo, do Grupo Libra. “A única forma de obtermos resultados efetivos é internalizar o conceito de sustentabilidade no modelo de gestão”, declarou Guilherme Loureiro, do Walmart Brasil.
Os empresários seguiram dando exemplos de novas práticas adotadas e os retornos obtidos. “Estamos pesquisando a utilização de algas que se alimentam de CO2 para capturar as emissões de nossas fábricas de cimento e outros processos de inovação”, informou José Édison Franco, da InterCement. “Nossas metas são para, no mínimo 10 anos, acompanhadas mês a mês.” A empresa também planeja aumentar em até 43% a participação de fontes alternativas aos combustíveis fósseis, como pneus e lixo urbano, na queima de suas caldeiras de cozimento do cimento.
“O potencial brasileiro de fortalecer e disseminar novos modelos de negócios é imenso” afirmou Roberto Lima, da Natura. “Para dar só um exemplo, a árvore chamada ucuuba leva nove anos para se tornar adulta, fase em que era cortada e vendida a R$ 9 para ser transformada em cabos de vassoura. Hoje, ela permanece de pé, pois seus frutos rendem quase sete vezes mais às comunidades que os colhem em Belém do Pará para fornecer à nossa fábrica. Nossas pesquisas descobriram que a semente da ucuuba tem alto poder hidratante”, acrescentou.
“Em cinco anos, alcançaremos grandes mudanças. A melhor turbina eólica já é fabricada aqui, em Sorocaba (SP). O Brasil tem condições de, em breve, ser fornecedor para a América Latina de equipamentos geradores de energia limpa”, afirmou Wilson Ferreira Júnior, da CPFL Energia.
Os compromissos e a busca voluntária pelas novas práticas são vistos com otimismo, mas também com pragmatismo. As empresas engajadas lembraram que apostam na regulação global do mercado, com taxação para quem produzir sem minimizar os poluentes e incentivos para os que o fizerem. “Mesmo sem essa garantia, as companhias brasileiras reportaram, em 2014, benefícios na ordem de R$ 118 milhões alcançados por medidas de redução de emissões”, observou Antônio Castro, do CDP, iniciativa de coleta de dados que orienta 822 investidores mundiais, responsáveis por U$ 92 trilhões em ativos financeiros.
Cenário global
“Precisamos reconhecer o que temos de bom para chegarmos a uma meta realista e eficiente”, declarou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao abrir o segundo painel, que ele dividiu com a ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, com a mediação do jornalista André Trigueiro da Globo News. “Temos vantagens comparativas, como nossas florestas, tanto nativas como comerciais. Estamos indo na direção certa”, continuou Levy, que citou a reprecificação de energia e combustível como uma das medidas em curso.
O Ministério da Fazenda está engajado nos cálculos para amparar a definição de metas de redução na emissão de poluentes que possam ser confirmadas pelo Brasil, na próxima reunião das partes do Acordo Climático das Organizações Unidas, que ocorrerá de 30 de novembro a 11 de dezembro de 2015. “Participam desse esforço também os ministérios da Agricultura, de Minas e Energia, do Planejamento e das Relações Exteriores, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente”, completou a ministra Izabella Teixeira, lembrando que o Brasil é o país que mais reduziu suas emissões no planeta, graças à diminuição de desmatamentos. “E fizemos isso de forma voluntária, pois o acordo não coloca metas mandatórias aos países emergentes” disse a ministra.
Izabella declarou que existe uma forte expectativa de que o Brasil tenha um papel de protagonista no encontro de Paris. “Não haverá protagonismo, mas aliança. Esse é o século da aliança e não mais de um único país liderando o processo. Estamos em busca de consenso”, esclareceu ela.
Levy destacou os leilões para contratação de energia solar e eólica como um dos passos importantes na direção de uma economia de baixo carbono. “Há maneiras de usar instrumentos públicos para incentivar a inovação e a sustentabilidade das ações humanas. Queremos planejar com visão ampla”, afirmou.
Para o ministro, a busca por novos modos de produção poderá servir, inclusive, para criar riquezas em áreas necessitadas do país, como as áridas, que reúnem condições ideais para gerar energias limpas. “Para coisa boa não faltam recursos”, finalizou, ao ser indagado sobre incentivos, estímulos e créditos para iniciativas que promovam soluções para os desafios ambientais da atualidade.
Confira a seguir a lista das empresas que até o momento firmaram os nove compromissos da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudança do Clima – 2015. O documento também inclui quatro propostas ao governo brasileiro, no âmbito internacional, e cinco no nacional.
Empresas e organizações signatárias da
Carta Aberta ao Brasil sobre Mudança do Clima – 2015
B2M
Braga Nascimento e Zilio Advogados Associados
Braskem
Caderno 360
Carrefour Comércio e Indústria
CBPak Tecnologia
Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc)
Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM)
CM – Consultoria em Negócios Sustentáveis
Cone – Consultoria e Planejamento
COP 21 em Rede
CPFL Energia
CPFL Renováveis
Ecophalt – Cidadania e Sustentabilidade
Empresa de Gestão Ambiental e Incentivo Acadêmico
Fundação Amazonas Sustentável
Fundação Iguassu
GranBio Investimentos
Grupo Libra
Instituto de Desenvolvimento Sustentável (Idest)
InterCement Brasil
InterCement Participações
Limpgas Tecnologia
Natura Cosméticos
Nextrans Transportes
Nogueira, Elias, Laskowski e Matias Advogados
Odebrecht Agroindustrial
Odebrecht Ambiental
Odebrecht Energia Renovável
Odebrecht Óleo e Gás
Odebrecht Realizações Imobiliárias
Associação Comunitária de Corpo de Bombeiro
Organics News Brasil
Peopleability
Pinheiro Pedro Advogados
RL Higiene
Samarco Mineração
Schneider Electric Brasil
Shell Brasil Petróleo
Solabia Biotecnológica
Solua Comercial
Symbiosis Investimentos e Participações
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Vicejo Eventos
Walmart Brasil
Waycarbon
(Instituto Ethos/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Instituto Ethos.