Novas lideranças devem levar capacidade de ser empático para o dia a dia
Vivemos um confronto de duas visões de mundo: a primeira, que predominou desde o século XVI, é a da conquista – de terras, de povos, de poder. Esse modelo trouxe grandes benefícios, mas simultaneamente criou armas de morte e um desarranjo na natureza, cujo maior expoente são as mudanças climáticas, que podem inviabilizar nossa vida na Terra. Esse recado foi dado pelo teólogo Leonardo Boff, no painel Empatia e Cuidado: paradigmas da nova civilização, que abriu, nesta sexta-feira, o Fórum de Empreendedorismo Social na Nova Economia, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e foi moderado pela jornalista Renata Ceribelli.
Acompanhado do filósofo e educador colombiano Bernardo Toro e da socióloga Anamaria Schindler, Boff defendeu que passamos por uma crise de civilização que deve resgatar nas pessoas a preocupação com o cuidado, com o outro e com a natureza. O motor para isso é a empatia, que é “a capacidade que temos de nos colocar no lugar do outro e tentar sentir o que o outro está sentindo. Nosso desafio é como fazer para que as atuais lideranças levem essa capacidade de ser empático para o dia a dia”, disse Schindler.
Segundo Bernardo Toro, conceitos como empatia e solidariedade não “têm sex appeal, pois exigem uma mudança interior, passar de uma inteligência guerreira para a inteligência altruísta”. Um dos caminhos para trilhar esse caminho, para Anamaria, é o trabalho colaborativo. Para os palestrantes, as redes sociais facilitam esse processo e os próximos líderes terão que saber ouvir a sociedade. “As redes sociais estabeleceram relações horizontais onde todos conversam. É uma nova forma de comunicação que envolve todo mundo e permite tudo. E pode ser usada para as mudanças necessárias”, disse Boff.
Essa nova realidade trouxe um novo poder a todos os segmentos e a Rio+20 é um exemplo dessa mudança, segundo Leonardo Boff. Enquanto os representantes dos governos são mais resignados, os empresários estão aceitando que os recursos são finitos e assumindo responsabilidades, assim como a sociedade civil, através da Cúpula dos Povos, traz esperança e novas formas de relações, como a economia solidária. “É assim que vamos construir o futuro que queremos”, afirmou.
Bernardo Toro trouxe ainda o papel da família na construção da empatia e explicou que a pedagogia do cuidado parte do vínculo emocional trazido pelo cuidado familiar desde a infância. “Temos política para tudo, mas na América Latina, não temos políticas para a família. Cuidar dos filhos, estar com eles e ensiná-los que tudo o que fazem tem consequência nos outros é fundamental”.
* Maura Campanili é jornalista e trabalha no NUCA-Núcleo de Conteúdos Ambientais.