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“A segurança das mulheres dá segurança à nação”

Gumbonzvanda é candidata a diretora-executiva da ONU Mulheres. Foto: Ravi Kanth Devarakonda/IPS

Genebra, 9/5/2012 – Nyaradzayi Gumbonzvanda, advogada de direitos humanos e secretária-geral da rede internacional de mulheres por justiça social World YWCA, sabe o que é lutar contra a fome e a violência. Ela mesma procede de uma família pobre da aldeia de Magaya, no Zimbábue. Gumbonzvanda passou grande parte de sua vida tentando melhorar a das mulheres que tiveram menos sorte que ela. Agora, é candidata a diretora-executiva da ONU Mulheres, posto ocupado até março pela ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet.

Em entrevista à IPS em Genebra, Gumbonzvanda afirmou que, além de procurar crescimento econômico, os países devem gerar “oportunidades para criar riqueza em nível das famílias e atender temas estruturais como violência e desigualdade que as mulheres continuam experimentando quase diariamente”. Gumbonzvanda aplaudiu o desenvolvimento obtido pelo continente africano, embora assinalando que é necessário maior empoderamento social para mudar a vida das mulheres. “Vejo que as mulheres avançam em vários setores em todos os países africanos, mas é necessário empoderamento econômico e social”, ressaltou.

IPS: Comecemos com os crescentes índices de violações e violência doméstica. O quanto este problema é grave? É universal?

NYARADZAYI GUMBONZVANDA: Creio que é um dos maiores problemas que mulheres e meninas enfrentam no mundo hoje. Vejo a violência contra as mulheres como uma manifestação de desigualdades, de falta de empoderamento e de exclusão. A falta de empoderamento social, o fato de as mulheres serem consideradas cidadãs de segunda classe sem voz nem direitos sobre seus próprios corpos, a dolorosa realidade da pobreza e da violência de gênero, e o tráfico de meninas para exploração sexual são todos temas que devem ser encarados. É importante destacar que trabalhamos na prevenção da violência contra as mulheres, incluindo a doméstica, as agressões em situações de conflito e o abuso sexual. A prevenção é fundamental, e deve ser acompanhada de políticas fortes em coordenação com diferentes atores sociais dentro dos países e em nível internacional.

IPS: Nos últimos 30 anos houve grandes mudanças na economia e na cultura do mundo, principalmente graças à internet e à globalização. Que impacto isto teve nas mulheres?

NG: Creio que nos últimos 30 anos aconteceram várias coisas. Estive em Pequim em 1995, para a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, e posso dizer que há um verdadeiro trabalho sobre as normas internacionais que têm a ver com as mulheres e os direitos humanos, e esse trabalho está progredindo. Agora temos convenções e tratados em nível internacional, e inclusive regional, como o Plano de Ação para as Mulheres (sobre direitos de saúde reprodutiva e sexual) de Maputo. Inclusive em nível normativo vemos muito trabalho e progressos. Contudo, ainda devem ser resolvidos problemas estruturais que contribuem para a violência contra as mulheres.

IPS: Os governos fazem o necessário para enfrentar estes desafios?

NG: Não o suficiente. Creio que os governos devem definir suas prioridades e fazer mais quando apresentam seus orçamentos. A maior segurança de qualquer nação é quando suas mães e filhas estão seguras, quando há alimento na mesa e água perto, quando há escolas funcionando e possibilidades de obter emprego. Essa é a nação mais segura. Eu exortaria nossos governos a repensarem a relação entre o gasto militar e o investimento em serviços sociais e básicos. Comprando apenas um helicóptero militar a menos, um governo pode construir dez escolas. Esse é o maior desafio para os governos de todo o mundo.

IPS: Na África houve grandes progressos no desenvolvimento e empoderamento das mulheres, o que mais é preciso fazer por elas nesse continente?

NG: Este ano a União Africana comemora seu 50º aniversário, e as mulheres do continente estão muito envolvidas no processo de descolonização. Estiveram nas trincheiras, trabalhando por uma nova África. Comemoramos que Nkosazana Dlamini-Zuma se converteu na primeira mulher a dirigir a União Africana, pois é bom para o continente. Também vemos países como Ruanda e outros que têm significativos números de mulheres em postos de tomada de decisões. No entanto, ainda temos que resolver os problemas que geram conflitos. Enquanto os países continuarem em situações de conflito, e sempre que houver violência, haverá retrocessos. O continente, da Cidade do Cabo até Cairo, é muito rico, e por isso temos que detectar em quais grandes setores, como mineração, transporte e agricultura, as mulheres podem se envolver mais.

IPS: A tecnologia desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do continente. Por exemplo, são usados serviços de mensagens SMS para informar as mães sobra a vacinação de seus filhos. Que papel isto representa na vida dos africanos?

NG: Consideramos que a telefonia móvel tem um grande potencial na África. Na Tanzânia é usada para serviços sobre planejamento familiar ou para a imunização de crianças. Também foram introduzidos serviços bancários por telefone celular no Quênia e Zimbábue, e estas são poderosas formas de empoderar as comunidades. Envolverde/IPS