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Assédio industrial ameaça Grande Barreira de Corais

A Grande Barreira de Corais é o lar de mais de 1.500 espécies de peixes. Foto: Mauricio Ramos/IPS

 

Sidney, Austrália, 16/5/2013 – A mineração, o desenvolvimento portuário e a perda de qualidade da água em toda a costa nordeste da Austrália colocam em risco o futuro da Grande Barreira de Corais, importante centro de atração turística declarado Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Ciência, a Educação e a Cultura (Unesco).

A falta de “um compromisso firme e claro” tanto dos governos federal australiano quanto do Estado de Queensland para limitar o desenvolvimento de infraestrutura perto do arrecife “representa um perigo potencial para o excepcional valor universal” do lugar. Isto consta de um informe de avaliação feito em conjunto pela Unesco e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

A Grande Barreira de Corais inclui uma área de 348 mil quilômetros quadrados, cerca de 2.500 arrecifes individuais e mais de 900 ilhas. É o lar de colônias reprodutoras de aves, tartarugas marinhas, golfinhos de barbatanas chatas australianos e de baleias jubarte. O auge dos recursos minerais da Austrália, impulsionado pela crescente demanda de carvão dos mercados asiáticos, está atraindo milhares de milhões dólares em investimentos corporativos. Especialistas avaliam o possível impacto ambiental de aproximadamente 43 projetos industriais neste gigantesco ecossistema.

“O governo australiano, que espera aprovar várias grandes propostas de desenvolvimento nas próximas semanas e meses, corre um grande risco, porque poderia obrigar o Comitê do Patrimônio Mundial a colocar a Grande Barreira em sua lista da vergonha”, disse à IPS o porta-voz do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Richard Leck. Ele se referia à lista de Patrimônio da Humanidade em perigo, elaborada pelo Comitê. Desde 2011, Unesco e UICN expressam grande preocupação pelo cuidado com essa área.

“Claramente, a Austrália ignora as recomendações. O governo federal continua aprovando novos projetos de desenvolvimento sem um compromisso de longo prazo na restrição da industrialização. O governo de Queensland também debilitou algumas das leis que protegem os arrecifes do desenvolvimento e do desmonte de terras”, advertiu Leck à IPS.

O WWF estima que a limpeza de milhares de hectares de vegetação ao longo dos rios que levam ao arrecife e o lançamento dos restos da dragagem nas águas costeiras terão significativo impacto no sítio protegido, que contém 400 tipos diferentes de corais, 1.500 espécies de peixes, quatro mil tipos de moluscos, cerca de 240 espécies de aves e várias classes de esponjas do mar, anêmonas, gusanos marinhos e crustáceos. As águas do arrecife também fornecem alimentos a espécies ameaçadas e abriga uma das maiores populações de dugongos.

“O desenvolvimento de infraestrutura portuária e o crescente movimento de navios requerem a dragagem de milhões de toneladas de terra do leito marinho, incluindo ervas que servem de alimento a tartarugas, dugongos e outras formas de vida”, alertou a diretora da Campanha pela Grande Barreira de Corais da Sociedades Australiana de Conservação Marinha, Felicity Wishart. “Isto pode prejudicar ou destruir mangues vitais, zonas de reprodução de peixes e outros habitat costeiros”, explicou à IPS.

Ambientalistas também temem que o aumento do movimento de embarcações agrave o risco de vazamento de petróleo. Aproximadamente quatro mil navios passam pela Grande Barreira de Corais a cada ano, e espera-se que esse número aumente para seis mil até 2020.

Para proteger a parte mais saudável e antiga do arrecife das ameaças humanas, especialmente da criação de portos e de projetos de mineração, a The Wilderness Society deseja que também seja considerada Patrimônio da Humanidade a Península do Cabo York, localizada no extremo norte de Queensland. “Isto bloquearia o projeto de desenvolvimento mineiro em Wongai da Balkanu Corporation, que abriria novas áreas para o desenvolvimento, e o de exploração da mina de bauxita no sul de Embley, da empresa Rio Tinto”, disse à IPS a ativista dessa organização, Gavan McFadzean.

Projeções do Escritório de Recursos e Economia Energética da Austrália indicam que as exportações de carvão deste país praticamente duplicarão em pouco mais de uma década. A Austrália já é o maior exportador mundial desse produto. Nos últimos dez anos, os embarques australianos de carvão cresceram mais de 50%, dos quais 88% se dirigiram a grandes economias asiáticas como Japão, China, Coreia do Sul, Índia e Taiwan.

Georgina Woods, do Greenpeace, resumiu a situação com a seguinte pergunta: “Sacrificaremos a Grande Barreira de Corais e aceitaremos a perigosa mudança climática como o custo inevitável de apoiar uma única indústria?”. Uma pesquisa do Greenpeace estima que a exploração de carvão na Austrália seja a segunda maior indústria de combustíveis fósseis das 14 que estão levando o planeta para além dos limites internacionalmente acordados de aquecimento climático.

Os arrecifes de corais do mundo têm poucas probabilidades de sobrevivência se as temperaturas globais aumentarem 1,5 grau. “Agora mesmo, caminhamos firme para um aquecimento de quatro graus”, afirmou Woods à IPS. O diretor-executivo do australiano Instituto do Clima, John Connor, explicou à IPS que a mudança climática ameaça a Grande Barreira de Corais, tanto pela acidificação do oceano quanto pelas crescentes tempestades. Porém, destacou que o governo da Austrália deu importantes passos para reduzir suas emissões de gases-estufa, adotando importantes leis sobre as liberações de carbono. Envolverde/IPS