Comilla, Bangladesh, 29/8/2013 – Shumi Begum, de 24 anos e grávida de sete meses, viajou 220 quilômetros desde sua aldeia até um centro de saúde junto com sua avó paterna em busca de pessoal qualificado para a assistir ao dar à luz. “Preferimos aqui pela boa reputação dos serviços. Nossa família já deixou partos em suas mãos e por motivos de segurança penso que este centro continua sendo a melhor opção”, disse à IPS sua avó, Hosne-Ara, enquanto esperava em uma maternidade comunitária em Jafargonj, no distrito de Comilla, a 55 quilômetros de Daca.
Popularmente conhecido como Mayer Hashi (mãe sorridente), o centro de saúde faz parte de um projeto supervisionado pela EngenderHealth e financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Na lotada maternidade de dois andares, Begum olhou ansiosa para uma das parteiras para saber se era sua vez de consultar a especialista conhecida como “visitante de bem-estar familiar”.
Nesta última década, o governo investiu em um programa de saúde, nutrição e população com apoio de vários sócios estrangeiros para o desenvolvimento. O plano adotou uma estratégia nacional para a saúde materna centrado na atenção obstétrica de emergência para reduzir a mortalidade das parturientes, concentrando-se especialmente na detecção precoce e no envio aos centros adequados em caso de complicação, bem como na melhoria da qualidade do atendimento.
Um estudo feito com a ajuda de vários sócios para o desenvolvimento concluiu que a mortalidade materna em Bangladesh caiu de 322 mortos em cem mil nascidos vivos, em 2001, para 194, em 2010. Apesar da melhoria no atendimento materno em seu povoado natal, a avó de Begum não quis correr riscos durante o primeiro parto da neta.
Independente de os centros de saúde estatais terem melhorado em geral, o de Jafargonj é considerado melhor do que os demais. Os que atendem ali no serviço de bem-estar familiar são populares por seus esforços em oferecer cuidados sem riscos durante o parto. O centro também é “amigável com as mulheres”, já que dá especial atenção às necessidades pessoais das pacientes.
A longa viagem até Jafargonj agora é menos perigosa porque também melhoraram as estradas. Em seus 13 anos de profissão, Kawser Hasina Pervin, visitante de bem-estar familiar em Jafargonj, foi duas vezes premiada pelo primeiro-ministro por seu destacado trabalho profissional. Pervin contou à IPS que tratam entre 20 e 25 pacientes diariamente e que, nos últimos cinco anos, foi registrado um aumento na quantidade de grávidas que visitam o centro. “Os motivos óbvios são a melhora no atendimento e na atenção individual”, destacou.
Uma clínica privada custaria pelo menos US$ 400. Em um centro de saúde estatal teria que gastar apenas com remédios, entre US$ 15 e US$ 20. O problema é que nos centros do governo costuma não haver medicamentos disponíveis. “Em geral, sogras e avós ainda preferem os partos em casa, mas as campanhas de conscientização e com uma educação maior das meninas, essa tendência está mudando”, disse à IPS Anjali Bala Das, provedora de saúde no centro que realiza visitas regulares à comunidade.
Após “anos promovendo a maternidade segura, o gelo gradualmente começa a derreter”, pontuou Das, que trabalhou durante duas décadas como promotora de planejamento familiar. “Os idosos começam a reconhecer os benefícios da moderna atenção médica em lugar de seguir os mitos tradicionais”, afirmou.
Sabrina Begum, de 22 anos, contou que “minha sogra é uma pessoa muito rígida e muito religiosa. Nega-se a permitir que médicos homens façam o parto, por isso sempre preferiu dar à luz em sua casa”. Mas agora sua sogra vai ao centro de Jafargonj para consultar os profissionais sobre um parto mais seguro para sua nora. E isto, depois de ter assistido vários programas de conscientização em sua aldeia de Ganganagar, em Comilla.
Em Bangladesh, as gestantes raramente decidem onde dar à luz. Frequentemente, a má distribuição e a gravidez precoce levam a partos complicados. Isto causa cerca de 12 mil mortes por ano. Em seu informe de 2011, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) disse que, embora tenha caído a mortalidade materna em Bangladesh, só metade das mães recebem cuidados pré-natais de pessoal qualificado. Segundo o estudo, a atenção à saúde está ligada à riqueza da família e aos antecedentes em educação de seus integrantes.
“Estamos trabalhando com o governo para promover partos mais seguros desenvolvendo continuamente as habilidades do grupo profissional composto por pessoas como os provedores de saúde, os líderes comunitários e religiosos”, explicou à IPS o médico Abu Jamil Faisel, representante da EngenderHealth no país. “A ideia é aumentar o acesso a serviços de atenção à saúde materna de qualidade sem custo”, enfatizou. Envolverde/IPS