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Crianças palestinas e judias brincam a sério

Meninos palestinos e israelenses brincam juntos em um programa para incentivar o intercâmbio cultural. Foto: Rivanna Miller/IPS

 

Jerusalém, Israel, 31/8/2012 – Em uma tarde ensolarada de verão, meninas e meninos começa a chegar com seus pais a um parque perto de Ein Rafa, um povoado palestino ao sul de Jerusalém. Os que falam árabe se reúnem de um lado, os que falam hebreu de outro. Logo aparece uma bola e todos se misturam em um jogo animado. Os adultos estendem suas toalhas no chão e por cima colocam comida. É um piquenique promissor, com brincadeiras, alimento e companheirismo.

Os alunos das escolas participantes se reúnem para realizar diversas atividades várias vezes ao ano no contexto de um programa intercultural criado pelo não governamental Centro para a Criatividade em Educação e Patrimônio Cultural (CCECH), de Jerusalém. “Fazer parte disto marcou todos os aspectos da minha vida”, disse Ahmed Barhum, de 26 anos, que participou dos encontros de confraternização quando criança e agora é facilitador do programa. “Graças ao folclore, às brincadeiras e a outras coisas podemos conhecer nossas respectivas culturas, e isto é o mais apreciado”, contou à IPS.

Para Simon Lichman, fundador e diretor do programa, são pessoas como Ahmed que o animam a continuar. “Ver como Ahmed e outros participantes do programa voltam e fazem parte de nossa equipe, e dedicam tempo e energia a algo em que acreditam, é emocionante”, afirmou. Lichman, que nasceu na Grã-Bretanha e mora em Jerusalém, fundou o CCECH em 1991. Desde então está à frente da iniciativa junto com Rivanna Miller e outras pessoas de origem árabe e judia.

O objetivo é simples: integrar escolas árabes e judias, tanto de Jerusalém oriental quanto ocidental, e forjar relações duradouras. Alunos de quarta a sexta séries participam durante pelo menos dois anos das mesmas reuniões, nas quais realizam uma série de atividades conjuntas. O programa inclui refeição e brincadeiras tradicionais. E também conversas sobre religião e histórias familiares, e além de intercâmbio de canções e danças. Os alunos entrevistam pais e avós sobre suas tradições culturais e religiosas, e levam informação e exemplos para a sala da aula.

Contudo, a falta de recursos é um fator limitador. A organização recebe fundos de várias fundações e embaixadas, bem como de comunidades cristãs e judias que procuram promover a coexistência e interação interconfessional. O apoio que recebem permite que trabalhem com 500 meninos e meninas de cinco escolas. “O que digo aos contribuintes é que para cada aluno que termina o programa, adquirindo compreensão e compaixão, diminui a possibilidade de que recorra à violência”, enfatizou Lichman.

A população palestina tende a ser mais cautelosa diante das iniciativas de “coexistência” porque considera que beneficiam a ocupação israelense. Entretanto, Lichman explica que seus “sócios palestinos não têm essa opinião, e consideram que somente a compreensão e a comunicação podem favorecer as duas partes”. Acrescenta que o orgulho pelo folclore familiar, especialmente as tradições culinárias, são fundamentais para compreender a cultura no Oriente Médio. “Começamos por aí, onde encontramos uma base comum. Mas a religião e a história da família também são importantes e nos concentramos nisso na última etapa do programa”, destacou.

Depois das duas primeiras fazes de jogos e comida, na terceira os grupos mistos visitam uma sinagoga e uma mesquita. Um rabino explica o judaísmo e um imã apresenta aos ouvintes os preceitos do Islã. Mesmo que as crianças não consigam recordar todos os detalhes das lições sobre religião, são transformadas pela experiência, assegura Lichman, destacando que outro aspecto importante do programa é que seu enfoque chama a atenção de toda a comunidade.

Dorian Levin, uma judia de Jerusalém que também fez parte do programa como aluna, integra o pessoal do CCECH. Os resultados, segundo ela, são significativos. “Também é muito duro. As realidades são difíceis. Comunidades inteiras ouviram durante décadas que não se devia confiar na outra. Será preciso mais tempo para forjar relações mais profundas”, acrescentou. Envolverde/IPS