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Homens das Ilhas Salomão aprendem a respeitar as mulheres

O pastor Michael Ramo busca conscientizar os homens para que ponham fim à violência contra as mulheres nas Ilhas Salomão. Foto: Catherine Wilson/IPS
O pastor Michael Ramo busca conscientizar os homens para que ponham fim à violência contra as mulheres nas Ilhas Salomão. Foto: Catherine Wilson/IPS

 

Honiara, Ilhas Salomão, 23/10/2013 – Duas em cada três das 252 mil mulheres que se estima vivem nas Ilhas Salomão, no sudoeste do Oceano Pacífico, alguma vez sofreram abusos físicos e sexuais da parte de seus companheiros. Mas agora há homens dispostos a atuar como agentes de mudança e pôr fim a essa violência. “É hora de os homens fazerem sua parte para que as mulheres sejam tratadas como seres humanos importantes na família, na comunidade e na nação em seu conjunto”, disse à IPS o pastor protestante Michael Ramo.

Este ano, Ramo, do assentamento de Feraladoa, de aproximadamente cinco mil habitantes, em Honiara, capital das Ilhas Salomão, participou do programa Homens Contrários à Violência Contra as Mulheres (Mavaw), da organização não governamental para o desenvolvimento Live and Learn (Viva e Aprenda), em Honiara. No projeto, de 18 meses, financiado por doadores, participaram cerca de 50 homens de 27 assentamentos informais, onde vivem aproximadamente 35% dos 64.600 habitantes da cidade.

Segundo Haikiu Baiabe, diretor da Live and Learn para as Ilhas Salomão, a iniciativa procurou “aproximar-se dos homens do lugar e conseguir que assumissem a liderança”. Estes, acrescentou, admitiram que a violência contra as mulheres é um problema sério. O projeto incentivou o diálogo construtivo dando-lhes “espaço onde puderam se expressar livremente”.

O programa Mavaw foi projetado por homens e mulheres das comunidades envolvidas, que contribuíram com sua compreensão dos principais fatores que levam à violência. A Live and Learn trabalhou com os participantes sobre os quatro principais assuntos identificados: manejo das finanças, entendimento dos valores e das responsabilidades familiares, abordagem da violência nas comunidades e empoderamento dos indivíduos por meio da orientação pedagógica.

Numerosos estudos identificam uma forte ligação entre a desigualdade de gênero e os estereótipos predominantes sobre masculinidade. Entre eles se destaca o informe deste ano da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a violência contra as mulheres na Ásia Pacífico. Entre 81% e 98% das três mil mulheres e dez mil homens ouvidos para esse trabalho concordaram com o princípio da igualdade de gênero, mas não necessariamente no tocante às responsabilidades e aos papéis específicos. Mais de 70% disseram acreditar que “uma mulher deve obedecer seu marido”.

Pionie Boso, encarregada de políticas no programa Acabar com a Violência Contra as Mulheres, no Ministério de Assuntos de Mulheres, Juventude e Infância, disse que a brecha de gênero nas Ilhas Salomão está arraigada há várias gerações. Ainda predomina a ideia de que as mulheres possuem um status social inferior ao dos homens, e que seu papel está confinado à esfera doméstica, com baixa participação nas decisões públicas.

Boso também afirmou que há uma responsabilidade compartilhada no trabalho pela justiça social, e que dar participação aos homens “é uma parte crucial do processo”. É importante que, quando se integrem ao projeto, “admitam e entendam as experiências das mulheres como vítimas”, destacou.

Um estudo sobre saúde e segurança familiar nas Ilhas Salomão, realizado em 2008, concluiu que práticas socialmente aceitas, como a de pagar dote pela noiva e os maridos poderem castigar suas mulheres, contribuem para a violência doméstica. Segundo Baiabe, as comunidades ainda não entendem totalmente o amplo conceito da violência, que inclui abuso emocional, controle psicológico e privação econômica.

Segundo o informe da ONU, os homens da região apresentam altos níveis de estresse e depressão relacionados com o trabalho. Antes da iniciativa Mavaw, Ramo considerava que não tinha ferramentas suficientes para ajudar as pessoas que sofriam altos níveis de tensão. O programa “me deu muitas habilidades para ajudar cada homem estressado ou mesmo traumatizado, e isso me fortalece ao tratar com as pessoas e com a comunidade” em geral, explicou.

“Tomara que outros amigos possam participar, porque no meu nível há poucos que sabem como lidar com esse tipo de situação e com as habilidades para orientar essas pessoas”, pontuou Ramo. Ele ressaltou que os homens podem ajudar a deter e prevenir a violência de gênero intervindo nos incidentes, promovendo identidades masculinas não violentas e mudando a forma como manejam suas relações com as mulheres. Um homem tem que “ser sensível quando há um problema entre ele e sua esposa. Tem que ouvir. Todo marido precisa ouvir antes de mais nada, para lidar com a situação de modo seguro para a mulher”, acrescentou.

Como a violência doméstica é um problema herdado de geração em geração, o governo incluiu assuntos de gênero no currículo do curso secundário. Em Honiara, o Centro de Apoio à Família, que ajuda mulheres e crianças vítimas de violência, oferece painéis de sensibilização para jovens a partir dos 13 anos de idade, ensinando o motivo de a violência de gênero ser um crime e uma injustiça social, e como os homens podem se fazerem responsáveis em ajudar a solucionar problemas dentro das famílias.

Baiabe acrescentou que para romper o ciclo também se deve reforçar as responsabilidades da criação dos filhos e promover valores relativos ao cuidado dentro da família. Depois de concluído o Mawaw, e com o olhar voltado para a sustentabilidade, foram criados e registrados em dez assentamentos urbanos grupos de apoio comunitário dotados de recursos.

Entretanto, Ramo e Baiabe reconhecem que os homens de todo o país têm que se comprometer com o apoio a uma mudança social mais ampla, com objetivos de longo prazo. “Só tocamos a superfície das comunidades em Honiara. A violência é um problema enorme e este é apenas o início de uma viagem muito longa. Temos que apostar em uma participação maior da comunidade, em um alcance maior e em um impacto maior”, enfatizou Baiabe. Envolverde/IPS