Johannesburgo, África do Sul, 25/4/2013 – Karren, uma jovem mãe, que não quis dar seu sobrenome, sorri enquanto amamenta seu recém-nascido no Instituto de Saúde Reprodutiva e HIV da Universidade de Witwatersrand, nesta cidade. Karren recebe as orientações sobre como cuidar de seu bebê de uma enfermeira e logo desfrutará de seus frutos, como o primeiro sorriso e os primeiros passos de seu filho.
No entanto, cerca de três milhões de bebês morrem todos os anos em seu primeiro mês de vida por serem prematuros, por complicações no parto e por infecções, segundo a organização Save the Children. Para reverter a tendência, a África do Sul lançará o Plano Global de Ação para Recém-Nascidos, para diretamente reduzir a mortalidade neonatal.
Este país encabeça os esforços para promover o Método Mãe Canguru (MMC), uma intervenção de emergência que pode ser colocada em prática pelas mães, segundo Gary Darmstadt, diretor de saúde familiar da Fundação Bill & Melinda Gates. “Foi uma ideia que há alguns anos mudou o paradigma. Já não podemos ignorar os primeiros meses de vida, não há mais desculpas. Agora conhecemos uma série de intervenções simples que têm grande possibilidade de evitar as principais causas de morte em recém-nascidos”, afirmou Darmstadt à IPS.
O MMC é a prática de carregar o recém-nascido em contato direto com a pele. Pode começar no hospital e continuar em casa. Costuma facilitar a amamentação, reduzir o risco de infecções graves e mantê-lo quente, o que ajuda a reduzir pela metade a mortalidade de bebês prematuros. Essa prática é ensinada a Karren, mãe de primeira viagem. Os estudos indicam que, praticando o MMC com bebês prematuros, é possível salvar mais de 1.500 vidas por ano em todo o mundo.
Outra intervenção fundamental é o uso pré-natal de corticoides para ajudar a desenvolver os pulmões do bebê para que possa respirar ao nascer. Seu uso está generalizado nos países ricos, com incidência de 90% de cobertura nos casos indicados de mulheres com possibilidade de partos prematuros. Sendo utilizado nas nações de renda média e baixa pode salvar mais de mil recém-nascidos diariamente.
Darmstadt explicou que houve mudanças destacáveis no tocante à compreensão da mortalidade neonatal e dos métodos de prevenção, mas continuam morrendo recém-nascidos, representando 40% das mortes de menores de cinco anos. “A quantidade de recém-nascidos que morrem na África subsaariana aumentou nos últimos anos, ainda que a mortalidade materna e infantil tenha caído”, destacou.
A melhora na prevenção da transmissão do vírus da deficiência imunológica humana (HIV, causador da aids) de mãe para filho e da atenção pediátrica dos infectados conseguiu avanços significativos na redução da mortalidade de menores de cinco anos neste país. Contudo, os avanços enfrentam sistemas de saúde deficientes em países muito afetados por este problema, disse Lee Fairlie, pediatra do Wits Reproductive Health and HIV Institute (WRHI).
“A prevenção do HIV recebe mais atenção. A mortalidade infantil também diminuiu graças aos avanços na atenção a esta doença. Porém, é preciso maior concentração no apoio à alimentação pós-natal”, indicou Fairlie. Houve uma queda nas epidemias vinculadas ao HIV, a tuberculose, doenças crônicas e saúde mental, lesões e violência, e saúde materna, neonatal e infantil, ressaltou.
A África do Sul tem o maior programa de terapia antirretroviral do mundo e obteve êxitos na implantação de novas formas de diagnóstico da tuberculose, além de melhorar o tratamento e a integração do paciente. Entretanto, Vivian Black, do WRHI, disse à IPS que o sistema de saúde sul-africano ainda enfrenta vários desafios, como falta de pessoal e um ineficiente mecanismo de coleta de dados, que pode impedir o registro de alguns casos de mortes.
As autoridades de saúde foram negligentes na hora de coletar de forma adequada informação detalhada sobre casos de mortalidade materna que poderiam ajudar a desenhar políticas. “Algumas mulheres não conhecem seus direitos como pacientes. Temos que incentivá-las a conhecê-los”, enfatizou.
A África do Sul pode aprender sobre redução da mortalidade infantil com outros países da região, como Ruanda e Malawi, segundo Koki Agarwal, diretora do Programa Integrado de Saúde Materna e Infantil, uma associação de organizações que conta com fundos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Nesses países também foi criada a figura do trabalhador da saúde comunitário, que atende mulheres grávidas e registram informação sobre mortes, pré-natal, pós-natal e neonatais.
O sistema de saúde de Malawi é defendido especialmente pela presidente Joyce Banda, que “fez muito para oferecer assistência primária de saúde e apoiou o MMC”, pontuou Darmstadt. Ruanda também obteve grandes êxitos na redução da mortalidade materna e infantil. Graças a um programa que incentiva as ruandesas a receberem atenção pré-natal com pessoal qualificado e intervenções como o MMC, esse país está perto de cumprir as metas de reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna, incluídas nos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que vencem em 2015.
“O caso nutricional da mãe antes e durante a gravidez contribui para definir sua saúde, bem como a de seu bebê e as possibilidades de sobrevivência deste, ao nascer e depois”, apontou Agarwal, que, além de especialista em saúde materna e reprodutiva, também é vice-presidente da Jhiego, principal sócia do Programa Integrado de Saúde Materna e Infantil e associada à Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos.
Agarwal acrescentou que no Quênia o Programa Integrado de Saúde Materna e Infantil “guia a tarefa dos trabalhadores comunitários no sentido de incentivar as mulheres grávidas, e depois com seus bebês, a buscar atendimento médico”. Envolverde/IPS