Nova York, Estados Unidos, 17/10/2012 – As meninas e as mulheres podem ser poderosas agentes de mudança, mas sofrem de forma desproporcional os desastres climáticos devido aos tradicionais papéis de gênero, à discriminação e à pobreza.
A IPS conversou a esse respeito com a ativista filipina Josephine Castillo, da rede de organizações não governamentais Dampa, Haydee Rodríguez, presidente da União de Cooperativas de Mulheres Las Brumas, na localidade nicaraguense de Jinotega, e Violet Shivutse, fundadora da Comunidade de Trabalhadoras da Saúde Shibuye, do Quênia.
O Dia Internacional para a Redução de Desastres, celebrado no dia 13, se concentrou em “Mulheres e meninas a força (in)visível da resiliência”.
IPS: As três têm histórias diferentes e procedem de contextos diferentes. Poderiam explicar quais os principais desafios que enfrentam na hora de criar mecanismos de resiliência em suas comunidades?
Josephine Castillo: Sou uma das diretoras de minha associação de proprietárias, que tem 421 membros, todas donas de suas terras desde 1995, algo que conseguimos graças a um programa que realizamos com o governo nacional, que ofereceu hipotecas para que as mulheres comprassem suas casas. Temos programas que agrupam nossa comunidade em caso de desastre. Formamos equipes de resposta rápida em colaboração com o governo local, e nossos projetos de resiliência trabalham com a Huairou Comission e Groots International. Em agosto, as pessoas afetadas pelas inundações de Manila foram levadas para locais de recolocação, que resgatam famílias afetadas por inundações e terremotos. Os desastres naturais ocorrem mais frequentemente devido à mudança climática, e precisamos ter programas de adaptação climática, mitigação de desastres e resiliência.
Haydee Rodríguez: Presido a União de Cooperativas de Mulheres Las Brumas, em Jinotega, Nicarágua. Criamos 20 cooperativas de mulheres com cerca de 1.200 integrantes e outras 960 vinculadas de forma indireta. Nossa comunidade tem numerosas dificuldades com a mudança climática e a distribuição de terras. Mediante o trabalho de resiliência criamos programas para cultivar alimentos e plantas medicinais, e outros que objetivam melhorar o diálogo com o governo. Também conseguimos que as mulheres participassem de organizações partidárias. Nas próximas eleições, em 4 de novembro, haverá 14 ativistas comunitárias.
Violet Shiuvutse: Quando trabalhava em uma repartição que registrava agricultores, conheci muitas mulheres grávidas que sofreram problemas no parto. Muitas morreram, outras tiveram partos complicados após os quais o bebê morreu, ou elas ficaram com sequelas por muito tempo. O principal problema era ajudá-las e garantir-lhes o traslado para um hospital, pois a distância e o alto custo do serviço não as animava a fazê-lo. Então, comecei a pensar em como ajudar estas mulheres tão importantes para a comunidade. Foi assim que me envolvi no trabalho comunitário e em questões de saúde feminina. Os maiores problemas na comunidade incluem encontrar fundos contra o HIV/aids, segurança alimentar, os períodos de seca e as inundações. A água, o saneamento e a higiene também são grandes problemas para meninos e meninas nas escolas. Quando me dei conta de que os problemas aumentavam, reuni muitas mulheres para começar a trabalhar no desenvolvimento de nossa comunidade. Criamos a organização Comunidade de Trabalhadoras da Saúde Shibuye, que hoje conta com 2.036 ativistas.
IPS: Por que é importante se concentrar nas mulheres e meninas em matéria de redução de desastres?
JC: Porque são as mais prejudicadas em casos de desastres. Devem estar preparadas e treinadas. Não gostamos de dizer que somos vulneráveis, mas somos. Quando falamos de resiliência não nos referimos apenas aos desastres naturais. A falta de educação também significa desastre. Não podem encontrar trabalho se não têm capacitação. Por isso devemos participar de conferências internacionais, para mostrar nossas necessidades e lutar por nossos direitos.
HR: Trabalhar na resiliência de mulheres é importante porque precisamos cuidar de nossas vidas e da comunidade. Se não nos preocupamos com a água, por exemplo, não haverá cultivo e, sem produção, há fome.
VS: Acreditamos que a resiliência começa com as mulheres, já que são elas que se encarregam das comunidades rurais, porque os homens emigram para as cidades em busca de trabalho. Por isso, o impacto dos desastres para mulheres e meninas é grande. As incentivamos a trabalharem em grupos para que possam compreender como resistir. Resiliência é ter comida em suas casas, resiliência quer dizer armazenar alimentos, resiliência significa identificar recursos naturais e protegê-los. Também acreditamos que é importante as meninas aprenderem a importância da resiliência para que, quando forem adultas e mães, ajudem suas comunidades.
IPS: Como criam projetos eficazes em matéria de resiliência feminina?
JC: É importante colaborar e associar-se com autoridades locais, instituições e organizações em todo o mundo. Também é importante o diálogo entre atores locais. As organizações devem se concentrar em muitas questões porque, se trabalharem em apenas uma, podem esgotá-lo, e se esse assunto for resolvido não terão mais nada para trabalhar. Nossos programas surgem das pessoas, não dos contribuintes.
HR: Temos que impulsionar as mulheres a participarem dos processos de decisão e ocuparem cargos de liderança. As organizações devem ajudá-las e incentivar a inovação feminina oferecendo-lhes recursos. Além disso, as protagonistas devem compartilhar seu trabalho e seus projetos com outras comunidades para ajudar a propagar a resiliência.
VS: Primeiro temos que educá-las, porque do contrário não poderão participar de trabalhos comunitários. Em segundo lugar, fortalecê-las do ponto de vista político e econômico. Dar-lhes mais valor e igualdade no ambiente de trabalho. Envolverde/IPS