Sydney, Austrália, 3/5/2013 – Os coalas, emblemáticos marsupiais da Austrália outrora caçados quase à extinção por causa de suas peles macias, se esforçam para sobreviver em um habitat destruído pelas secas e incêndios, pelo desmatamento, a mineração e a agricultura, e pelo desenvolvimento urbano. Nos últimos 20 anos a população de coalas diminuiu de modo significativo, caindo 40% no Estado de Queensland e um terço em Nova Gales do Sul. A Australian Koala Foundation (AKF) estima que restam entre 45 mil e 90 mil destes animais em estado silvestre.
A redução de seu habitat e a mudança climática estão aumentando o risco de doenças, enquanto os ataques de cães selvagens e domésticos e os acidentes nas estradas se somam a uma longa lista de riscos que enfrentam estes mamíferos, que vivem nas árvores ao se movimentarem em busca de alimento. Estima-se que a cada ano cerca de quatro mil coalas são vítimas mortais de cães e automóveis.
Cientistas do clima alertam que as previsões de secas mais severas e prolongadas, de aumentos nas temperaturas e de incêndios florestais mais intensos representam riscos significativos para estes marsupiais endêmicos da Austrália. “Na última década experimentamos as temperaturas mais altas já registradas, seguidas por inundações e ciclones. Os coalas são muito suscetíveis ao calor e à desidratação”, disse à IPS Clive McAlpine, especialista da Universidade de Queensland.
“Nossos modelos climáticos concluíram que os coalas vivem em lugares onde há temperaturas máximas de 37,7 graus”, afirmou McAlpine. No ocidente de Queensland e Nova Gales do Sul, as temperaturas se mantiveram nessa média e inclusive chegaram a 40 graus durante vários dias consecutivos, o que as empurrou “para além de sua fronteira climática”.
O nome coala deriva de uma palavra aborígine que significa “não beber”, já que estas criaturas se alimentam das folhas dos eucaliptos, com as quais satisfazem boa parte de suas necessidades hídricas. Um único coala pode precisar consumir 500 gramas de folhas, ou mais, por dia para poder crescer e sobreviver. “As mudanças induzidas pelo clima não só reduziram sua fonte de alimento, como também a qualidade nutricional e o conteúdo de umidade das folhas. Há pouco foi documentada uma redução de 80% nas terras Mulga, em Queensland, após uma seca de dez anos”, informou McAlpine.
Segundo a AKF, proteger as florestas de eucalipto também é imperativo para reduzir as emissões de gases-estufa na Austrália. Em 1788, foram cortados quase 116 milhões de hectares de florestas dos coalas, enquanto os 41 milhões de hectares que restam estão ameaçados pelo avanço da agricultura, pelo desenvolvimento urbano e pela silvicultura insustentável. Enquanto coalas e seres humanos competem pelo espaço na costa oriental do país, os primeiros se aventuram fora dos limites de suas florestas de eucaliptos, frequentemente cruzando grandes estradas em busca de árvores ou de acasalamento.
“O contínuo ingresso de coalas em zonas urbanas os torna altamente vulneráveis a acidentes nas estradas e aos ataques de cães”, disse à IPS o subdiretor do Centro de Futuros Ambientais da Universidade de Griffith em Queensland, Darryl Jones. “Na região do sudeste de Queensland, de rápido desenvolvimento, a espécie diminuiu 60% na última década devido à combinação de doenças, ataques de cães e, principalmente, colisões com automóveis”, acrescentou.
Quando são obrigados a abandonar seu habitat, “os coalas usam todos os recursos que têm ao seu alcance, o que inclui árvores em quintais, árvores próximas de estradas. A retenção destes habitat marginais em áreas urbanas é importante para o movimento e a dispersão dos coalas”, pontuou Jones, principal autor de um estudo que busca ajudar estes animais a circularem de modo seguro.
O Serviço de Informação, Resgate e Educação sobre a Natureza (Wires) da Austrália resgatou um coala macho adulto que, confundido, estava no meio de uma floresta de pinheiros cortados em Nova Gales do Sul. Estava sentado em cima de uma pilha de lascas, enquanto caminhões e máquinas operavam nas proximidades. “Se os coalas são expulsos de seus lares como preparativo para atividades de desmatamento, é comum que logo regressem perambulando, e fiquem confusos ao não encontrar mais nada”, explicou a gerente-geral da Wires, Leanne Taylor.
Organizações de defesa dos coalas afirmam que o governo coloca os interesses mineiros acima do meio ambiente. Segundo um porta-voz da Wilderness Society, “o habitat dos coalas enfrenta a ameaça adicional de uma mineradora de carvão em expansão e das operações de extração de gás de leito de carvão, a morte de árvores decorrentes dos derrames desse gás, e um maior tráfego infraestrutural e veicular que o desenvolvimento da mineração acarreta. Isso coloca pressões extras sobre as já pequenas populações de coalas em Nova Gales do Sul e Queensland.
O governo da Austrália listou, no ano passado, o coala como “vulnerável” segundo a Lei de Proteção do Meio Ambiente e Conservação da Biodiversidade de 1999, por recomendação do Comitê Científico de Espécies Ameaçadas. “Demorou 17 anos de ativismo para se conseguir que fosse listado, e organizações conservacionistas como a nossa acreditam que em algumas regiões a espécie necessita ser listada como estando sob ameaça crítica”, declarou à IPS o ativista David Burgess, do Total Environment Centre, em Sydney.
Deborah Tabart, presidente da AKF, declarou à IPS que “a proteção não vai suficientemente longe, e o governo federal subestima o perigo que os coalas enfrentam. Precisamos com urgência de uma lei de proteção de coalas”. Existem outras duas ameaças mortais para estes mamíferos: a clamídia, uma doença sexualmente transmissível, e o retrovírus do coala, semelhante ao vírus humano HIV, causador da aids. Segundo algumas estimativas, cerca de metade dos coalas da Austrália estão infectados com uma cepa da clamídia, que causa infertilidade, cegueira, infecções respiratórias e urinárias e até a morte. Com expectativa de vida entre dez e 14 anos, os coalas costumam ter apenas uma cria por ano. Envolverde/IPS