Cidade do México, México, 8/5/2012 – O arquiteto Charles-Édouard Jeanneret-Gris (1887-1965), conhecido mundialmente como Le Corbusier, propôs em sua obra Cidade Radiante uma cidade semeada de arranha-céus, amplas ruas, concreto e automóveis, mas enfeitada com jardins. A capital mexicana parece seguir estes enunciados. As autoridades da Cidade do México favoreceram nos últimos anos o florescimento desses cogumelos imobiliários e de veículos de aço motorizados, uma política que ameaça sua sustentabilidade no longo prazo, afirmam especialistas.
Os quase nove milhões de moradores do Distrito Federal (DF), que somam 20 milhões quando adicionadas as zonas metropolitanas do vizinho Estado do México, enfrentam fenômenos como o bagunçado tráfego de veículos, a superexploração de aquíferos, o excesso de lixo e má qualidade do ar durante boa parte do ano.
“Não se pode falar de desenvolvimento sustentável se não forem combinadas a sustentabilidade social, a ambiental e a econômica. O DF é apontado como foco vermelho pela Organização das Nações Unidas (ONU), está mergulhado na poluição do ar e é necessário adotar medidas importantes”, disse à IPS o acadêmico Sergio Martínez, da Faculdade de Economia da Universidade Autônoma do México. “Os planos estão bem desenhados, mas não são aplicados”, alertou este especialista, que estuda temas urbanos comparados entre México e China.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente define como cidade sustentável aquela cujos êxitos em matéria de desenvolvimento social, econômico e físico existem para durar e que tenha uma oferta perdurável de recursos ambientais, dos quais depende seu desenvolvimento, mas apenas se o seu uso for sustentável.
O governo da capital mexicana executa, desde 2007, o chamado Plano Verde, um conjunto de estratégias baseadas em ideias como o fomento do transporte público e o impulso da participação da cidadania. Este programa surgiu de uma “consulta verde” aplicada nesse mesmo ano sobre temas vinculados ao transporte e ao manejo da água e do lixo. Porém, seus resultados são questionados por especialistas.
Para Arnold Ricalde, fundador da organização não governamental Organi-K, os problemas mais graves na cidade são a água, manejo dos resíduos sólidos e a mobilidade. “Os poços de água estão secando e cada vez é preciso perfurar mais fundo, o que nos preocupa. É um grave erro, como continuar trazendo água das regiões aldeãs. É preciso ter uma visão de bacia de longo prazo”, opinou Ricalde.
O fornecimento de água para a área metropolitana chega a 67 mil metros cúbicos por segundo, 43 mil dos quais extraídos do aquífero do Vale do México, já superexplorado, segundo indicadores da Comissão Nacional da Água. O consumo na Cidade do México, onde se recorre a 2.500 poços para obtenção de água, fica em 350 litros diários por habitante, um dos mais altos da região. Além disso, são gerados 431 metros cúbicos por segundo de esgoto, dos quais apenas 6% são tratados.
Somado a isso, a rede de fornecimento de água potável está repleta de vazamentos e a água da chuva é desperdiçada. “O aspecto ambiental continua subordinado aos interesses políticos e econômicos. No Plano Verde não estão contemplados aspectos sociais nem econômicos. Continua faltando a parte urbana, que precisa estar incluída em uma política sustentável”, destacou Martínez.
O governo de Marcelo Ebrard, do Partido da Revolução Democrática (PRD), promove o transporte urbano público, mas, ao mesmo tempo, constrói vias e pontes elevadas que incentivam o uso do veículo particular. Na cidade e na região metropolitana circulam 4,6 milhões de veículos por dia. Quanto ao transporte urbano de passageiros, funcionam quatro linhas que totalizam 95 quilômetros do Sistema de Corredores de Metrobus, um modelo de tráfego rápido que passa por um trilho confinado.
Além disso, está sendo construída uma rota do Sistema de Transporte Coletivo Metro, de 24 quilômetros, que ligará as regiões leste e oeste da capital mexicana, e que começará a operar este ano. O uso da bicicleta também está na mira das autoridades. Desde 2010 funciona o programa Ecobici, que tem em média 30 mil usuários por dia e consta de 90 estações com um total de 1.200 bicicletas.
“A política é contraditória. A mobilidade vai diminuindo e não se resolve com mais ruas. Mais ruas, mais tráfego. Seria necessário restringir o uso de veículos particulares. Não entendemos como se incentiva o transporte público e alternativo, mas são construídas pontes que incentivam o contrário”, questionou Ricalde.
Nos últimos anos, proliferou na capital do México a instalação de plantas ornamentais e vegetais em terraços de condomínios, e de jardins verticais, em geral nas paredes dos primeiros andares dos prédios. No primeiro caso, isto aponta para a agricultura urbana, uma modalidade que floresce há décadas no sul da cidade e que fornece verduras e legumes.
Depois do fechamento definitivo do Bordo Poniente, o maior lixão da capital, a gestão do lixo ficou mais complexa. No DF são geradas 12.600 toneladas de lixo sólido por dia. Desse total, três mil toneladas servem para a elaboração de compostagem, 800 são recicladas, entre garrafas plásticas, papelão e metais, e 600 destinam-se à obtenção de combustível alternativo, segundo a Secretaria de Obras e Serviços da capital.
Diante dessas circunstâncias, a sustentabilidade da capital mexicana é um dos maiores desafios do próximo prefeito, que será eleito em 1º de julho, assumindo em dezembro. No entanto, o tema tem uma presença virtualmente marginal nas plataformas políticas dos principais candidatos, Miguel Mancera, do PRD, e Beatriz Paredes, do opositor Partido Revolucionário Institucional.
“Nenhum dos candidatos vê a questão de forma integral, que é apenas lembrada”, enfatizou Ricalde, cuja organização executa projetos para criar a cidadania ambiental, usar “ecotecnias”, mudar hábitos de consumo, de reciclagem e de reflorestamento. “O caminho para a sustentabilidade começa por uma mudança cultural. É toda uma forma de vida que questiona o estilo de vida, que não se resolverá usando papel reciclado e um carro flex”, concluiu Martínez. Envolverde/IPS