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Os conflitos de consumir no exterior

Londres, Inglaterra, 18/7/2011 – Uma propriedade luxuosa no bairro londrino de Bath? Sim. Compras nas lojas de marca da rua Bond? Sim. Presença nos leilões de obras de arte? Sim. A lista de desejos dos turistas chineses na Grã-Bretanha é interminável e molda o mercado ao seu capricho. Enquanto os compradores chineses recebem tratamento preferencial em qualquer local de venda britânico, em seu próprio país aumentam as críticas ao turismo que gasta muito dinheiro no exterior prejudicando a economia nacional, impedindo o crescimento do consumo interno e privando os cofres chineses de aproximadamente US$ 50 bilhões.

“Não deixe que os estrangeiros fiquem com grandes quantidades de dinheiro da China!”, exigia um editorial publicado este mês no Economic Observer. O jornal sugeriu que a China deveria reduzir suas elevadas tarifas alfandegárias para mercadorias de luxo importadas a fim de reverter a saída de dinheiro e incentivar o consumo interno. Ao contrário dos Estados Unidos, onde o consumo representa cerca de 60% do produto interno bruto, no ano passado o consumo privado na China foi de apenas 37% do PIB.

Para Luo Xinmiao, que se considera uma “viciada em marcas”, comprar artigos de luxo é algo que somente se deve fazer em seus locais de origem. “Não confio nos Burberry e Gucci da China”, afirmou. “Duvido das lojas de marca em Pequim e Xangai, porque penso que muitos de seus produtos agora são feitos na China. E são muito mais caros do que em Londres”, acrescentou. Milhares de compradores chineses como Luo viajam às capitais europeias à caça de suas marcas favoritas.

No ano passado, cerca de 57 milhões de turistas chineses viajaram ao exterior e gastaram US$ 48 bilhões em cidades como Londres, Paris e Milão, segundo a Administração Nacional de Turismo. Em seus primeiros anos de viagens à Europa, os turistas chineses eram um pouco tímidos, optando por comprar perfumes na França, relógios na Suíça e sapatos na Itália. Mas agora seus hábitos de compra mudaram. São mais conscientes sobre o valor das marcas e mais ricos do que há alguns anos. E agora são vistos como os grandes gastadores, que compram com confiança e em grandes quantidades.

Segundo a Associação Mundial de Artigos de Luxo, no ano passado os consumidores chineses gastaram quatro vezes mais em artigos de marcas importantes em mercados estrangeiros do que no interno, principalmente devido às grandes diferenças de preços entre ambos. Por outro lado, embora possam ser muito mais caros do que antes, os bens de raiz também são um ponto forte em sua lista de aquisições. O aumento do valor do yuan nos últimos cinco anos deu aos consumidores da China continental mais poder aquisitivo. Isto, junto com a aguda depreciação da libra, converteu as propriedades britânicas em uma das opções favoritas em matéria de investimentos.

Mi Wenxia, estudante de arquitetura na Universidade de Bath, na Inglaterra, contou que seu pai lhe pediu para encontrar uma propriedade adequada para investir uma parte da fortuna da família, por isso percorre a cidade com corretores imobiliários. “Há mais estudantes chineses que vêm para este país, e meu pai acredita que comprar uma propriedade para alugar pode ser um investimento bom. Isso ajudaria a pagar meus estudos e também poderia viajar”, disse à IPS.

A combinação de uma boa universidade com uma grande arquitetura da Era Jorgiana com os banhos termais, considerados Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), colocaram Bath no mapa dos compradores chineses de imóveis, segundo os especialistas. “Vemos mais investidores da China nos últimos dois anos”, disse Vicky Collins, que dirige uma imobiliária na cidade. Embora a maioria busque estudantes como inquilinos, sua empresa tem clientes que “querem comprar casas jorgianas preservadas” por cifras exorbitantes, acrescentou.

Os compradores da China continental representarão este ano entre 5% e 10% das vendas de residências em Londres, de acordo com a consultoria CBRE. Eles também estão em grande número nos leilões realizados na Grã-Bretanha, apostando firmemente nas obras de arte e superando frequentemente as estimativas prévias de vendas. Na mesma medida em que este frenesi comprador chinês é um alívio bem-vindo em meio ao clima de austeridade que vive a Grã-Bretanha, também é mal visto dentro das fronteiras chinesas.

Aos economistas preocupa a possibilidade de que exportar as especulações imobiliárias chinesas possa alterar os mercados de bens de raiz no exterior, voltando a despertar o fantasma da “ameaça chinesa”. Funcionários do Ministério do Comércio começam a levar a sério os pedidos para reduzir as tarifas para importação de artigos de luxo, antes considerados ostentação e agravantes da brecha referente à renda.

Pensam nas vantagens de redirigir os US$ 50 bilhões que os consumidores chineses gastaram no ano passado no exterior para o mercado interno e, também, que incentivar um crescimento no consumo dentro do país é muito mais importante do que arrecadar os impostos perdidos. A preocupação dos funcionários das Finanças é o impacto que isto possa ter nos cofres nacionais.

O Diário do Povo, carro-chefe do Partido Comunista, descreveu como os ministérios das Finanças e do Comércio da China se esforçam para decidir qual direção tomarão os consumidores chineses. Ao se projetar que o mercado de viagens internacionais chegará a US$ 230 bilhões até 2020, os agentes europeus mantêm o otimismo. Envolverde/IPS