Duas campanhas publicitárias desfocadas deram margem a dúvidas e oportunismos nas discussões sobre a necessidade de se abolir as sacolas plásticas utilizados no comércio em São Paulo e em diversas cidades brasileiras. Pelo lado do Ministério do Meio Ambiente o mote da campanha, “Saco é um Saco”, pouco ou nada explica ao consumidor que tem de sair das lojas carregando produtos nos braços ou em embalagens improvisadas; do lado da Associação Paulista de Supermercados o mote da campanha foi: “Vamos tirar o Planeta do Sufoco”. Nenhuma das duas campanhas atraiu a boa vontade de milhões de consumidores afetados diretamente em seu suposto direito de ter suas compras embaladas em sacolas plásticas.
Faltou informação sobre os reais motivos para o banimento das sacolas plásticas e surgiram boatos por todos os lados, inclusive de interessados em manter as vendas de sacolas para as redes de supermercados e para o comércio em geral. As sacolas plásticas estão no centro desse debate por conta de seu impacto sobre a biodiversidade. Há registros de que cerca de 100 mil animais e pássaros morrem todos os anos por ingestão de resíduos de sacolas plásticas. No caso de tartarugas aquáticas em geral, esta já é uma das mais comuns causa de nos oceanos do mundo.
No entanto, o uso das sacolas plásticas se tornou uma disputa entre o direito coletivo em detrimento do direito individual. Neste mês de setembro as discussões em torno da volta das sacolas reúnem novamente representantes das grandes redes de supermercados, da Associação Paulista de Supermercados, do Ministério Público e representantes dos fabricantes de plásticos. Uma ação movida por uma organização de defesa dos consumidores (SOS Consumidores) pretende que os supermercados ofereçam sacolas plásticas indefinidamente a seus clientes e impedindo a venda de sacolas retornáveis. Essa ação adiou o retorno do embargo às sacolas plásticas, que estava previsto para 15 de setembro. Agora os envolvidos têm até 15 de outubro deste ano para chegar a um acordo sobre o tema.
Ou seja, a questão virou um enorme embrulho. Os fabricantes de plásticos explicam que produzem 15 bilhões de sacolas plásticas por ano e que “apenas” 10% disso tem uma destinação considerada irregular, ou seja, 1,5 bilhão de unidades. E até agora, liderados por empresas do porte da Braskem, não se mostram interessados em oferecer alternativas ou ser parte de uma solução que tenha um impacto menos agressivo em relação à biodiversidade do planeta. Alguns supermercados, ao perceberem que meteram a mão em cumbuca, estão cautelosamente recuando e abandonando o campo da disputa. Esse é um debate que não ganhou a simpatia dos consumidores, justamente aqueles que os supermercadistas tanto se esmeram em agradar.
Muitas soluções estão sendo propostas, mas a que parece ganhar força é justamente a que menos interessa à natureza e ao ambiente urbano, uma vez que as sacolas plásticas são motivo de entupimento de redes pluviais e retenção de águas de chuvas, sendo causa de enchentes e formando depósitos de água que servem como criadouros para mosquitos portadores da dengue. Neste final de setembro estão acontecendo reuniões na Associação Paulista de Supermercados e o tema parece estar caminhando para um envergonhado esquecimento. As grandes redes de supermercados estão repensando sua posição e o embate a favor e contra fica cada vez mais acirrado.
Os produtores de sacolas acusam os consumidores pelo descarte inadequado das sacolas, que assim vão parar na natureza e no ambiente urbano. A ONG SOS Consumidores defende o “direito” dos consumidores à sacola gratuita e as empresas e organizações que apoiam o banimento são acusadas de ter apenas interesses econômicos na história, mesmo aquelas que estão descontando o preço das sacolas nas compras da boca do caixa. Do lado dos ambientalistas e da sociedade resta um constrangido silêncio. (Envolverde)
Alguns dados do Ministério do Meio Ambiente sobre o uso de plásticos pela sociedade
- Os plásticos convencionais chegam a durar 400 anos na natureza e cada família brasileira descarta cerca de 40 quilos de plásticos por ano.
- Sacos plásticos voam com o vento e acabam poluindo as cidades, as florestas, rios, lagos e oceanos.
- Existem mais de 100 milhões de toneladas de resíduos de plásticos flutuando no Ocenao Pacífico e outros tantos estão se acumulando no Atlântico.
- A ingestão de pedaços de sacolas plásticas já é uma das principais causas da mortes de tartarugas, que confundem o plástico com comida e têm seu aparelho digestivo obstruído.
- As sacolas descartadas de maneira incorreta nas cidades entopem bueiros e provocam enchentes.
- As sacolas podem acumular água parada e permitir a proliferação do mosquito da dengue.
* Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da grande mídia paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, revistas IstoÉ e Exame. Desde 1998 dedica-se à cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação, desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial.