Por Kanya D’Almeida, da IPS –
Nações Unidas, 8/7/2015 – Até 2050, o mundo contará com nove bilhões de habitantes. Isso não significa apenas que haverá dois bilhões de bocas a mais para alimentar, mas também que essas bocas consumirão mais do que agora. Nos próximos 20 anos, por exemplo, calcula-se que três bilhões de pessoas se somarão à classe média, que atualmente é integrada por cerca de 1,8 bilhão de pessoas com um nível de renda que lhes permite aumentar seu consumo.
Essas mudanças vão gerar uma pressão sem precedentes sobre os recursos naturais mundiais, segundo um novo informe do Painel de Recursos Internacionais (PRI), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Com o título Coerência das Políticas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Uma Perspectiva dos Recursos Naturais, o documento alerta que a manutenção e recuperação dos ecossistemas são serão fundamentais para o cumprimento da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 da Organização das Nações Unidas (ONU).
A menos que essa agenda se concentre na proteção e no respeito da riqueza limitada do planeta, as metas de erradicação da pobreza e a garantia de uma vida digna para as gerações atuais e futuras ficarão pelo caminho, segundo os especialistas. Por exemplo, os estudos do PRI demonstraram que a extração anual de minerais cresceu de sete bilhões de toneladas de materiais, em 1900, para 68 bilhões de toneladas, em 2009. As tendências atuais indicam que a exploração e a extração de recursos poderão chegar a 140 bilhões de toneladas em 2050, três vezes o extraído em 2000, segundo dados do Pnuma.
“Devido à queda da concentração mineral, hoje é necessário trasladar cerca de três vezes a quantidade de material para obter a mesma extração de minerais que há um século, com o consequente aumento nos transtornos da Terra, nas consequências para a água subterrânea e o uso de energia”, advertiu o Pnuma em um comunicado de imprensa no dia 6.
Além disso, as pressões sobre os recursos bióticos também estão aumentando, já que 20% das terras cultiváveis, 30% das florestas e 10% das pradarias do planeta estão se degradando a um ritmo que supera com juros a capacidade de regeneração desses sistemas. A deterioração dos ecossistemas também ameaça agravar as consequências da mudança climática, contribuir para a escassez da água e exacerbar a fome. Os especialistas em ambiente temem que até 2050 se perca 25% da produção mundial de alimentos como resultado desses problemas.
“O principal desafio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) será tirar um bilhão de pessoas da pobreza e remediar as desigualdades, e ao mesmo tempo satisfazer a demanda de energia, terra, água, alimentos e fornecimento de materiais para os oito bilhões de habitantes do mundo calculados para 2030”, afirmou o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, no dia 6. “O cumprimento dos ODS em seu texto e espírito requererá mudanças fundamentais na maneira como a humanidade considera o entorno natural e sua relação com o desenvolvimento humano”, ressaltou.
Representando mais de 30 especialistas e cientistas de renome, e a mesma quantidade de governos, o PRI defendeu uma “gestão e um uso prudentes dos recursos naturais, tendo em conta que vários ODS dependem intrinsecamente de maior produtividade dos recursos, recuperação dos ecossistemas e conservação”.
O informe também exorta as autoridades políticas a adotarem práticas baseadas na estratégia da “economia circular”, na qual a reutilização, reciclagem e reúso dos produtos reduzem os resíduos ao “desacoplar” a utilização dos recursos naturais do progresso econômico.
Embora os ODS sejam um marco audacioso e de amplo alcance para acabar com alguns dos problemas mais urgentes do mundo, como fome e pobreza extrema, dependerão do “compromisso de manter a integridade dos sistemas da Terra, já que se lida com a demanda por recursos impulsionada pelos objetivos individuais, para que não gerem resultados contraproducentes”, afirmam os especialistas do Pnuma.
Na medida em que aumentar a população mundial e crescer a classe média será fundamental as pessoas adotarem padrões de consumo, e os governos e as empresas adotarem sistemas de produção que contribuam com o bem-estar humano “sem colocar pressões insustentáveis sobre o ambiente e os recursos naturais”, destaca o informe. Envolverde/IPS