Nações Unidas, 3/5/2011 – Está em perigo uma conferência internacional sobre um Oriente Médio sem armas nucleares, prevista para o próximo ano, devido à crescente crise política que arrasa o mundo árabe e aos temores de Israel sobre as consequências negativas que possa ter para sua segurança. A proposta da reunião foi aprovada em maio de 2010 por 189 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) durante a Conferência de Avaliação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN).
O governo israelense criticou o documento final dessa conferência e ao mesmo tempo deixou a porta aberta para a participação na reunião de 2012. Mas os levantes políticos no mundo árabe, que incluíram a derrubada do presidente egípcio Hosni Mubarak, “amigo” de Israel, desataram a preocupação israelense quanto a um contexto cada vez mais hostil. Israel expressou em particular que seu arsenal nuclear não declarado é a melhor garantia de sua segurança.
O volátil ambiente político, incluído um governo pró-palestino no Egito, pode justificar sua negativa em participar da conferência cujo objetivo é que a região fique livre de armas nucleares. Está claro que a reunião só poderá ter êxito com as participações de Israel e do Irã, disse à IPS Hillel Schenker, coeditor do Palestine-Israel Journal, com sede em Jerusalém. “Isto exige um enfoque cuidadoso e sofisticado”, afirmou.
Enquanto se considera que Israel é uma potência nuclear não declarada no Oriente Médio, o Irã é descrito como aspirante a potência nuclear, segundo especialistas da região. Ao ser consultado sobre o impacto das revoluções sociais árabes em curso, Schenker disse que a sensação de incerteza e o aparente fim do statu quo reforçam a necessidade de avançar para um regime que aponte para a segurança e a cooperação no Oriente Médio.
Avançar para a conferência proposta agora depende de a ONU designar um enviado que se reúna com governantes e delegados da sociedade civil na região, para definir o formato da reunião e determinar sua sede, disse Schenker.
O cético Peter Weiss, presidente do Comitê de Advogados sobre Política Nuclear e membro do comitê executivo do Americans for Peace Now (norte-americanos que apoiam o movimento pacifista “Paz Agora”), disse à IPS ser pouco provável que a reunião tenha alguma consequência, “porque Israel será o último país a abandonar suas armas nucleares”. E acrescentou que “o governo israelense provavelmente não participará ou, se o fizer, imporá condições para terminar com suas armas nucleares, as quais seriam inaceitáveis para os outros países”.
Weiss, que para uma edição especial do Palestine-Israel Journal escreveu o artigo “Uma zona sem armas nucleares no Oriente Médio: realista ou idealista?”, disse que só o fato de se publicar sobre o tema mostra que em Israel há certo movimento a esse respeito. Segundo ele, há quatro ou cinco anos a questão das armas nucleares de Israel era um forte tabu.
Enquanto isso, os Estados Unidos, que tradicionalmente protegem Israel, já apresentaram uma condição com vistas aos preparativos para a conferência. Em julho de 2010, quando o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se reuniu com o presidente Barack Obama, recebeu a garantia de que a conferência de 2010 não apontaria o Estado judeu.
Um comunicado da Casa Branca também insistiu que a conferência somente ocorrerá “se todos os países confiarem que poderão participar e que qualquer esforço para apontar Israel tornará improváveis as perspectivas de convocar a conferência”.
Schenker disse à IPS que embora esteja claro que pedir a Israel para assinar o TNP e permitir inspeções em suas instalações possam ser objetivos finais do processo, não há nenhuma possibilidade de sucesso nesta fase, se o desejo é convocar uma conferência inclusiva para 2012. Para que esta se concretize, exige-se um processo de mão dupla, baseado na Iniciativa de Paz árabe, adotada na cúpula da Liga Árabe de 2002 realizada em Beirute, e até agora reafirmada em cada reunião, ressaltou.
Uma via deveria discutir como avançar para uma paz exaustiva entre israelenses e palestinos, e a outra discutiria maneiras de chegar a um regime regional de segurança e cooperação no Oriente Médio, que incluiria uma zona livre de armas nucleares e de destruição em massa, disse Schenker.
Diante da pergunta se a crise nuclear no Japão terá algum impacto sobre a iminente conferência, Schenker afirmou que somente servirá para conscientizar sobre a necessidade de um regime de segurança que aborde questões nucleares no Oriente Médio.
Embora a imprensa e a mídia eletrônica de Israel normalmente se centrem em questões internas ou diretamente relacionadas com o país, o drama do terremoto e posterior tsunami no Japão, e particularmente a catástrofe na central nuclear de Fukushima, concentraram as manchetes durante semanas. Inclusive Netanyahu se declarou menos entusiasta do que antes a propósito da energia nuclear, disse Schenker.
O próprio Schenker disse ter participado pessoalmente de várias iniciativas relevantes vinculadas ao assunto, entre elas uma reunião de israelenses – muitos acadêmicos e funcionários da área de segurança – organizada pela Fundação Friedrich Ebert (próxima do Partido Social Democrata alemão), onde foram discutidas fórmulas para que Israel possa participar da conferência de 2012. Envolverde/IPS