Por Kanya D’Almeida, da IPS –
Nações Unidas, 28/7/2015 – A luta continua entre as forças armadas do Iraque e o grupo extremista Estado Islâmico (EI), enquanto milhões de refugiados presos entre os combatentes precisam de assistência humanitária com urgência. Em um ato para arrecadar fundos, realizado no dia 4 na sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Lise Grande, coordenadora de Assuntos Humanitários para o Iraque, da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmou que a comunidade internacional deve ajudar com pelos menos US$ 500 milhões para cobrir as necessidades de 5,6 milhões de iraquianos até o final deste ano.
No total, a Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), calcula que, dos 32 milhões de iraquianos, 8,2 milhões precisam de algum tipo de ajuda de emergência, como rações de alimentos e suprimentos médicos. O número poderá chegar aos dez milhões de pessoas nos próximos seis meses. Desde janeiro de 2014, cerca de três milhões de pessoas fugiram de suas casas devido ao conflito armado, cujas frentes mudam a um ritmo alarmante, segundo os observadores.
“Todos os segmentos da sociedade iraquiana – yezidies, cristãos, shabaks, turcomanos, chiíes, sunitas e curdos – foram afetados pela violência”, afirmou o subsecretário-geral da ONU, Kyung Wha Kang, falando em nome do secretário-geral-adjunto de Assuntos Humanitários, Stephen O’Brien. “As famílias tiveram que se deslocar várias vezes para se manterem um passo à frente da horrorosa violência que açoita regiões inteiras do país. Outras não sabem onde podem encontrar segurança, presas em uma divisão sectária que não é sua responsabilidade”, destacou.
A escala da operação humanitária necessária no Iraque fica clara quando se somam, aos afetados pelo conflito atual, 1,3 milhão de pessoas deslocadas internamente por episódios anteriores de violência e 250 mil sírios que buscam refúgio nesse país vizinho à Síria. Acredita-se que os refugiados estão distribuídos em cerca de três mil acampamentos onde os serviços básicos são insuficientes ou simplesmente não existem.
As cadeias de entrega de alimentos estão interrompidas, os hospitais reduzidos a pó e as escolas transformadas em abrigos improvisados para a população civil em fuga. A situação das mulheres e meninas é especialmente preocupante, já que são cada vez mais comuns as denúncias de sequestros, abusos sexuais sistemáticos e escravidão. Segundo a ONU, o estado de direito sofreu colapso total, e as execuções e violações em massa são a realidade cotidiana de milhares de pessoas.
Entretanto, as necessidades do povo iraquiano e a disponibilidade de fundos para fins humanitários parecem ser inversamente proporcionais. “Os sócios humanitários fazem todo o possível para ajudar, porém, mais de 50% da operação terá que ser paralisada ou reduzida se o dinheiro não chegar rapidamente”, alertou Grande. A falta de dinheiro levou ao fechamento de 77 clínicas de saúde situadas perto das frentes de combate e reduziu a entrega de alimentos recebidos por mais de um milhão de pessoas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que só os centros de saúde iraquianos necessitam mais de US$ 60 milhões para cobrir suas operações até finais deste ano. Funcionários da OMS informaram que os refugiados correm risco de contrair doenças transmissíveis, como sarampo, hepatite e outras enfermidades transmitidas pela água, e reiteraram a necessidade de serem aplicados sistemas de alerta, bem como campanhas de vacinação e informação entre a população de refugiados sobre como evitar a propagação de epidemias.
“Neste verão boreal, com temperaturas acima dos 50 graus centígrados em partes do sul e centro do Iraque, a OMS se preocupa com os riscos que os refugiados enfrentam e sua extrema vulnerabilidade aos focos, entre eles de cólera e hepatite”, ressaltou, em Genebra, Jaffar Hussain, chefe de operações desta agência sanitária no Iraque.
Atualmente, os funcionários da saúde trabalham sem infraestrutura, pessoal e equipamentos necessários. Os fundos que permitiram à OMS operar clínicas móveis acabaram no decorrer do mês passado, o que acrescenta mais urgência à situação extrema que vivem milhões de iraquianos. Envolverde/IPS