Internacional

Fundo para as vítimas da tragédia têxtil em Bangladesh atinge meta

O desmoronamento do Rana Plaza, no dia 24 de abril de 2013, causou a morte de mais de 1.100 operários têxteis e deixou mais de 2.500 feridos. Foto: Obaidul Arif/IPS
O desmoronamento do Rana Plaza, no dia 24 de abril de 2013, causou a morte de mais de 1.100 operários têxteis e deixou mais de 2.500 feridos. Foto: Obaidul Arif/IPS

Por Kanya D’Almeida, da IPS – 

Nações Unidas, 30/7/2015 – Pouco depois de completar dois anos da morte de mais de 1.100 pessoas no desmoronamento de um prédio de oito andares que abrigava cinco fábricas têxteis na capital de Bangladesh, um fundo internacional arrecadou os US$ 30 milhões necessários para indenizar as vítimas e suas famílias. O Comitê de Coordenação do Rana Plaza, criado em 2013, vinculado à Organização Internacional do Trabalho (OIT), está integrado por representantes do governo de Bangladesh, da indústria do vestuário local e internacional, sindicatos e organizações não governamentais.

O objetivo do comitê era arrecadar uma indenização justa e equitativa para todos os sobreviventes, que incluísse a perda de renda, fundos para suas necessidades médicas e ajudasse as famílias que perderam seu principal arrimo econômico no desmoronamento do dia 24 de abril de 2013. As cinco fábricas que funcionavam no edifício trabalhavam principalmente para 29 marcas internacionais com sede na Austrália, Europa e América do Norte, como Benetton, C&A, O Corte Inglês, Loblaw, Mango e Walmart.

Além dos mortos, em sua maioria operários têxteis, a queda por causas estruturais do prédio, que também alojava um banco, lojas comerciais e vários apartamentos, deixou mais de 2.500 feridos. Em janeiro de 2014, a OIT criou o Fundo Fiduciário de Doadores do Rana Plaza para agilizar o processo de arrecadação de fundos do comitê.

No segundo aniversário da tragédia, em abril deste ano, faltavam ao fundo US$ 3 milhões para atingir a meta. Até aquele momento, havia pago 70% das indenizações prometidas a cerca de 2.800 beneficiários. Porém, um doador anônimo realizou uma grande injeção de fundos na primeira semana de junho, permitindo ao fundo alcançar os US$ 30 milhões buscados.

Para a Campanha Roupa Limpa, uma aliança de organizações de 16 países europeus que buscam melhorar a situação dos trabalhadores no setor têxtil, isso representa um marco importante do movimento internacional para que os responsáveis prestem contas pela catástrofe industrial, considerada uma das piores na história moderna. “Agora que todas as famílias afetadas por esse desastre finalmente vão receber todo o dinheiro a que têm direito, poderão se concentrar na reconstrução de suas vidas”, afirmou a porta-voz da Campanha, Ineke Zeldenrust.

Um fundo internacional para ajudar os sobreviventes do desmoronamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, alcançou sua meta de US$ 30 milhões. Foto: Obaidul Arif/IPS
Um fundo internacional para ajudar os sobreviventes do desmoronamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, alcançou sua meta de US$ 30 milhões. Foto: Obaidul Arif/IPS

Mas o consenso geral é que este é apenas um primeiro passo. “Este é um êxito importante, mas ainda nos restam muitas questões para resolver. Agora temos que trabalhar juntos para garantir que esse tipo de acidente possa ser evitado no futuro”, destacou o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, em um comunicado divulgado no dia 9.

As organizações de direitos humanos também pretendem que as grandes marcas internacionais façam mais do seu lado para garantir a segurança dos trabalhadores, enquanto os sindicatos se mobilizam contra a incapacidade, ou falta de vontade, do governo de Bangladesh para aplicar reformas no setor que emprega quatro milhões de pessoas e exporta mercadorias no valor de US$ 24 bilhões anualmente.

A renda de aproximadamente 20 milhões dos 156 milhões de bengaleses depende direta ou indiretamente da indústria têxtil, que representa 80% do que o país obtém com exportação e contribui com 10% para o produto interno bruto anual.

Apesar de sua importância para a economia, o governo não fez muito para melhorar as normas trabalhistas e os protocolos de segurança no setor. Um informe publicado em abril, da organização de direitos humanos Human Rights Watch, afirma que os abusos no local de trabalho são comuns, e documentou numerosos casos de agressões, violência e intimidação sofrida pelos sindicalistas.

Com base em entrevistas com mais de 160 trabalhadores de 44 fábricas, que produzem produtos principalmente para grandes marcas varejistas, o informe descreve o alcance da perseguição sindical que ocorre nas 4.536 fábricas têxteis em Bangladesh. Apesar de o governo ter aumentado recentemente o salário mínimo para US$ 68 por mês, em comparação aos US$ 39 que representava no momento do acidente do Rana Plaza, os trabalhadores afirmam que continuarão reclamando uma renda mensal de US$ 100, o básico necessário para alimentar e vestir suas famílias.

As normas de segurança também deixam muito a desejar, segundo ativistas e trabalhadores, embora agora o setor têxtil tenha 800 inspetores do trabalho capacitados pela OIT, contra os 56 que havia em 2013, o que é um avanço. O Acordo sobre Incêndios e Segurança Predial, que regerá os protocolos de segurança em 1.600 fábricas, a pedido das marcas varejistas baseadas principalmente na Europa, também deu motivos para os especialistas comemorarem, ainda que cautelosamente. Envolverde/IPS