Por Leno F. Silva –
Segundo Heinz von Foerster, cientista austríaco-americano que combinou a física e a filosofia, “Não percebemos que não percebemos”. E nesse universo das não percepções, de uma maneira geral a nossa capacidade de escuta é pouco desenvolvida, e o excesso de racionalidade nos impede de sentir e de nos conectarmos verdadeiramente com o nosso coração e a nossa essência.
Não utilizamos os conhecimentos e os diferentes recursos para repensar e resolver problemas históricos tais como injustiça, pobreza, fome, guerras e ambientais.
Desconhecemos quem somos, confinados a circunscritos espaços “seguros”: trabalho, casa, shopping, condomínio fechado, entre outros, e perdemos a oportunidade de conhecer os nossos vizinhos, de perceber que no bairro tem pipoqueiro, padeiro; a senhora da lavandeira, o feirante da barraca de frutas e os jovens que adoram skate, futebol, Hip Hop e samba.
Vivemos agora situações turbulentas aqui e no mundo. Talvez fosse a nossa chance de buscar outras saídas, as quais nos permitissem construir uma nova ordem social, econômica, cultural e ambiental. Ao contrário, vimos um salve-se quem puder, para proteger a própria pele, não levando em conta que nesse planeta somos seres humanos interdependentes.
Não percebemos que somos uma sociedade excessivamente consumista, individualista, insensível, intolerante e competitiva. E não percebendo nos repetimos, até que não havendo outra possibilidade, talvez percebamos e nos transformemos. Às vezes os preços que pagamos por mudanças civilizatórios são abusivos. Mas essa é o jeito do funcionar do capitalismo neoliberal. Você já se percebeu hoje? Por aqui, fico. Até a próxima.
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.