Pessoas fazem homenagens às vítimas dos atentados no centro de Paris. Foto: Foto: Vincent Gilardi/ Fotos Públicas
Pessoas fazem homenagens às vítimas dos atentados no centro de Paris. Foto: Foto: Vincent Gilardi/ Fotos Públicas

Por Reinaldo Canto* 

Enquanto tiro as roupas de frio do armário e me entrego à tarefa de arrumar as malas para a cobertura da COP 21 em Paris, num determinado momento, a preocupação com as baixas temperaturas da capital francesa dão lugar as terríveis e absurdas notícias sobre os ataques terroristas que vitimaram centenas de inocentes.

Entre as muitas incertezas e receios trazidos com esses atentados infames, podemos acrescentar à cesta de maldades dos fanáticos, o desvio no foco tão aguardado de esperanças da implementação de ações concretas no combate às mudanças climáticas.

A conferência está confirmada, mas os chamados sideevents, aqueles paralelos ao evento principal e que ocorreriam em bom número fora do Le Bourget em várias partes da cidade, transformando Paris inteira numa grande celebração climática, já não mais irão acontecer. Se esses crimes não tivessem ocorrido, sem dúvida poderíamos registrar uma grande festa, assim como já havia ocorrido na COP 15/2009 em Copenhague, capital da Dinamarca, quando a cidade toda viveu um clima de celebração e de apoio as boas ações de respeito ao planeta.

Aliás, na ocasião, como agora, existiam muitas expectativas de um bom e efetivo acordo para reduzir o aquecimento global. Mas infelizmente, nós jornalistas presentes ao encontro não pudemos levar ao mundo as boas notícias da assinatura desses compromissos. Naquela época, como agora, para lá se dirigiram todos os líderes mundiais. Havia o consenso dos perigos quanto aos efeitos danosos do aumento na temperatura da Terra. Faltou quem assumisse as contas e responsabilidades. No fim, todos nós voltamos de lá, praticamente de mãos vazias.

De 2009 pra cá, as coisas só pioraram e se antes até existiamalguns céticos quanto àrelevância da ação humana para as mudanças climáticas, a potencialização de suas consequências, só aumentou as certezas quanto aos perigos crescentes se mantivermos essa passividade.

Diferentemente de Copenhague eis que para esta COP parisiense os fatos são outros, a China e os EUA se comprometeram com a redução de suas emissões de gases de efeito estufa; o Papa Francisco deu um pito em toda a humanidade lançando a encíclica papal Laudato Sie afirmando que precisamos cuidar melhor da nossa casa e dos seres que nela habitam; lideranças muçulmanas também se manifestarampor ações efetivas na luta contra o aquecimento global e quase todos os países apresentaram as suasINDCs (IntendedNationallyDeterminedContributions), sigla em inglês para os compromissos que estabelecem metas a serem cumpridas até 2030.

O Brasil também apresentou uma elogiada INDC se comprometendo a reduzir suas emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030, tendo como base os níveis de emissão de 2005.

Mesmo com os atentados, as mais importantes lideranças mundiais já confirmaram presença e as expectativas são de que teremos um acordo global melhor e mais abrangente para o já superado e desmoralizado Protocolo de Kyoto.

Nesse momento, devemos renovar nossas esperanças e,ao mesmo tempo que nos solidarizamos com os franceses, não podemos ceder ao medo e a tristeza, é preciso colocar o foco nessa fundamental conferência que poderá contribuir para iniciarmos um processo de verdadeiro desenvolvimento sustentável, com respeito ao meio ambiente e de erradicação da pobreza. (#Envolverde)

* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.