Por Leno F. Silva*

Dizem que a justiça é cega, mas ela ouve, fala e escreve. Além disso, na história do Brasil, constatamos que questões jurídicas são seletivas e muitas decisões levam mais em conta o perfil do infrator do que o delito.

Num país com tanta desigualdade social, os mais penalizados são os menos favorecidos, aqueles que não dispõem de recursos para se defender com um bom advogado.

É comum ouvirmos que nesta nação só os pobres vão para a cadeia. Sabemos também que milhares dos cidadãos cumprindo pena em regime fechado deveriam estar em liberdade, mas a morosidade do sistema judiciário impede que essas decisões sejam tomadas.

Na esfera política, com as recentes investigações sobre corrupção, assistimos comportamentos no mínimo estranhos como, por exemplo, vazamentos seletivos de informações obtidas sob segredo em delações premiadas e ainda passíveis de comprovação.

Convém lembrar que o Sistema Judiciário é comandado por seres humanos e como quaisquer pessoas de diferentes profissões, são passíveis de cometer equívocos ou deslizes de conduta.

Em um mundo cada vez mais instantâneo e pressionado por interesses de distintas naturezas, a tal cegueira da justiça, pautada na imparcialidade das decisões, no compromisso de considerar todos os lados de um determinado fato; e na responsabilidade de prezar pela aplicação das leis sem qualquer tipo de favorecimento, parece ter se “modernizado” e aderido ao mundo do espetáculo sensacionalista, que tem na grande mídia o principal agente de repercussão.

Nesse cenário de glamour e holofotes, certos representantes da justiça cega adoram púlpitos, microfones e monitoram sistematicamente a quantidade de “Likes” de suas declarações nas Redes Sociais. Enquanto isso, a lentidão dos processos continua a mesma, como se ainda estivéssemos no tempo da Olivetti Lettera 32 e do mimeógrafo. Por aqui, fico. Até a próxima. (#Envolverde) 

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.