O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o Aché Laboratórios e a empresa Phytobios firmaram uma parceria com o objetivo de identificar substâncias da biodiversidade brasileira que permitam desenvolver novos fármacos para as áreas de oncologia e dermocosmético.
O investimento inicial é de R$ 10 milhões, sendo a metade desse valor paga pela Aché, 33% pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e 17% a encargo do CNPEM. A Phytobios executa as expedições para coleta das amostras biológicas a serem testadas. Como o CNPEM é uma unidade da Embrapii, contratualmente trata-se de uma divisão 50% Aché e 50% Embrapii.
A parceria atuará em um velho problema da indústria farmacêutica: a dificuldade de descobrir novos princípios ativos para fármacos. Embora novos medicamentos sejam lançados, há uma queda significativa no número de novas estruturas moleculares que possam ser usadas como medicamentos. Isso limita a inovação na indústria.
“Descobrir novas substâncias envolve risco porque, às vezes, o retorno financeiro da descoberta acaba não compensando. Por isso, é mais interessante para as farmacêuticas migrarem para um modelo de inovação aberta, em vez de criar novos departamentos e bibliotecas próprias de biodiversidade. Já para a Phytobios, a parceria, além de impulsionar o nosso trabalho, também nos permite diversificar os parceiros de inovação, no que tange à plataforma criada em parceria com o LNBio [Laboratório Nacional de Biociências, que integra o CNPEM]”, disse Cristina Ropke, presidente da Phytobios, à Agência FAPESP.
Há três anos, a empresa criou, em parceria com o CNPEM, uma biblioteca química com 1,5 mil amostras. Em uma triagem-piloto foram encontrados 500 extratos vegetais, que resultaram em 40 hit fractions, ou seja, possíveis novas substâncias bioativas em extratos vegetais.
Com apenas 10 funcionários e focada 100% em pesquisa, a Phytobios é o braço de pesquisa do Grupo Centroflora, que produz extratos vegetais para a indústria farmacêutica. A descoberta de novas substâncias se deu a partir de expedições realizadas pelo grupo de pesquisadores da Phytobios na Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.
Nessas expedições, a equipe de pesquisadores faz a coleta de material vegetal para mais tarde estudar as substâncias contidas nessas plantas. A partir da coleta, as folhas são secas e moídas para se fazer um extrato bruto, utilizando solvente etanólico.
Para garantir que haja material suficiente para repetições, estabeleceu-se que cada lote de extrato seja baseado em pelo menos 5 quilos de droga vegetal (a parte da planta a ser utilizada, folha, flor, fruto, casca ou raiz). Depois que essa mistura é filtrada, o álcool evapora e o que sobra é o extrato que contém os metabólitos vegetais para os quais se busca atividade.
Com essa primeira etapa concluída, o material é enviado ao CNPEM, onde será feito o fracionamento. Cada extrato produz nove frações cromatográficas.
“Com isso, é possível reduzir a complexidade. Fica mais fácil saber que substância está interferindo, por exemplo, em uma determinada enzima ligada a uma doença. Com menor complexidade, há mais chances de encontrar uma substância ativa para aquele determinado alvo que está sendo testado”, disse Eduardo Pagani, gerente de desenvolvimento de fármacos do LNBio.
Paralelamente, ocorre a identificação botânica em um herbário. “As primeiras prospecções são totalmente aleatórias, já as seguintes buscam preencher lacunas. O objetivo é preencher as famílias botânicas, dentro de um conceito que a diversidade biológica está relacionada à diversidade química. É essa diversidade química que aumenta a nossa chance de identificar novos princípios ativos”, disse Pagani.Fonte: Ag Fapesp (#Envolverde)