Dal Marcondes, jornalista e fundador da Envolverde 

Os direitos da Natureza devem ser tratados como extensões dos direitos dos humanos, uma vez que é preciso compreender que os direitos e desejos individuais não podem condenar dois terços dos humanos à miséria social e material

A humanidade enfrenta neste século seu maior desafio, não o da extinção, afinal não é fácil extinguir uma espécie que vai a mais de 9 bilhões de pessoas até o ano de 2050. O problema não está na sobrevivência, mas em como nossa espécie irá viver ao longo das próximas décadas. Neste ano de 2018 somos pouco mais de 7,5 bilhões de pessoas e menos de um terço desse total tem acesso a aquilo que consideramos “direitos fundamentais”, que vão de direito à vida, à saúde, à educação, à habitação, à segurança pessoal e outros que podem ser considerados difusos, como direito à sexualidade e direito a um meio ambiente saudável.

Este século pode ser definido como o tempo em que a humanidade vai decidir o que deseja para o futuro, uma sociedade com direitos universais, ou uma sociedade de castas, onde uma minoria tem muito e uma grande maioria reparte as sobras de um planeta que em poucas décadas pode estar moribundo. Até o momento a universalização de direitos enfrenta resistências em quase todos os países e, problemas que a civilização ocidental considerava superados retomam força e ganham um protagonismo inesperado.

Em muitos lugares as democracias estão sendo testadas com o revigoramento de ideais fascistas e racistas, de separatismos onde se acreditava em uma união de esforços e também com o fortalecimento de regimes centralizadores, sejam de esquerda ou de direita. As redes sociais, que se acreditava poderiam unir a humanidade em ideias de solidariedade e fraternidade passaram a ser o ponto focal da desunião.

O poder econômico, que também deveria avançar para suprir a humanidade com trabalho e renda extrapolou limites e avança de forma desregrada sobre os insumos naturais, comprometendo de forma absoluta a resiliência dos ecossistemas planetários, seja em sua ganância exploratória, ou em sua irresponsabilidade em relação a seus rastros e resíduos.

Estudos divulgados pela Organização das Nações Unidos apontam que a massa de resíduos de plásticos nos oceanos deverá atingir, até 2050, um volume total superior à massa de peixes que existiram nos mares da Terra. Plástico já é o principal contaminante dos ecossistemas planetários.

No Brasil especificamente, temos uma população de bois maior do que a de seres humanos e boa parte de nossa produção agrícola e de nossos territórios produtivos são destinados a pastagens e à produção de insumos para a criação de gado, suínos e galinhas. Os impactos dessas atividades extrapolam em muito seu território, uma vez que avançam severamente em emissões de gases estufa, responsáveis pelos indicadores de mudanças climáticas, poluem o solo e as águas subterrâneas e de rios, além de comprometerem a saúde das pessoas com alimentação pouco saudável.

Em 32 anos chegaremos a 2050, um ano em que o Planeta poderá estar comprometido demais para conseguir retomar o caminho de uma Natureza Saudável. Hoje se discute em círculos ambientalistas os “Direitos da Natureza”, os direitos dos animais, em geral tripudiados pela humanidade, os direitos das gerações futuras. No entanto, na maior parte dos círculos onde se discute política, o debate é sobre “direitos individuais”. A grande questão é como conciliar os direitos individuais com os direitos coletivos e com os direitos da natureza?

Direitos da Natureza e direitos coletivos deveriam ser vistos como parte intrínseca dos direitos individuais, pois não vamos conseguir uma sociedade capaz de sobreviver às suas próprias mazelas sem a percepção de que o que consideramos direitos para as pessoas necessitam de uma estrutura civilizatória de concepção coletiva, onde a Natureza seja parte integrante de uma escala de proteção e respeito.

O jornalismo e a ficção tem nos alertado sobre os cenários que estão colocados no presente e no futuro para a humanidade, onde a escassez e a poluição estão se impondo e o sectarismo entre as pessoas que detém alguns privilégios avança em uma formação de castas. Os sinais não podem mais ser ignorados, sob pena de termos de conviver com alguns séculos de degradação civilizatória e retrocessos que dificilmente serão superados sem muita dor.

O Planeta Terra sobreviverá sem a humanidade e, em uns poucos milênios é capaz de livrar-se das chagas que essa espécie lhe impôs, mas a humanidade não consegue sobreviver em sua plenitude em um planeta doente.

O que você pode fazer

  • Recuse embalagens desnecessárias;
  • Recuse plásticos de uso único, como garrafas pet, canudinhos e outros de descarte rápido;
  • Procure consertar suas coisas e equipamentos, para dar sobrevida a eles;
  • Não descarte nata em locais inapropriados;
  • Reduza seu consumo de carnes, se puder elimine;
  • Utilize mais transportes públicos;
  • Caminhe ou pedale mais;
  • Dê mais atenção às pessoas que ama e te amam;
  • Reúna mais vezes os amigos;
  • Procure ser parte da solução e não do problema;

Dal Marcondes é jornalista, com especialização em Economia, Ciência Ambiental e Empreendedorismo. Dirige a Envolverde desde sua criação em 1998.