No noroeste de Mato Grosso, indígenas do povo Rikbaktsa estão utilizando o que há de mais atual em tecnologia de geolocalização para monitorar seus castanhais e mapear novas áreas de coleta. Com apoio do projeto Pacto das Águas, patrocinado pela Petrobras, os indígenas agora têm drone e tablets à disposição para planejar as safras de castanha-do-brasil.
A castanha-do-brasil – pitsí, na língua Rikbaktsa – sempre fez parte da cultura alimentar do povo, que possui uma relação muito íntima com a floresta amazônica e seus recursos. Ela é utilizada para fazer mingau e costuma ser misturada no beiju. “A castanha é muito importante para nosso povo. Faz parte de nossa tradição ter ela como alimento. E agora esse é um alimento que também nos dá assistência, com a comercialização” conta Roseno Rikbaktsa.
Com o projeto Pacto das Águas, agora os indígenas das terras Japuíra e Escondido tem a ajuda da tecnologia para manejar seus castanhais de forma ainda mais sustentável, acompanhando o aumento de demanda do mercado. O sistema adotado pelo projeto e oferecido às associações indígenas utiliza tecnologias em software livre, que permite realizar a coleta de dados e acompanhar sua evolução em plataformas de baixo custo, utilizando dispositivos móveis como smartphones e tablets.
O projeto oferece oficinas de mapeamento comunitário, nas quais eles aprendem a utilizar os recursos tecnológicos e aprimoram seus conhecimentos de boas práticas de manejo dos castanhais, aliando a tecnologia ao conhecimento tradicional do povo sobre a floresta. O uso do drone completa a estratégia, tornando o mapeamento mais rápido e eficiente.
“A tecnologia também desperta a curiosidade dos jovens, que somam os novos conhecimentos ao saber tradicional de conhecimento da floresta e do espaço onde vivem, promovendo maior integração entre os anciões e a nova geração de guardiões”, afirma Emerson de Oliveira, coordenador técnico do projeto.
Os dados são integrados a um Sistema de Informação Geográfica (SIG), que facilita a gestão dos castanhais e o planejamento da safra. Todo ano, as comunidades se reúnem antes do início da safra, para planejar quais castanhais serão visitados para a coleta, quais famílias de coletores serão responsáveis por cada um e qual o calendário de coleta. Para garantir o alimento dos animais da floresta e a reprodução da castanheira, alguns castanhais são deixados em repouso para a safra seguinte. A safra de castanha-do-brasil se inicia em dezembro e termina em abril.
Até o final do projeto, a expectativa é de que 100 novos castanhais tenham sido mapeados de forma comunitárias nas duas terras indígenas. O projeto Pacto das Águas beneficia mais de 350 indígenas do povo Rikbaktsa nas terras indígenas Japuíra e Escondido. A produção anual de castanha das duas associações participantes do projeto – a Associação Indígena Rikbaktsa Tsirik e a Associação Indígena Abanatsa é de 120 toneladas de castanha. Juntas, as duas terras também protegem 321,4 mil hectares de floresta amazônica nos municípios de Juara e Cotriguaçu, noroeste de Mato Grosso.
Em janeiro deste ano, a castanha dos Rikbatsa obteve o Selo Nacional da Agricultura Familiar Indígena, destinado à identificação dos produtos da produção do indígena na agricultura familiar emitido pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário. Na safra atual, eles a produção tem obtido preço médio de R$ 5,50/kg.
Com apoio do Projeto pacto das Águas as duas associações já produziram e comercializaram 80 toneladas de castanha somente nessa safra. Isso representa uma geração de renda de mais de R$ 400 mil oriundos de fonte sustentável. Com a produção, as comunidades não só mantêm as formas tradicionais de geração de renda, mas também ganham mais autonomia e condições para monitorar e proteger a floresta em seus territórios, evitam desmatamentos e contribuem para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
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