Por Sarah-Jayne Dominic e Glaucia Térreo* – 

Transição para uma economia circular apresenta oportunidades de geração de valor e resiliência dos negócios no médio e longo prazo

Já parou para pensar que na natureza não existe aterro sanitário? Os resíduos de uma espécie servem de recurso para outra. Esse é o princípio norteador da economia circular. Além disso, ela também propõe manter produtos e materiais em ciclos de uso – processo também conhecido como simbiose industrial – e regenerar sistemas naturais.

Essa é a estratégia predominante na natureza, mas ainda não assimilada pela economia, o que gera problemas complexos que colocam em risco a sobrevivência dos negócios e até mesmo da vida humana na terra. A exemplo disso, enquanto a população mundial cresce a uma taxa de 0,9%, a quantidade de resíduos aumenta a 2,9%. Isso porque ao longo das últimas décadas a economia tem ignorado a lógica circular do Planeta, extraindo recursos naturais como se fossem ilimitados e produzindo materiais e sustâncias químicas sintéticas, que dificultam sua absorção ou reciclabilidade, muitas delas de caráter persistente e tóxico, gerando efeitos danosos nos ecossistemas, bem como para a saúde e bem estar das populações humanas. Além disso, o metano gerado por resíduos em aterros sanitários é um dos maiores gases de efeito estufa, agravando a crise climática em curso.

Assim, em contraponto a lógica linear dos processos produtivos atuais, em uma economia circular, a atividade econômica contribui para a saúde geral do sistema. Para que seja possível, essa abordagem deve ser adotada tanto por grandes e pequenos negócios, quanto por organizações e indivíduos, globalmente e localmente.

Como organização que atua com esses diferentes atores em âmbito internacional, a Global Reporting Initiative (GRI) entende que pode contribuir com a disseminação de uma economia circular. Por isso, iniciou um processo para incorporar o conceito nas suas diretrizes de relato relacionadas a resíduos.

Seguindo o protocolo da GRI, um grupo de trabalho multi-stakeholder foi formado para revisar as normas de relato sobre resíduos (GRI 306), que é um assunto específico. A divulgação de acordo com essas normas tem como objetivo o melhor entendimento e comunicação dos impactos relacionados a resíduos e como as organizações fazem sua gestão, incluindo como evitam a geração de resíduos a partir da implementação de medidas relacionadas a economia circular. Essas normas também encorajam as companhias a refletirem sobre seus impactos ao longo de toda a cadeia de valor.

A proposta do conjunto de normas para relato sobre resíduos foi colocada em consulta pública e está aberta a comentários e sugestões até 15 de julho por meio do site da GRI. A participação pública é muito importante, sobretudo do Brasil, País que tem grande potencial de desenvolver uma economia circular e regenerativa, considerando o seu potencial de desenvolvimento de soluções a partir de ativos biológicos. Trata-se de uma mudança sistêmica que constrói resiliência em longo-prazo, gera oportunidades econômicas e de negócios, proporcionando ao mesmo tempo benefícios ambientais e sociais.

*Sarah-Jane é gerente sênior da divisão de Standards da GRI

*Glaucia Térreo é diretora executiva da GRI no Brasil.

(#Envolverde)