O Cerrado deu a Mato Grosso alguns de seus símbolos mais icônicos. O pequi para a galinhada. O sarã e a ximbuva para a viola-de-cocho. A bocaiúva, famosa como chiclete de cuiabano. Mesmo assim, não tem recebido a proteção que deveria dos mato-grossenses. Além de desmatado massivamente de forma ilegal, o Cerrado está em chamas este ano.
Dos 360 mil quilômetros quadrados de sua área original em Mato Grosso, quase metade – 45% – já foi desmatada. No último ano, de agosto de 2017 a julho de 2018, foram quase mil quilômetros quadrados, de acordo com o PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isto corresponde a 15% de todo o Cerrado perdido no Brasil em um ano.
De acordo com a análise das características do desmatamento realizada pelo ICV, 95% deste desmatamento foi feito de forma ilegal, ou seja, sem a devida autorização da SEMA ou do IBAMA. E cerca de um terço ocorreu em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e em áreas contínuas de mais de 50 hectares.
O Cerrado também está queimando demais. Desde janeiro, já foram mais de 6,5 mil focos de calor registrados no bioma. Cartões postais importantes queimam sem trégua há semanas.
Em Chapada dos Guimarães, atrativos como as Cachoeiras Geladeira e Marimbondo foram fechados por conta do fogo. Na Várzea do rio Cuiabá, o Parque Serra Azul já perdeu 100 hectares de vegetação para as chamas. Os parques estaduais Serra de Ricardo Franco e Serra de Santa Bárbara, no sudoeste do estado, também acumulam dezenas de focos de incêndios.
Não há indicações de que a situação do Cerrado mato-grossense irá melhorar no curto prazo. A análise dos dados do DETER, sistema de alertas do Inpe desenvolvido para dar suporte rápido à fiscalização e controle de desmatamento e da degradação florestal, mostra tendência de aumento no ritmo das agressões ao bioma.
Desde agosto do ano passado, foram mais de 3 mil alertas de desmatamento no Cerrado, totalizando uma área de 1.086 km² de vegetação natural destruída. A maior parte do desmatamento – 54% – foi detectada em agosto de 2018 e nos meses de janeiro, abril e maio de 2019.
Ainda que a área total de desmatamento no bioma e a taxa de ilegalidade só sejam conhecidos no ano que vem, quando, normalmente, saem os dados do PRODES para o Cerrado brasileiro, o crescente número de alertas do DETER deveria fazer exatamente o que o nome do dado diz: soar um alerta para todos.
Alertas de desmatamento do DETER no Cerrado mato-grossense entre agosto de 2018 e julho de 2019
Quatro municípios – Paranatinga, Cocalinho, Ribeirão Cascalheira e Rosário Oeste – revezam posições no ranking dos 10 mais críticos em três diferentes análises. Dentro do bioma Cerrado, eles figuram entre os municípios que mais desmataram no ano passado, os com maior número de focos de calor este ano e com o maior número de alertas de desmatamento emitidos pelo DETER.
Isto confirma a tendência de que, neste bioma, o desmatamento é bastante concentrado – o que deveria facilitar o combate a frentes de ilegalidade. Neste Dia Nacional do Cerrado, data criada em 2003 com a intenção de estimular a criação de programas de proteção ao bioma, os motivos para comemorar parecem ter virado fumaça.
(#Envolverde)