A inação ou ação tardia de várias nações para descarbonizar suas economias está resultando em um quadro de extremos climáticos previstos até o final do século, mesmo num cenário de aumento médio inferior a 2º C. A cobrança se torna cada vez maior aos 195 países, que deverão estar representados, na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-25), no mês de dezembro, no Chile. O recado é o seguinte: não há mais tempo a perder! Até 2100, no pior dos cenários, o nível médio global do mar pode aumentar em 1,1 metro e muitas regiões no planeta insulares e costeiras poderão ficar inabitáveis.
O documento reforça outros dois relatórios especiais anteriores do IPCC, lançados a menos de um ano, que tratam respectivamente do porquê da importância de se limitar o aumento da temperatura média da Terra em 1,5 graus até 2100, em relação aos níveis pré-industriais, e do comprometimento causado pelo ‘mau’ uso da terra. O relatório sobre os oceanos, teve como base, mais de 7 mil publicações científicas analisadas.
Fatos atuais e cenários futuros
No contexto das mudanças climáticas e do Aquecimento Global, o nível das águas já está subindo, com o derretimento das calotas polares! O aumento é de 3,6 milímetros ao ano, ou seja, o dobro do que no último século. A causa é mais do que conhecida: as emissões de carbono no planeta estão aumentando, em vez de diminuir! Os estoques pesqueiros, que são estratégicos para a segurança alimentar, correm sério perigo, por causa de processos migratórios das espécies e do aumento de mercúrio e poluentes orgânicos. Neste pacote de prejuízos, a acidificação dos oceanos aumenta os níveis de CO2, há perda de oxigênio e muda o suprimento de nutrientes, que já afeta a distribuição e abundância da vida marinha. Quando a gente ouve que os corais estão desaparecendo, aí está um exemplo, nesta série de comprometimentos em curso no planeta já possíveis de serem detectados.
Ciclo de impactos
Com as águas ficando cada vez mais quentes, ininterruptamente, desde os anos 70, as calotas polares já dão sinais avançados de derretimento, principalmente na Groenlândia e na Antártida, e o nível do mar consequentemente está subindo. Só para se ter uma ideia, entre 2007 e 2016, a perda de água sólida na Antártida foi triplicada em relação aos 10 anos anteriores. Na Groenlândia, duplicou. O degelo também atinge regiões como os Andes tropicais, além do norte da Ásia e a Europa Central. O comprometimento pode ser acima de 80% até 2100. De acordo com o relatório, o oceano Ártico pode ficar sem gelo algum em 100 anos mas se o aquecimento chegar a 2º C, isto pode acontecer em até três anos. Já conseguiu imaginar o que isto significa?
Na verdade, o que fica claro, é que ninguém escapa dos efeitos desse quadro em efeito dominó da aceleração do aquecimento global. Países insulares e cidades localizadas em regiões litorâneas, nas costas continentais, começam a sentir as consequências. Vocês já ouviram falar, por exemplo, do país Tuvalu, no Pacífico, do município fluminense de Atafona, no Brasil, e de Hull, na Inglaterra? É, os cidadãos dessas localidades sentem na pele, o que tende a ser ampliado no planeta. Grandes áreas metropolitanas, como Nova York (EUA), Buenos Aires (Argentina), Londres (Inglaterra), Istambul (Turquia) e Xangai, na Ásia, correm grandes riscos, de acordo com os cientistas.
Além do aumento do nível do mar, fenômenos extremos de ondas gigantes decorrentes de ciclones tropicais tornam o cenário futuro mais desolador. Com o degelo dos chamados permafrosts, em regiões como a Sibéria e Canadá, os bilhões de toneladas de carbono e metano, que estavam armazenados nestas áreas congeladas, são liberados, contribuindo ainda mais para o Aquecimento Global.
Segundo Hoesung Lee, presidente do IPCC, é preciso reforçar que a causa antrópica, ou seja, da ação humana é que está acelerando este processo. O que causa mais apreensão é que a absorção do calor pelas águas oceânicas duplicou em relação a de 1993. O único caminho para tentar frear ou reduzir o impacto dos eventos extremos em populações mais vulneráveis é também por meio antrópico. As informações estão transparentes e refletem um estado de “crise climática”, como um sinal vermelho aos líderes das nações, que participarão da COP-25.
Sobre a 350.org Brasil e a causa climática
A 350.org é um movimento global de pessoas que trabalham para acabar com a era dos combustíveis fósseis e construir um mundo de energias renováveis e livres, lideradas pela comunidade e acessíveis a todos. Nossas ações vêm ao encontro de medidas que visem inibir a aceleração das mudanças climáticas pela ação humana, que incluem a manutenção das florestas.
Desde o início, trabalha questões de mudanças climáticas e luta contra os fósseis junto às comunidades indígenas e outras comunidades tradicionais por meio do Programa 350 Indígenas e vem reforçando seu posicionamento em defesa das comunidades afetadas por meio da campanha Defensores do Clima.
Sucena Shkrada Resk – jornalista ambiental, especialista em política internacional, e meio ambiente e sociedade, é digital organizer da 350.org Brasil
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