Já está se tornando lugar comum, com toda pompa e marketing político, os anúncios bombásticos feitos pelo governador de Pernambuco a respeito da chegada de novas empresas que vêm para aqui se instalar, quase sempre em alguma cidade no entorno do complexo industrial e portuário de Suape.
A imprensa saúda o progresso chegando, o dinamismo da economia pernambucana. Três palavras-chaves são abusadamente utilizadas e propagandeadas aos quatro ventos, justificando e anestesiando a população em geral e os setores da elite local, que de dia cantam loas à necessidade de proteger a natureza, o meio ambiente, mas na calada da noite, estimulam, promovem e saqueiam as matas, os rios e o ar que respiramos. Progresso, criação de postos de trabalho e geração de renda, bendita seja esta tríade que consegue calar toda uma população, e consentir que a geração futura pague um alto preço pela irresponsabilidade de alguns, mas com o consentimento de muitos.
Pernambuco é um exemplo de que estamos acelerando em marcha a ré, na contra mão de oferecer melhor qualidade de vida ao seu povo, e perdendo a oportunidade de mudar o paradigma atual, baseado no chamado “crescimento predatório”, que utiliza argumentos do século passado de que o “novo ciclo de desenvolvimento”(?) é a “redenção econômica do Estado”(?) e assim exige o “sacrifício ambiental”. Palavras entre aspas ditas pelos gestores públicos que tentam confundir, com um discurso pela busca de sustentabilidade entre empresas e governo, mas que aumenta o consumo e a produção de energia suja.
Não bastasse a devastação dos últimos resquícios de Mata Atlântica, de manguezais, das florestas naturais, da poluição dos rios, agora o Estado atrai e apoia a instalação de termelétricas a óleo combustível, o combustível mais sujo para produzir eletricidade dentre os derivados de petróleo, perdendo somente para o carvão mineral no ranking de maior emissor de gases que provocam o efeito estufa, ou seja, o aquecimento global, correspondente ao aumento da temperatura média da Terra causador das temidas mudanças climáticas.
A termelétrica anunciada como a maior usina do mundo, que pretende se instalar no Cabo de Santo Agostinho, terá uma potência instalada de 1.452 MW, ou seja, a metade da Hidrelétrica de Xingó, produzirá anualmente, caso funcione ininterruptamente, em torno de 8 milhões de toneladas de CO2. Além de outros gases altamente prejudiciais a saúde humana. Este cálculo estimado é possível, levando em conta que para cada 0,96 metros cúbicos de óleo consumido na termelétrica, 3,34 toneladas de CO2 são produzidos, segundo a Agência Internacional de Energia. Já para a termelétrica Suape II, que tem mais de 70% das obras construídas, infelizmente também no município do Cabo, a emissão anual desta instalação será de pelo menos dois milhões de toneladas de CO2. Portanto no município vizinho a Recife, no Cabo, estas duas usinas em funcionamento emitirão em torno de dez milhões de toneladas de CO2, pouco menos de um milhão de toneladas mensalmente, e pouco mais de 30 mil toneladas por dia. Será que é este o “desenvolvimento” desejado pelos habitantes do Cabo e de Pernambuco?
Este tipo de instalação industrial que para produzir eletricidade queima óleo, semelhante ao utilizado para movimentar navios, esta tendo enormes dificuldades em conseguir se instalar no Sul e no Sudeste do país, devido às dificuldades impostas para obterem as licenças ambientais, necessárias para tal empreendimento. Acabam vindo para nossa região, pois aqui é conhecida a frouxidão dos órgãos estaduais responsáveis pelo controle e fiscalização ambiental, conservação e recuperação dos recursos naturais, tais como a Agência Pernambucana de Meio Ambiente – CPRH, ligada a recém-criada Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade.
Fica mais uma vez demonstrado que em Pernambuco o crescimento econômico não combina com preservação ambiental. O atual governo do Estado dá sinais claros de sua total falta de compromisso com as questões ambientais e com as gerações futuras, que sem dúvida é o maior desafio atual de nossa civilização.
Enquanto aqui se perpetua um modelo de crescimento econômico predatório, insustentável, alicerçado no uso de combustíveis fósseis, inimigo número um e responsável maior pela emissão dos gases de efeito estufa, o mundo discute como acelerar o uso de fontes renováveis de energia (solar, eólica, biomassa, energia dos oceanos) para atender a sua demanda energética com menor agressão ambiental.
* Heitor Scalambrini Costa é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco, graduado em Física pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e doutor em Energética pela Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França.
** Publicado originalmente pela Adital e retirado do site Mercado Ético.