Doha, Catar, 15/2/2012 (IPS/Al Jazeera) – As forças do governo da Síria bombardearam ontem a cidade de Homs, no centro do país, pelo décimo dia consecutivo, enquanto a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, acusou a ONU de passividade diante dos contínuos crimes contra civis. Pelo menos sete pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas no bairro de Bab Amr, que sofreu implacável ataque com fogo de metralha, mísseis lançados por tanques e granadas de morteiro, segundo ativistas opositores.
De Homs, o ativista Hadi al-Abdallah contou à rede árabe de televisão Al Jazeera que o bombardeio, iniciado às 5h30 da manhã, foi o mais duro dos últimos dias. “Bab Amr e o bairro vizinho de Inshaat são bombardeados a cada 15 minutos. Não sabemos o que fazer com os feridos. Desde que começaram os ataques há dez dias, há mais de mil pessoas feridas”, acrescentou.
Bab Amr é um reduto da oposição, que as forças do governo de Bashar al-Assadi pretendem recuperar. O implacável bombardeio obriga a população a ficar dentro de casa, o que dificulta o transporte de feridos aos hospitais ou a clínicas improvisadas, explicou Abdallah. “Cada vez que a comunidade internacional faz uma forte declaração, o regime sírio decide se vingar em nós. É uma tendência que identificamos”, alertou.
Tanques do governo também estão estacionados em Inshaat. Muitos moradores que deixaram este bairro informaram que suas casas também foram saqueadas e em alguns casos ocupadas pelos soldados. Ontem, ativistas informaram que as forças do governo também tomaram de assalto a localidade de Taybeh, na província de Deraa, no sul do país, depois de bombardeá-la intensamente.
Em meio à violência, Pillay afirmou, no dia 13, na Assembleia Geral da ONU que o regime de Assad comete crimes contra a humanidade desde que lançou sua repressão contra a dissidência, em março do ano passado. Também destacou que a incapacidade do Conselho de Segurança em aprovar uma resolução contra a Síria estimulou o regime a incrementar sua repressão contra a oposição e a lançar um “ataque indiscriminado” contra os civis em Homs.
Rússia e China vetaram um segundo texto de resolução sobre a Síria no Conselho no dia 4, mesmo dia em que começaram os ataques a Homs.
Pillay expressou seu temor de que o agravamento das tensões sectárias afundem a Síria em uma guerra civil, e pediu que o regime de Assad seja responsabilizado perante o Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia. Também destacou que “informações concretas indicavam que as forças de segurança sírias mataram mais de 5.400 pessoas no ano passado, incluindo civis e pessoal militar que se negou a disparar contra os combatentes”.
Diante destas acusações, Bashar al-Jaafari, representante permanente da Síria na ONU, disse que os comentários de Pillay careciam de escrúpulos, e insistiu que seu país sofre ataque de organizações terroristas. “Depois de hoje, como poderemos confiar no Escritório do Alto Comissariado dos Direitos Humanos em temas relacionados à defesa e promoção dos direitos humanos?”, perguntou Jaafari à Assembleia Geral. Além disso, exortou “todos os que abrigam, apoiam, financiam e armam grupos terroristas a deixar de fazê-lo imediatamente, de acordo com as resoluções de legitimidade internacional”.
O governo sírio responsabiliza “terroristas armados” pela instabilidade na Síria, iniciada depois que protestos exigindo liberdades surgiram, há mais de 11 meses, em todo o país. Espera-se que a Assembleia Geral considere uma resolução não vinculante (semelhante à que foi bloqueada por China e Rússia no Conselho de Segurança) apoiando o plano da Liga Árabe que exige a renúncia de Assad e a criação de um governo de unidade que prepare o caminho para novas eleições.
A violência na Síria levou a Liga Árabe a propor à ONU a criação de uma força de paz conjunta. Contudo, Moscou, estreito aliado de Assad e seu principal fornecedor de armas, declarou, no dia 13, que não pode apoiar uma força de paz internacional sem que antes as duas partes detivessem a violência. Pequim apoiou o que chamou de “mediação” da Liga Árabe, mas não deu um claro sinal de apoio à proposta de uma força de paz. “As ações da ONU devem levar a uma redução das tensões na Síria, em lugar de complicar as coisas”, afirmou o porta-voz da chancelaria chinesa, Liu Weimin.
A França também se mostrou cética sobre uma força de paz. “Cremos que qualquer intervenção militar externa só agravará a situação”, afirmou o chanceler francês, Alain Juppe. Já o seu colega da Grã-Bretanha, William Hague, defendeu que qualquer força internacional na Síria deverá estar integrada por soldados de nações não ocidentais. Envolverde/IPS