Nova York, Estados Unidos, abril/2011 – A população mundial em breve chegará aos sete bilhões de pessoas e as decisões que forem tomadas agora terão importante impacto na vida do Século 21. Nosso maior desafio é atender as necessidades das atuais gerações sem comprometer a capacidade de as futuras atenderem as suas.
Acabo de visitar a Etiópia, onde falei aos ministros de Finanças africanos sobre a necessidade de investir em saúde e educação, especialmente para os jovens. Se considerarmos que cerca de 70% da população da África tem menos de 30 anos, poderemos compreender a urgência de garantir que eles possam reivindicar seu direito a saúde, educação e trabalho decente.
O caso da Etiópia é um bom exemplo dos desafios que enfrentam os países mais pobres. Atualmente, a Etiópia tem aproximadamente a mesma população que a Alemanha, mas em meados deste Século, segundo as projeções, será cerca do dobro da atual, enquanto a da Alemanha cairá um sétimo. A Etiópia e outros países em desenvolvimento se veem fortemente pressionados para manter o passo quanto aos investimentos necessários para atender as necessidades de suas crescentes populações.
Em 2010, o Guttmacher Institute estimou que custaria US$ 182 milhões ao ano estabelecer um moderno planejamento familiar para todas as etíopes que o desejassem. Assim, haveria 1,5 milhão de gravidezes não desejadas a menos, 340 mil abortos a menos, 75 mil casos de mortalidade infantil a menos e cairiam em quase um terço as mortes maternas a cada ano.
Contudo, ao contrário, globalmente, 215 milhões de mulheres que quisessem evitar ou adiar sua próxima gravidez carecem de acesso a métodos modernos de contracepção. A cada dia, mil mulheres no mundo em desenvolvimento morrem por complicações na gravidez ou no parto, e suas mortes causam uma redução nas perspectivas de sobrevivência das crianças. Nenhuma mulher deveria morrer ao dar a vida a uma criança.
Quando os pais se convencem de que seus filhos crescerão e se desenvolverão de maneira sadia, tendem a ter famílias menores. As taxas de natalidade menores por si só não garantem maior prosperidade, mas fazem com que os benefícios econômicos estejam mais ao alcance dos países. A Ásia Oriental utilizou esta vantagem demográfica durante o período de 1960 a 1980, e os índices de pobreza caíram espetacularmente.
Um desafio primordial deste Século é garantir o bem-estar e a dignidade dos atuais quase sete bilhões de seres humanos e dos dois bilhões a mais esperados até 2045 e, ao mesmo tempo, proteger o complexo equilíbrio da natureza, da qual depende a vida no planeta.
A atividade humana está afetando todos os recantos da Terra, incluindo seu clima, e as nações em desenvolvimento com recursos limitados sofrem as piores consequências das secas, inundações, onda de calor e outros desastres relacionados com o clima. As populações em aumento, junto com o estresse ambiental, estão colocando à prova os limites da segurança em matéria de alimentos e água potável.
O aproveitamento da liderança das mulheres e dos jovens é nossa melhor esperança para enfrentar os mais urgentes desafios mundiais.
Hoje em dia, os jovens são quase a metade da população mundial e 60% nos países menos desenvolvidos. Investir nos jovens, e especialmente nas adolescentes, é simplesmente o mais inteligente investimento que um país pode fazer. Começa com cada adolescente. Educadas, saudáveis e preparadas tecnicamente, elas serão cidadãs ativas em suas comunidades. Serão mães e estarão capacitadas para investir mais na saúde e na educação de seus futuros filhos.
De todo modo, um mundo de sete bilhões de pessoas é um êxito extraordinário. Globalmente, as pessoas estão vivendo mais anos e têm vida mais saudável. A expectativa de vida em nível mundial aumentou em 17 anos desde o começo da década de 1960 e a proporção de pessoas indigentes caiu espetacularmente.
Entretanto, as tendências mundiais mascaram amplas disparidades. Altos índices de fertilidade, bem como de mortalidade e de privações, persistem nos países mais pobres, que lutam para manter o passo quanto às necessidades de suas crescentes populações.
Já é hora de investir em capital humano para preencher os vazios e garantir que toda mulher, homem e criança possa desfrutar de uma vida saudável e de oportunidades iguais. Em um mundo de sete bilhões de pessoas, e em crescimento, teremos de contar, inevitavelmente, uns com os outros. Envolverde/IPS
* Babatunde Osotimehin é diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas e subsecretário-geral das Nações Unidas.