Por Leno F. Silva* 

Um dos grandes sucessos do Programa Silvio Santos no passado era o momento em que uma carta sorteada dava o direito à felizarda ou ao felizardo de participar do quadro “Roda o Pião” e ganhar prêmios valiosos.

Alguns sorteios já garantiam à carta o direito de receber uma boa grana, desde que as parcelas do carnê do Baú da Felicidade estivessem em dia.

Naqueles tempos os Correios eram uma das empresas mais admiradas do Brasil e a população tinha o hábito de se comunicar por intermédio da escrita em papel, e as missivas percorriam todas as regiões do País levando notícias para os entes queridos distantes.

Hoje vivemos o fenômeno das Redes Sociais, das mídias digitais e da instantaneidade da comunicação. Nesse cenário online 24 horas por dia, na semana passada uma “Carta” se transformou num dos assuntos mais destacados do nosso atual momento político devido ao conteúdo, à finalidade e à sua autoria.

Michel Temer, Vice-Presidente da República, depois de alguns ensaios e sinais estrategicamente calculados, decidiu expressar o seu descontentamento com o governo e com a Presidenta por escrito, numa ação que seria de caráter privado, mas que propositalmente, “vazou” para a mídia, provocando reações imediatas e desconfortos generalizados.

Como a decisão de Temer ocorreu logo após Eduardo Cunha aceitar encaminhar o impedimento de Dilma na Câmara dos Deputados, esses dois atos representam a parcela do PMDB que resolveu bater de frente com a gestão petista, apostando suas fichas na queda de Presidenta para, articulados com as oposições, assumirem o poder em 2016.

As interpretações do conteúdo da carta Temer variaram de acordo com os interesses e as visões de cada leitor. Institucionalmente, depois de uma conversa particular, Dilma e Temer mantêm as aparências para que a saia justa não complique ainda mais a situação política.

De certa forma, com a Carta escorrendo pelas mãos, o vice “magoado” buscou valorizar o seu passe, o seu papel no governo e, quiçá, assumir o posto de mandatário caso Dilma caia. Mas como se diz no futebol, esse jogo previsível está começando e, segundo filosofava Abelardo Chacrinha Barbosa, só acabará quando terminar, e muitas águas ainda vão rolar. Por aqui, fico. Até a próxima. (#Envolverde)

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.