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Alexandre Saraiva, ex-superintendente da PF no Amazonas, explica motivações para enviar notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente

por Beatriz Mirelle Da Redação* – 

Esta matéria faz parte do PEPE (Programa Envolverde de Parcerias Estudantis) –

Delegado fala da operação Handroanthus GLO, exploração madeireira ilegal e suposta interferência política

O delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, participou da live “A difícil missão de proteger a Amazônia brasileira”, do Diálogos Envolverde. Na edição do dia 22 de abril, o entrevistado, responsável pela maior apreensão de madeira ilegal da história, falou de temas como exploração de recursos do meio ambiente, legislação e suposta interferência política na PF.

A exoneração dele da superintendência foi confirmada em 15 de abril, um dia após solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma investigação sobre as ações do ministro do Meio Ambiente. A justificativa foi que os posicionamentos de Ricardo Salles podem interferir na fiscalização do Poder Público. O senador Telmário Mota (Pros-RR) e o presidente do Ibama, Eduardo Bin, também entraram no texto. Agora, quem assume o cargo de Saraiva é o delegado Leandro Almada da Costa. 

Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas, ele foi entrevistado pelos jornalistas Ana Carolina Amaral, da Folha de S. Paulo, Dal Marcondes e Reinaldo Canto, ambos da Envolverde, e Dimas Marques, do portal Fauna News. Para o especialista, atualmente o Brasil enfrenta uma devastação gratuita. “O país vive um momento irracional. Não há uma relação positiva entre o PIB das áreas desmatadas e a exploração madeireira. O que existe é uma organização criminosa lucrando extraordinariamente com isso”, argumenta.

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Notícia-crime e operação Handroanthus GLO

A PF do Amazonas realizou a operação Handroanthus GLO no final de 2020. Nela, houve a apreensão de mais de 200 mil metros cúbicos de madeira, estimando cerca de R$ 130 milhões. Desde então, Ricardo Salles se opôs a operação e irregularidade dos madeireiros, tanto que se reuniu com esse grupo para que apresentassem documentações que provassem a inocência deles. “Houve grandes áreas de exploração fora do perímetro autorizado, mas também ocorreram liberações com base em fraude. Foi tudo ilegal. Todo mundo tem direito à opinião, não aos próprios fatos. A papelada que recebemos era a prova da grilagem. Corroboraram para o que estávamos falando.” 

Diante as atitudes de Salles, o ex-superintendente apresentou uma notícia-crime ao STF apontando os seguintes delitos: dificultar ação fiscalizadora do Poder Público no meio ambiente; exercer advocacia administrativa; e integrar organização criminosa. “Caso o Ministério Público Federal ou o judiciário não façam nenhuma observação sobre a operação, não cabe ao ministro do Meio Ambiente isso.” Quanto ao senador Temário, o delegado já observava alguns ataques dele nas redes sociais, mas, quando isso começou a tomar proporções para embaraçar uma investigação que tem como alvo um esquema ilegal, ultrapassou o limite da imunidade de opiniões. “Essas denúncias devem ser feitas com muito cuidado. Há uma diferença enorme entre achar algumas ações estranhas e apontar crimes. Agora, quem decide é o Supremo.” 

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Exploração e ilicitude

Saraiva comenta que as mudanças na PF são naturais e ele continua presidindo o inquérito desse caso, mas é necessário um arcabouço legislativo que evite a dúvida da sociedade sobre uma suposta interferência política. Ele afirma que a instauração do inquérito e comunicar a Corte Superior sobre a atuação de determinada pessoa com foro privilegiado são elementos decorrentes do cargo. Apesar de não desejar sair da superintendência, ele já imaginava que a exoneração era uma possibilidade. “Ao entrar em um embate como esse, que é inevitável porque decorre da função como delegado, sabia o que podia acontecer. Não digo que foi isso que motivou, mas é uma coincidência. Trabalhava com essa condição.”

Segundo o entrevistado, caso a emissão da notícia-crime seja a única razão para a saída dele da PF do Amazonas, isso mostra a força da organização criminosa por trás do mercado de madeira. “Essas negociações dão tanto dinheiro que temos existem casos de traficantes de drogas que migram para essa área.” Ele reforça que, pelo fato das penas florestais serem menores e pouco conhecidas, o risco da penalidade é menor, contribuindo para o aumento das ocorrências.

Com isso, o delegado frisa que a competitividade nesse ramo ilícito é insuperável. Apesar do Brasil ter tecnologia e organizações que desenvolvem trabalhos de manejo, o primeiro passo é impedir a continuidade e impunidade dos crimes. “É necessário atacar a raiz do problema, que são os processos produtivos que autorizam o desmatamento. Um documento administrativo fraudulento dentro do órgão estadual de meio ambiente é extremamente nocivo.” Sendo assim, focar na análise minuciosa na papelada que é entrega para liberação é uma das formas mais precisas para barrar esses casos, principalmente daqueles que desejam produzir madeira em áreas da União.

ASSISTA: Reportagem – Exploração madeireira 

Diálogos Envolverde

A entrevista completa com Alexandre Saraiva, ex-superintendente da PF de Amazonas, está disponível no YouTube e Facebook da Envolverde. Toda quinta-feira, às 11h, ocorre o programa Diálogos Envolverde com a participação de especialistas socioambientais.

*Conteúdo multimidiático produzido por estudantes de Jornalismo Presencial da Universidade Metodista de São Paulo, sob a supervisão das professoras Alexandra Gonsalez, Eloiza de Oliveira Frederico, Filomena Salemme e Wesley Elago.

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