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Antiga e Barbuda aposta nas energias renováveis

Linhas da rede elétrica em Antiga e Barbuda. Este país do Caribe toma medidas para conseguir segurança energética mediante tecnologias limpas. Foto: Desmond Brown/IPS
Linhas da rede elétrica em Antiga e Barbuda. Este país do Caribe toma medidas para conseguir segurança energética mediante tecnologias limpas. Foto: Desmond Brown/IPS

Bahia Hodges, Antiga e Barbuda, 17/10/2014 – Ruth Spencer é uma pioneira da energia solar em Antiga e Barbuda, onde promove as tecnologias renováveis e colabora para que seu país cumpra o objetivo de reduzir em 20% o uso de combustíveis fósseis até 2020. Ela também acredita que as pequenas organizações não governamentais têm que desempenhar um papel crucial nos grandes projetos que procuram atender os problemas causados pela queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás.

Spencer, coordenadora nacional do Programa de Pequenas Doações (PPD), do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), em Antiga e Barbuda, está à frente da iniciativa de reunir representantes da sociedade civil, do setor empresarial e de organizações não governamentais para capacitá-los sobre os perigos da mudança climática. “O PPD/GEF será o mecanismo para chegar às comunidades e prepará-las de antemão para o que virá”, indicou à IPS. O PPD no Caribe oriental está a cargo do escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) em Barbados.

“Como a mudança climática tem forte impacto nas ilhas gêmeas de Antiga e Barbuda, é importante reunirmos todos os atores”, apontou Spencer, economista especializada em desenvolvimento da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que também coordena a Rede de Áreas Marinhas do Caribe Oriental, fundada pelo governo alemão. “Os desenvolvimentos costeiros correm um grande perigo e gostaríamos de compartilhar as conclusões do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) com eles para que vejam por eles mesmos o que dizem todos os cientistas”, acrescentou.

“Estamos em uma ilha pequena e temos de construir sinergias e redes e nos associarmos. Com a informação se manterão informados e realizaremos um acompanhamento para que juntos possamos atender o problema de maneira holística”, afirmou Spencer.

O IPCC enviou aos governos um rascunho final do informe de síntese, que descreve um cenário difícil sobre as causas do aquecimento global e as consequências sobre os humanos e o ambiente. O documento também apresenta algumas respostas para o fenômeno.

Ruleta Camacho, coordenadora de projeto para o mecanismo de gestão sustentável dos recursos ilhéus, do Ministério do Ambiente de Antiga e Barbuda, disse à IPS que há observações documentadas sobre como o aumento do nível do mar causa a erosão da costa e a destruição de infraestrutura na região. Ela também disse que há provas da acidificação dos oceanos e do branqueamento dos corais, um aumento na prevalência de eventos climáticos extremos, como chuvas excessivas e secas prolongadas, tudo o que prejudica a indústria turística.

“As secas e as chuvas têm um impacto no turismo por terem consequências nos serviços complementares. As secas afetam a produtividade de alimentos locais, bem como o fornecimento de água do setor hoteleiro”, detalhou Camacho. “As chuvas causam inundações, por isso se passa dias sem ser possível chegar a certos locais. Além disso, prejudica os hotéis, já que afeta os turistas e também o pessoal. Se uma tempestade nos atinge, temos queda instantânea e significativa da produtividade do setor hoteleiro”, acrescentou.

Antiga e Barbuda, conhecida por suas arenosas praias e seus centros turísticos de luxo, recebe quase um milhão de visitantes por ano. O turismo representa entre 60% e 75% do produto interno bruto e emprega quase 90% da população. A especialista Ediniz Norde concorda que o aumento do nível do mar, provavelmente, piore o estresse ambiental ao causar escassez de água doce.

“Em Saint John (capital de Antiga e Barbuda), há muito tempo vivemos a invasão de água salgada até a rua Tanner, que a dividiu em duas. Era uma única rua e agora a percorre uma grande canaleta”, contou Norde. “Agora temos ideia de como a água pode chegar longe, isso é o ambiente que podemos perder, o espaço de terra que podemos perder em Saint John. É uma realidade que não poderemos evitar se não agirmos agora”, ressaltou.

Na medida em que o clima continuar esquentando, as chuvas em Antiga e Barbuda diminuirão, segundo os prognósticos, e os ventos e as precipitações associadas a tempestades causadas por furacões poderão se intensificar. Os cientistas dizem que essas mudanças provavelmente amplifiquem o impacto do aumento do nível do mar nas ilhas.

Porém, Camacho afirma que a mudança climática oferece oportunidades para Antiga e Barbuda e que este país tem um papel a cumprir para implantar medidas de mitigação. Segundo ela, essas medidas e a construção de infraestrutura de energias renováveis podem significar benefícios econômicos de longo prazo.

“Se reconvertermos a população o mais rápido possível em termos de capacitação técnica e nos voltarmos ao mercado renovável podemos, de fato, marcar a tendência no Caribe e oferecer serviços a outros países da região. Isso é um passo econômico decisivo”, afirmou Camacho.

“Além do mais, o quanto antes nos voltarmos ao mercado renovável menores serão nossos custos de energia, e se pudermos baixá-los, abriremos a produtividade econômica a outros setores, não só no turismo. Se pudermos baixar nosso gasto em eletricidade teremos fundos para melhorar o turismo e oferecer um produto melhor”, ressaltou Camacho. Envolverde/IPS