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A China avança várias casas dentro do FMI

Zhu Min

Londres, Grã-Bretanha, 29/7/2011 – O chinês Zhu Min, novo subdiretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), é conhecido nas capitais financeiras do Ocidente por ter alertado, já em 2007, sobre os perigos dos créditos hipotecários de alto risco nos Estados Unidos e suas severas consequências para a economia mundial. “Há dinheiro em todas as partes”, disse Zhu em um discurso quando ainda era um funcionário do Banco Central da China pouco conhecido no mundo. “Pode-se obter liquidez do mercado a cada segundo e por qualquer coisa. Assim, as pessoas investem em bens sem terem ideia dos riscos que assumem”, acrescentou.

Os centros financeiros de Nova York e Londres ignoraram sua advertência, que, no fim, contradizia a posição oficial do principal vigilante financeiro do mundo. Desde então, o FMI mudou de rumo em matéria de derivados financeiros e também aderiu à sabedoria de Zhu Min, convertendo-o primeiro em assessor especial e agora em subdiretor-gerente. Zhu Min é o primeiro chinês a ocupar um cargo tão alto no FMI, com sede em Washington. Sua designação segue a tendência de promover economistas dessa nacionalidade às mais altas esferas das instituições de Bretton Woods que regem a ordem econômica e financeira mundial desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Em 2008, o Banco Mundial designou o economista chinês Lin Yifu vice-presidente sênior e economista-chefe. As duas nomeações foram interpretadas na China e no resto do mundo como um reconhecimento à importância da crescente economia e às ambições políticas internacionais dessa potência emergente. Pequim teve cuidado em retratar as duas designações como uma vitória para as economias emergentes em conjunto, e como parte do processo de reforma das instituições desenhada para dar mais voz ao mundo em desenvolvimento.

“Estamos muito satisfeitos com a designação de Zhu Min como subdiretor-gerente do FMI por parte da diretora-gerente, Christine Lagarde”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hong Lei, quando a escolha foi anunciada. “Acreditamos que significa uma grande melhora no papel dos países emergentes e em desenvolvimento dentro do FMI, o que será benéfico para melhorar a estrutura da organização”, acrescentou. O elemento chinês foi minimizado nos pronunciamentos oficiais, mas alguns analistas destacam que Zhu jogará a carta da China ao fazer o que os atores internacionais desse país fazem melhor: exercer influência nos bastidores.

“Contrariamente ao que alguns creem, o maior papel que Zhu Min pode desempenhar no FMI não será ter ingerência na distribuição do dinheiro”, afirmou Mei Xinyu, assessor do Ministério do Comércio da China. “Sua tarefa principal será impulsionar, gradual e sub-repticiamente, uma mudança no modo como o FMI pensa e opera, para que possamos ver novas decisões econômicas e pronunciamentos mais realistas”, acrescentou.

Em um artigo publicado no China Securities Journal, Mei recordou a todos que seu país tem as maiores reservas de divisas do mundo e que é improvável que aceite um resgate financeiro no curto prazo. Também afirmou que de modo algum a China já absolveu o FMI de suas tarefas na Ásia ao promover a criação de um Fundo Monetário Asiático. Mei é um dos muitos mandarins que acreditam que, apesar das contribuições cada vez mais importantes da China à estrutura econômica mundial, este país sofre preconceito por parte do FMI.

Pequim não gostou muito das recentes advertências sobre sua moeda, o yuan, estar desvalorizada e necessitando de rápido ajuste. O Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista, publicou na semana passada uma longa refutação do informe anual do FMI. Em resposta à aproximação entre o FMI e Pequim para aliviar seus riscos de inflação e a bolha hipotecária valorizando o yuan, o jornal disse que a crise de dívida que afeta os países ocidentais é a culpada pela inflação na China.

“As propostas do FMI não podem ajudar a China a abordar de modo efetivo a inflação importada, porque enquanto Estados Unidos e Europa continuarem sofrendo crise de dívida mais ‘dinheiro quente’ (especulativo) inundará a China, o que levará a uma elevada inflação e à contínua expansão da oferta de dinheiro”, acrescentou.

Pequim espera que a nomeação de Zhu Min ajude a mudar a perspectiva do FMI que, segundo os chineses, está centrada no Ocidente. Seus colegas chineses o veem como um negociador de voz suave e se considera que domina os códigos manejados tanto no círculo financeiro chinês quanto no internacional. Zhu, de 59 anos, ocupou vários postos no Banco da China e trabalhou como economista no Banco Mundial antes de ser designado assessor especial do FMI em 2010. Envolverde/IPS