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A difícil redução da mortalidade materna na África

Foto: Reprodução/Internet

Adis Abeba, Etiópia, 30/1/2013 – A cada dia morrem, em média, 452 mulheres na África subsaariana por complicações derivadas da gravidez e do parto. Diante disso, os governantes reunidos na capital da Etiópia renovaram seu compromisso de reduzir esse flagelo. A União Africana (UA) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) lançaram, em maio de 2009, a Carmma (Campanha para a Redução Acelerada da Mortalidade Materna na África), para ampliar a disponibilidade de serviços de saúde reprodutiva e deixar o continente mais perto de cumprir o quinto dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que trata desse tema.

Antes da reunião da Carmma, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, pediu urgência aos chefes de Estado no sentido de se comprometerem com os ODM, em particular com a redução da mortalidade materna em três quartos entre 1990 e 2015 e garantir acesso universal à saúde reprodutiva. Contudo, apesar das promessas, o continente ainda tem muito caminho pela frente até chegar a cumprir essa meta. A África subsaariana reduziu a mortalidade materna em 41%, em média. O diretor-executivo do UNFPA, Babatunde Osotimehin, observou que a região conseguiu êxitos significativos, mas que são necessárias reuniões de alto nível, como a do dia 27. “A África sabe o que e como fazer, mas existem desafios”, disse à IPS.

O comissário da UA para Assuntos Sociais, Mustapha Kaloko, não está convencido de que a África alcançará o objetivo até 2015, mas acredita que a Carmma tem capacidade para acelerar a redução da mortalidade materna. “A natureza única da campanha é que não pede nada de novo”, disse Kaloko à IPS. “Não estamos desenvolvendo novos planos, mas melhorando os instrumentos que já temos”, acrescentou, lembrando que foi possível prevenir a maioria das mortes maternas na África com a utilização de práticas e intervenções existentes.

Um estudo da revista médica The Lancet conclui que uma mulher da África subsaariana tem quase cem vezes mais possibilidades de morrer por complicações derivadas da gravidez e do parto do que outra de um país rico. Também afirma que oito dos dez países com maior taxa de mortalidade materna estão na África, e que a lista é liderada por Nigéria e República Democrática do Congo.

Outro grande desafio, de acordo com Osotimehin, é o grau de compromisso político das nações para reduzir a mortalidade materna no continente. “Não se trata de dinheiro, mas sim de compromisso. Estamos aqui para garantir que nenhuma mulher morra dando vida”, ressaltou. A grande maioria das mortes maternas, cerca de 57%, ocorre na África, a maior taxa do mundo.

Mas não é só a mortalidade materna que preocupa os especialistas em desenvolvimento e os médicos locais, pois para cada morte vinculada à gravidez e ao parto cerca de 20 mulheres sofrem complicações antes, durante e depois de darem à luz, o que deixa mães e bebês com deficiências ou problemas médicos para toda a vida. Graves sangramentos, infecções, pressão alta e abortos praticados em condições inseguras são as causas mais comuns de complicações e mortes, segundo o UNFPA.

Para Dorothee Kinde Gazard, ministra da Saúde de Benin, os números são exorbitantes. “Todos os níveis da sociedade, em especial a escala comunitária, têm de estar envolvidos e comprometidos para garantir que nenhuma mulher morra ou fique incapacitada”, afirmou. Benin adotou medidas para reduzir as mortes maternas melhorando os serviços de coleta de dados em clínicas e hospitais. “Todas as mortes ficam registradas, de forma que podemos saber o motivo dos falecimentos e como evitá-los”, explicou Gazard à IPS.

O crescente uso de serviços de planejamento familiar teve êxito em vários países, como Malawi, Tanzânia e Zâmbia. Outra solução é reduzir a mortalidade materna evitando casamentos precoces, pontuou Osotimehin. “Estes casamentos criam uma situação em que as meninas criam crianças sem estarem física ou psicologicamente preparadas”, acrescentou. No Níger, cerca de três quartos das mulheres se casam ainda na adolescência.

As meninas grávidas entre dez e 14 anos têm cinco vezes mais probabilidades de morrer durante a gravidez do que as que estão na faixa dos 20 anos, segundo informe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), enquanto com idades entre 15 e 19 têm o dobro de probabilidades. A Carmma se concentra principalmente na saúde das mulheres, mas os homens têm um papel importante na campanha. Osotimehin disse que todos devem se dar conta de que as altas taxas de mortalidade materna não são aceitáveis. “Temos que falar com os homens porque são os que causam estes problemas”, ressaltou.

Gazard concorda que a participação masculina é crucial. “Sem eles não conseguiríamos reduzir a mortalidade materna”, afirmou. Para envolver os homens, Benin lançou um projeto em que os incentiva a acompanhar as esposas nos exames pré-natais.

Até agora, a Guiné Equatorial é o único país africano entre os dez que alcançaram o quinto ODM. Figuras influentes como Michelle Bachelet, diretora-executiva da ONU Mulheres, estão convencidas de que pouquíssimos países africanos conseguirão reduzir a mortalidade materna em 75% até 2015. “Temos que nos concentrar em aumentar os esforços, mas já temos que começar a pensar no que acontecerá depois de 2015”, disse Bachele à IPS. Envolverde/IPS