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A questão é quando atacar

Jerusalém, Israel, 29/2/2012 – “A calma antecede a tempestade”. Assim é como os especialistas israelenses descrevem a contagem regressiva para um ataque unilateral de seu país contra o Irã e para a reunião da próxima semana entre o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente norte-americano, Barack Obama.

Depois que altos enviados dos Estados Unidos peregrinaram na semana passada até Jerusalém, agora cabe aos líderes israelenses irem a Washington. Netanyahu será recebido no dia 5 de março, na Casa Branca, dois dias depois do presidente israelense, Shimon Peres.

As reiteradas advertências norte-americanas prévias às reuniões dos hierarcas não poderiam ser mais diretas. “Neste ponto não é prudente atacar o Irã”, advertiu o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, Martin Dempsey, à rede de televisão a cabo CNN. “O governo norte-americano confia que os israelenses compreendem nossas preocupações”, acrescentou. Entretanto, para os que tomam as decisões do lado israelenses, o que importa é a confiança e não as “preocupações” dos Estados Unidos.

Eles apreciam o esforço internacional liderado por Washington para conter as atividades nucleares do Irã. Inclusive, estão dispostos a dizer, em particular, que as sanções vão além de suas expectativas iniciais. Contudo, por que envolver em ambiguidade a data de um potencial ataque contra o Irã se não for com fins táticos? “O Irã é um ator racional. Não decidiu fabricar uma arma nuclear”, afirmou Dempsey claramente.

Segundo informou o jornal The New York Times no dia 25, a avaliação de Dempsey foi corroborada por 16 agências de inteligência dos Estados Unidos, embora a Agência Internacional de Energia Atômica tenha informado, no dia anterior, que Teerã havia acelerado seu programa de enriquecimento de urânio desde seu relatório de novembro do ano passado.

A mensagem que se transmite aqui é que o que os Estados Unidos buscam é convencer o Irã de que pode ser alvo de sanções ainda mais severas se não adotar medidas razoáveis em relação ao seu programa nuclear. Netanyahu declarou mais de uma vez que um Irã nuclear representa uma “ameaça existencial” não apenas para Israel, mas para todo o mundo, e que, portanto, não pode ser tolerada. Suas declarações coincidem com a postura de Washington de que “todas as opções estão sobre a mesa”.

Porém, no dia 23 deste mês emitiu uma advertência: “Parem com essa conversa fiada. Causa dano”, instruiu Netanyahu ao seu gabinete. “Não deveríamos dar tanta informação sobre este assunto”. A pergunta é a quem se dá “tanta informação”. Em todo caso, o que preocupa os Estados Unidos não é o que Netanyahu diz, mas o que não diz.

Fazer com que todos atores importantes perguntem se de fato é iminente um ataque israelense contra o Irã – em declarações ao The Washington Post, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, León Panetta, considerou possível na primavera boreal – tem apenas um propósito. Não há ilusões de que uma ameaça de ataque israelense consiga dissuadir o Irã de seguir em sua corrida nuclear. Pelo menos pode impedir que a frente internacional contra Teerã baixe a guarda.

“Até agora, a opção militar demonstra ser um êxito diplomático”, afirma o colunista Ari Shavit. “Serviu para sacudir a comunidade internacional de sua apatia e dar uma contribuição definitiva à intensificação do sítio diplomático e econômico contra o Irã”. Assim, o que se pode esperar da importante reunião que acontecerá na Casa Branca? O certo é que Obama não quer criar a impressão de que seu país se arrisca a ser arrastado por Israel para um ataque contra o Irã.

O grau de coordenação entre os dois países aliados é tal que se Israel atacar o Irã será extremamente difícil para Washington convencer a comunidade internacional – especialmente os Estados árabes pós-revolucionários com os quais está comprometido em reconstruir a confiança – de que não sabia que o Estado judeu agiria unilateralmente, ou que não queria que o fizesse.

O pior é que ninguém está realmente seguro de como será o impacto desse ataque unilateral sobre um Oriente Médio cada vez mais volátil. Os Estados Unidos podem perder facilmente o controle dos acontecimentos e se encontrarem envolvidos militarmente em qualquer caso. Para que a oposição norte-americana a um ataque israelense tenha credibilidade precisa estar acompanhada por mais do que palavras, algo inconcebível durante uma campanha eleitoral.

O único recurso de Obama será ter o compromisso de Netanyahu – ainda que em particular – de que Israel adiará a opção de uma intervenção militar no Irã. Em troca, sem dúvidas, Netanyahu obterá uma reiteração do costumeiro “apoio incondicional” dos Estados Unidos à segurança de Israel. Mas isto não basta. Netanyahu não confia totalmente em Obama.

“Se o presidente quer impedir um desastre, dever dar a Netanyahu garantias férreas de que Washington deterá o Irã de qualquer maneira que for necessário, e a qualquer preço, depois das eleições. Se Obama não fizer isto, obrigará o primeiro-ministro a agir antes das eleições deste ano”, escreveu Shavit na edição do final de semana do jornal israelense Haaretz.

Dentro dos círculos diplomáticos e de defesa norte-americanos-israelenses afina-se o debate sobre um eventual ataque ao Irã: já não se refere tanto à probabilidade de que ocorra, mas à data em que terá lugar. Quanto mais o mês de novembro se aproxima, menos probabilidades haverá de um ataque israelense. Entretanto, não pelas condições meteorológicas, mas pelo clima eleitoral nos Estados Unidos.

Uma guerra preventiva seria vista como uma grossa interferência nos assuntos internos dos Estados Unidos. E este é um risco que Netanyahu, prudente e versado em política norte-americana, não estará disposto a assumir. Se ficar claro que a ação contra o Irã será adiada até novembro, por que Israel não dissiparia já as preocupações dos Estados Unidos? No momento, a perspectiva de um ataque unilateral contra o Irã, inclusive depois de novembro, é a maior arma diplomática de Israel. Envolverde/IPS