CBUC termina com a mensagem de que unidades de conservação são vetores de desenvolvimento sustentável

Com um saldo de mais de mil participantes, quase 200 atividades realizadas e 16 moções aprovadas, terminou na quinta-feira (27) o VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC)

Espaço de exposições do evento.

“Você não pode ir embora sem conhecer o maior cajueiro do mundo e nadar com os golfinhos em Pipa”. A declaração é de um taxista que transporta todos os dias dezenas de passageiros do aeroporto para hotéis em Natal (RN). A frase demonstra a consciência de um povo que sabe a importância que a natureza tem para o turismo, atividade que representa uma grande parcela da movimentação econômica da região. Foi nesse ambiente, com vista para o exuberante Parque das Dunas de um lado e a praia de Ponta Negra do outro, que aconteceu, entre 24 e 27 de setembro, no Parque de Convenções de Natal, o VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC).

O evento organizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza atraiu mais de mil pessoas de 26 estados do Brasil e do Distrito Federal, além de participantes vindos de sete países. Foram mais de 50 conferências, simpósios e palestras, sete lançamentos de livros, 17 reuniões técnicas e outras reuniões e eventos paralelos ao programa oficial. Foram apresentados também 119 trabalhos técnicos que abordaram diversos assuntos relacionados ao tema principal do Congresso: “Áreas Protegidas: Um Oceano de Riquezas e Possibilidades”.

Estavam presentes representantes das três esferas do governo e das mais importantes organizações ligadas à preservação da natureza, como WWF Brasil, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), SOS Mata Atlântica, Imaflora, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Fundo Vale, e dezenas de outras instituições.

Entre os palestrantes figuraram nomes de peso, como o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador, Carlos Eduardo Young, o biólogo Fabio Moretzsohn, Ph.D em biodiversidade marinha e cientista assistente de pesquisa do Harte Research Institute for Gulf of Mexico Studies, vinculado à Texas A&M University, dos Estados Unidos, o geólogo norte-americano John Amos, presidente da organização não governamental SkyTruth, e Robert Williams, diretor científico da Sociedade Zoológica Frankfurt, organização que atua com conservação e áreas protegidas no Peru desde 1972, entre muitos outros acadêmicos e profissionais que exercem as mais diversas funções ligadas de alguma maneira a unidades de conservação (UCs).

Muitos destes palestrantes foram uníssonos ao declarar a importância de um novo discurso para que a sociedade compreenda não apenas a importância ambiental, mas também o valor econômico das UCs. O turismo foi destacado como um setor com potencial bilionário de geração de renda. “Esta é uma cadeia imensa, que envolve desde o guia local, até a companhia aérea”, disse Young. Seguindo a mesma linha de pensamento, Roberto Ricardo Vizentin, presidente do ICMBio, afirmou que as UCs devem ser locais mais abertos à sociedade. “Fica difícil explicar qual é a importância de um parque se nem a população do entorno puder perceber quais são os benefícios”, declarou Vizantin.

A valorização dos serviços ambientais prestados pelas comunidades que vivem em áreas de preservação também foi um ponto de consenso, assim como a necessidade de ampliação e melhor gestão das áreas protegidas nas regiões costeiras e marinhas. Nos encontros técnicos, muitos estudos comprovaram os impactos que as mudanças climáticas já estão causando à biodiversidade do planeta e uma mostra na área de convivência apresentou aos participantes algumas das 627 espécies de animais que correm risco de extinção no Brasil.

Durante os três primeiros dias de debates, os participantes puderam encaminhar à organização do CBUC moções sobre assuntos relacionados à temática do evento. As propostas precisavam estar acompanhadas da assinatura de pelo menos 50 participantes oficialmente inscritos. No último dia do Congresso, essas moções foram votadas. Dentre as 22 apresentadas, 16 foram aprovadas, e serão encaminhadas para os órgãos competentes, indicados pelos proponentes. Uma delas, elaborada em repúdio ao novo Código Florestal, votado pelo Senado na noite de terça-feira (25), foi aprovada antecipadamente.

Compõem a lista de moções aprovadas, por exemplo, pedidos de revisão de licenças de grandes empreendimentos, solicitação de mais atenção à preservação dos remanescentes de floresta de araucária no Paraná, e um requerimento de realização de concurso público para suprir o corpo técnico das UCs brasileiras. Clique aqui para conhecer a lista completa.

O evento foi encerrado com um discurso da diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Malu Nunes, que destacou a importância de que os debates lá realizados sirvam de pontapé inicial para novas iniciativas. “Esperamos que as discussões e reflexões provocadas nesse Congresso sejam disseminadas e sirvam de inspiração para mobilizar as organizações e a sociedade na busca de alternativas viáveis nos âmbitos ambiental, social e econômico em favor da proteção da biodiversidade, das áreas protegidas e da mitigação das mudanças climáticas”, concluiu. (Envolverde)