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Civis somalianos presos em nova ofensiva contra a Al Shabaab

Restos de um dos carros-bomba usados para atacar o palácio presidencial de Mogadíscio, no dia 21. Nove combatentes islâmicos morreram no ataque. Foto: Ahmed Osman/IPS
Restos de um dos carros-bomba usados para atacar o palácio presidencial de Mogadíscio, no dia 21. Nove combatentes islâmicos morreram no ataque. Foto: Ahmed Osman/IPS

 

Mogadíscio, Somália, 26/2/2014 – O governo da Somália prepara uma nova campanha militar para expulsar o grupo radical islâmico Al Shabaab de seus redutos, mas especialistas alertam que a população civil nessas áreas será seriamente afetada. No dia 21, a Al Shabaab, organização vinculada à rede extremista Al Qaeda, lançou um ataque sem precedentes contra o palácio presidencial em Mogadíscio, no qual morreram 12 pessoas incluindo nove combatentes islâmicos.

Pouco depois, o governo e a Missão da União Africana na Somália (Amisom) anunciaram que ultimavam os detalhes de uma campanha militar contundente contra os extremistas. O alto comandante militar somaliano Ise Guled infomrou à IPS em Mogadíscio que os preparativos para a “investida final” contra os combatentes islâmicos no sul e centro deste país do Chifre da África estão “em suas últimas fases”.

“Lançaremos uma ofensiva contra esse grupo em coordenação com nossos aliados, e nos livraremos dessa ameaça de uma vez para sempre”, afirmou Guled, sem fornecer detalhes de quando a operação terá início. Entretanto, Yusuf Alay, acadêmico em Mogadíscio, disse à IPS que a “opressão” dos islâmicos sobre os cidadãos comuns se agravará se o governo atacar. A Al Shabaab teve de se retirar do sul e centro do país, mas ainda controla zonas onde impõe a shariá (lei islâmica) e recruta e treina novos combatentes.

Alay advertiu que o grupo começará a impor rigorosos toques de recolher e proibições gerais ao uso de telefones inteligentes nas áreas sob seu controle. A Al Shabaab já obrigou a maior empresa de telecomunicações do país a cancelar seu serviço de internet móvel, argumentando que este permite que “o inimigo” rastreie seus movimentos. Alay acrescentou que a Al Shabaab doutrinará e recrutará mais jovens.

“O grupo radical aplica uma forma mais rígida da shariá, com as piores formas de castigo. Também cobra altos impostos de pessoas pobres para poder financiar suas atividades, depois que perdeu o controle de portos estratégicos no sul”, afirmou Alay. Porém, admitiu que os residentes de “Shabaabistão” (como é conhecido o território controlado pelos radicais) estarão melhor se o grupo for derrotado.

Mohammad Muse, analista militar em Mogadíscio, afirmou que a campanha contra a Al Shabaab está em preparação há meses, mas recebeu nova força depois que a organização atacou o centro comercial de Westgate em Nairóbi, capital do Quênia, em setembro de 2013, matando pelo menos 72 pessoas.

“Sabemos que há uma clara compreensão no governo somaliano e na Amisom da necessidade de acabar com a Al Shabaab, para que a tarefa de reconstruir a nação possa acontecer sem tropeços. Por isso, é questão de tempo para que essa ação se concretize”, ressaltou Muse à IPS. No mês passado, depois que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) autorizou um aumento no número de soldados da Amisom, quase 4.300 efetivos etíopes se integraram à força, que já contava com 17.500 homens.

Matt Bryden, diretor do Sahan Research, centro de estudos com sede no Quênia, opinou em um informe para o Programa da África do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, dos Estados Unidos, que Al Shabaab poderia perder todo o território atualmente sob seu controle em caso de uma grande ofensiva militar.

“Diante de um reforço da Amisom, que se prepara para reiniciar as operações ofensivas, é provável que a Al Shabaab sofra reveses militares, incluindo a perda dos redutos que lhe restam”, pontuou Bryden em um informe. Conforme mais soldados etíopes chegam ao sul e centro da Somália, combatentes da Al Shabaab fogem para seus redutos em El Bur, Hudur e Barawe.

As forças do governo e da Amisom já recuperaram duas localidades, Hagar, no sul, e Gandershe, perto de Mogadíscio, com ataques de surpresa. Porém, Bryden apontou que o grupo radical já antecipa uma “luta desigual” diante das forças do governo, e portanto adotou uma estratégia que lhe permita “sobreviver como uma força poderosa na Somália e na região”. E acrescentou que, “no curto prazo, a Al Shabaab não está jogando para ganhar, mas para sobreviver, subverter e surpreender”.

Muse concorda, mas afirmou que a Somália precisa de uma solução definitiva. “Prevemos que haverá atividades insurgentes no curto prazo mesmo se o grupo for derrotado militarmente, e essa é sempre a natureza das operações contrainsurgentes. Mas creio que se pode erradicar a Al Shabaab da região”, enfatizou. Envolverde/IPS