Crescimento do manejo florestal esbarra em desafios

Desenvolvimento da atividade depende de mão-de-obra capacitada, maior envolvimento das comunidades e sistemas de certificação de qualidade.

Até o fim do ano, o Pará terá 1 milhão de hectares sob concessão para manejo florestal sustentável. A estimativa, que considera apenas as ofertas de áreas já em andamento, é do diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Antonio Carlos Hummel. Ele participou da primeira etapa de discussão no Fórum Fundo Vale – Os Desafios da Educação para o Manejo Florestal Sustentável, onde ressaltou o momento favorável para o desenvolvimento da atividade, e também os desafios.

“Existem áreas disponíveis e um ambiente institucional com normas instituídas, mas é importante avançar em processos de qualidade, como a certificação da madeira. Precisamos ter atenção à nossa reputação para voltarmos a vender para grandes mercados”, resumiu.

Marco Lentini, representante do Instituto Floresta Tropical (IFT), organização da sociedade civil com mais de 30 anos de experiência na capacitação de profissionais para o manejo florestal, citou um estudo realizado em Paragominas sobre o potencial econômico da atividade. Segundo ele, a madeira produzida sob manejo apresenta um custo 12% menor do que a de área não manejada, provocando a metade do impacto sobre a floresta.

Na avaliação de Marco, porém, a falta de mão-de-obra capacitada de forma adequada é um grande gargalo da atividade. “Existem hoje 58 cursos em engenharia florestal no país, dos quais 15 na região Norte, mas a quantidade de formandos por ano não chega a mil”, afirma Marco, que estima a existência de mais de dez mil postos de trabalho na atividade nos próximos anos.

Também presente na abertura do evento, o secretário de Assuntos Estratégicos do Pará, Sidney Rosa, relatou as primeiras ações do governo que assumiu em janeiro para mapear a situação nas áreas de florestas. Segundo ele, o Estado tem recebido representantes de vários setores interessados em desenvolver atividades nessas regiões. “Em todos os casos, nos deparamos com o apagão de mão-de-obra”, conta ao ressaltar o esforço governamental para contratação e compra no próprio Pará.

Capacitação é o primeiro foco do Fundo Vale no apoio a projetos de manejo florestal na região. Para isso, a instituição se associou à Fundação Roberto Marinho (FRM) para desenvolver o Programa de Educação para o Manejo Florestal, nos moldes do Telecurso, iniciativa pioneira no desenvolvimento de tecnologias educacionais que se utilizam de recursos audiovisuais.

Além da Fundação Roberto Marinho, o projeto de capacitação será desenvolvido em parceria com organizações não governamentais, instituições ligadas ao tema e com a rede pública de ensino de estados da região amazônica. “O objetivo do Fórum é debater os desafios para o desenvolvimento desse projeto, já que não se trata apenas de transmitir informação teórica, mas de despertar vocações para carreiras em manejo florestal de impacto reduzido”, afirma a gerente de Meio Ambiente da FRM, Andrea Margit.

Manejo pode ajudar a reduzir desmatamento

A gerente do Fundo Vale, Mirela Sandrini, estima que, considerando a Amazônia e outros biomas no território brasileiro, são aproximadamente 241 milhões de hectares de florestas que podem ser exploradas de forma sustentável. Mesmo assim, essa alternativa econômica para as regiões evoluiu muito pouco nos últimos anos.

“Trata-se de um modelo que pode contribuir para a redução da exploração ilegal de madeira e do desmatamento na Amazônia. Entretanto, sua implementação evoluiu muito pouco e um dos problemas é a falta de profissionais qualificados”, explicou Mirela, citando a complementariedade do projeto de manejo com as atividades de monitorar o desmatamento que o Fundo Vale já apoia. “Com o geoprocessamento, conseguimos identificar áreas em risco e atuar junto ao poder público para que sejam desenvolvidas políticas preventivas, como o manejo”, resumiu.

A representante do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Maria José Gontijo, chama atenção ainda para o papel das comunidades nesse processo. Sem o envolvimento e o reconhecimento da população que vive na região, a extração ilegal tende a continuar sendo mais atrativa. “É preciso atrair o interesse dessas pessoas. A legitimação das políticas públicas só ocorre quando as populações as adotam”, completou.