Kusatsu, Japão, 6/5/2011 – Tadanori Anzai e sua mulher, Michiko, abandonaram a cidade de Minamisoma, na localidade japonesa de Fukushima, há mais de um mês para fugir da radioatividade da central nuclear danificada pelo terremoto de março, localizada perto de sua casa e de seu pequeno restaurante. Com outras 60 pessoas, o casal e seus netos foram de ônibus até esta cidade conhecida por suas termas, 160 quilômetros a Oeste de Minamisoma, no dia 25 de março, a convite do governo local.
“Sobrevivi ao terrível terremoto e ao tsunami que atingiu Fukushima naquele dia fatídico. Mas sinto que minha situação atual é muito pior do que a de outras pessoas que perderam tudo no desastre natural”, disse Tadanori, de 58 anos. A família Anzai está entre as milhares de pessoas que deixaram áreas afetadas pela radiação. Muitas delas ainda estão em lugares preparados apressadamente para abrigar os refugiados segundo as últimas normas do governo japonês de manter uma área de exclusão de 30 quilômetros ao redor da usina nuclear.
Os Anzai chegaram a Nakamura Ryokan, um dos albergues mais antigos de Kusatsu, uma pequena cidade de sete mil habitantes. “Fomos calorosamente recebidos pelos proprietários e estamos muito agradecidos por termos um lugar onde viver. Mas horrível é não poder regressar, e estamos absolutamente conscientes de que nunca poderemos voltar a ver nosso lar”, disse Tadanori.
O convite feito pelo governo de Kusatsu às comunidades afetadas de Minamisoma oferece abrigo temporário até que as pessoas possam regressar, disse à IPS o funcionário Takashi Nakazawa. “Kusatsu não é um povoado rico nem com a infraestrutura necessária para receber os recém-chegados que precisam de trabalho e outros tipos de ajuda. Fazemos o que podemos, mas os recursos são escassos e não vão durar muito”, acrescentou.
A falta de perspectiva nacional para guiar o futuro dos primeiros refugiados depois da guerra mostra a assombrosa falta de preparo do Japão para lidar com uma crise nuclear, segundo numerosos especialistas. “Não há lições a aprender porque o acidente nuclear leva ao deslocamento de grandes quantidades de pessoas que não poderão voltar para suas casas pelo menos por vários anos”, disse o professor Yoshiteru Murosaki, diretor do departamento de investigação de desastres da Universidade Kwansei Gakuin.
O êxito da recolocação não consta apenas da entrega de novas casas, mas também de criar empregos semelhantes aos que tinham antes do desastre, o que buscam os recém-chegados, explicou Murosaki, que dirigiu um projeto de pesquisa sobre a reconstrução de povoados e comunidades após o terremoto de Kobe em 1995. “Além disso, os japoneses não gostam de permanecer divididos e uma solução é que as casas temporárias estejam perto de seus lares anteriores, esta é outra das chaves do reassentamento”, acrescentou.
As políticas nesta oportunidade não consideraram esses aspectos cruciais, lamentou Murosaki. “O governo ainda tenta, a duras penas, lidar com uma situação difícil sobre uma base temporária e não tem respostas de longo prazo”, ressaltou. Os especialistas reclamam subsídios para os governos locais que receberam os refugiados bem como um esforço concentrado nas preocupações e ideias dessa gente. É urgente lidar com eles de forma mais humana, disse o professor Ikuo Kobayashi, de acordo com sua experiência na reconstrução de povoados após o terremoto de Kobe.
“Ao contrário do que ocorre com os desastres naturais, os refugiados devido à radiação não têm perspectiva de regresso. Naturalmente, há tensões e explosões pela frustração que gera uma situação que não lhes oferece alívio no longo prazo”, explicou Kobayashi. Estima-se que um terço das 75 mil novas unidades habitacionais temporárias, estimadas como as necessárias para realocar essas pessoas após o desastre de março, será reservado para as que tiveram que abandonar áreas contaminadas.
Tadanori e seus anfitriões em Kusatsu trabalham duro para desenvolver vínculos mais estreitos enquanto pensam no futuro. A encarregada do abrigo, Hiromi Nakamura, está contente com o papel de anfitriã e sente “profundamente a perda sofrida pelos Anzai e pela outra família que abriga”. Kusatsu oferece assistência econômica a 210 pessoas de Minamisoma. Vivem no famoso centro de águas termais e recebem cupons para alimentos e outros benefícios.
Tanadori e os demais refugiados compartilham sua profunda ansiedade sobre como podem fazer para se mudar logo e começar a viver de forma independente. “Meu restaurante permanece fechado. Os pais dos meus netos vivem perto de nossa casa porque precisam trabalhar. Não vou dormir tranquilo até podermos viver juntos novamente”, afirmou. Envolverde/IPS