AIEA afirma que, recentemente, 52 nações pediram ajuda para iniciarem programas atômicos, mas apenas dez delas preenchem os critérios para a implementação de usinas.
Enquanto muitos países, como a Alemanha e a Itália, têm repensado e suspendido seus programas nucleares após o acidente ocorrido em Fukushima, outros parecem ir para a direção oposta. De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), recentemente, 52 nações pediram auxílio para começarem programas nucleares. Isso pode indicar que a suspensão do uso de energia atômica pode estar mais longe do que se imagina.
Segundo informações da agência, de todos os países que pediram ajuda para implementar energia nuclear, apenas dez preenchem os requisitos para instituir programas dessa natureza. Outros dez têm motivações e recursos para implantarem energia atômica, mas são politicamente instáveis.
Entretanto, outros dados apresentados pela AIEA são menos tranquilizadores. A agência mostra, por exemplo, que atualmente 440 reatores nucleares estão em funcionamento, e outros 65 estão em construção. E a situação é ainda mais grave, pois os números revelados não consideram as usinas que ainda estão no papel ou os projetos que estão em desenvolvimento.
Na Europa, ao contrário dos alemães e italianos, a França e o Reino Unido, por exemplo, têm planos para aumentar a capacidade de energia atômica em seus territórios. Na terça-feira (28), o presidente Nicolas Sarkozy anunciou que pretende investir € 1 bilhão no programa nuclear do país e criticou a decisão dos vizinhos de suspenderem seus investimentos no setor, declarando que a determinação “não fazia sentido”.
O chefe de estado francês justificou a escolha alegando que “não há alternativa para a energia nuclear atualmente”, mas explicou que o governo vai “direcionar um bilhão de euros para o programa nuclear do futuro, particularmente tecnologia de quarta geração”. Sarkozy acrescentou também que vai “fornecer recursos substanciais de grandes empréstimos para fortalecer as pesquisas na esfera da segurança nuclear”.
Agora, a Autoridade de Segurança Nuclear da França está fazendo uma análise dos 58 reatores do país para se certificar de que eles não apresentam riscos de enchentes, terremotos e falhas de energia. O presidente da França assegurou que em comparação com reatores de outros países, os franceses estão à frente no quesito segurança. “Nossas estações de energia são mais caras porque são mais seguras”.
O Reino Unido, por sua vez, divulgou na última quinta-feira (23) que vai continuar a utilizar a energia atômica, e que pretende construir novos reatores em pelo menos oito regiões do país até 2025. No entanto, Sam Laidlaw, CEO da empresa de energia britânica Centrica, noticiou que a entrega da primeira usina nuclear, prevista para 2018, será atrasada. “Haverá um adiamento, nós só não sabemos de quanto”.
Mas se, por um lado, esses países estão investindo na energia nuclear, por outro, haverá também financiamento para as fontes renováveis. No pacote energético francês, por exemplo, estão previstos € 1,35 bilhão para as energias renováveis. Já o plano do Reino Unido sugere a combinação de várias fontes de energia para a mitigar as emissões de CO2. “Todos nós temos um papel a desempenhar para chegarmos aos objetivos de descarbonização do Reino Unido”.
Para Ben Caldecott, diretor de políticas europeias da assessoria e gestora de ativos Climate Change Capital, de Londres, as fontes nucleares ainda são necessárias para reduzir as emissões de carbono. “Eu prefiro energia renovável à energia nuclear, mas o fato é que se você não restituísse nenhuma central de energia nuclear existente, a descarbonização do setor de eletricidade seria muito mais difícil. E isso é um desafio que a Alemanha enfrentará”.