É preciso banir o racismo de dentro, de fora dos campos e da vida nossa de cada dia

racismoO produto Neymar Jr. vende quase tudo: carro, cueca, refrigerante, serviços bancários e de telefonia. Como não tenho TV, é provável que existam outras marcas que decidiram apostar fichas graúdas na imagem no menino de ouro, suplantando o cuidado que os tradicionais manuais de marketing apontam para quando se decide aliar uma personalidade a um produto ou marca.

Neste caso, o craque revelado no time da Baixada Santista, além de rechear com bons trocados a sua conta bancária, poderá se transformar num ícone que se impôs diante de algumas regras mercadológicas e da comunicação.

Considerando a lei da oferta e da procura, imagino que a equipe que cuida dos negócios do Neymar deva ter estabelecido critérios muito rigorosos para definir a quais marcas a sua imagem seria associada. E, provavelmente, o valor do cachê foi um dos itens mais decisivos. E se a aposta “nele” é tão substancial mesmo antes de saber qual será o desempenho da Seleção Brasileira no mundial, fico aqui pensando que a vitória do escrete canarinho poderá levar o atual atacante do Barcelona para a categoria de novos bilionários do esporte.

E mais: poderemos ver no futuro próximo o Neymar emprestando a sua simpatia para cervejas, seguro, assistência médica, faculdade, moda, supermercado e centenas de outras categorias. Se isso ocorrer, será a primeira vez que um jovem negro vencerá as barreiras da propaganda protagonizando campanhas veiculadas nos horários nobres dos principais veículos de comunicação do País.

Como dinheiro é poder, tamanha exposição do atacante do Barcelona pode representar, na mesma proporção, grande responsabilidade. E num mundo competitivo, nem mesmo ele, quando o desempenho não atinge as expectativas dos torcedores ou desperta a ira dos adversários, é alvo de cruéis manifestações racistas.

O racismo e a intolerância são atos que ocorrem diariamente em várias esferas e nos diferentes países. E, no Brasil, basta ligar a televisão ou ler os jornais e revistas para constatar essa terrível realidade. Se graças ao seu talento, neste momento, o pai de família Neymar Jr. pode ser considerado um “case” de sucesso de vendas e de marketing, que tal ele, anunciantes, patrocinadores, veículos de comunicação, CBF, FIFA, Clube dos 13, demais jogadores dentre tantos outros agentes que ganham muito dinheiro com o futebol, usarem os recursos, as suas influências e a visibilidade da Copa do Mundo para banir o racismo de dentro, de fora dos campos e da vida nossa de cada dia? Por aqui, fico. Até a próxima.

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.