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Economia verde, o nome não faz a essência

Florença, Itália, 31/5/2012 – A atual crise econômico-financeira que afeta o Norte industrial apresenta uma oportunidade para reformar o sistema econômico, segundo participantes da nona edição do evento Terra Futura, sobre “boas práticas” em sustentabilidade social, econômica e ambiental. “O que, quanto, como e para quem produzir são as perguntas que temos de responder com urgência”, afirmou Guido Viale, economista ambiental e autor de vários livros de ecologia.

“A crise oferece a oportunidade de reconverter ecologicamente a forma como produzimos, usamos os produtos e serviços para preparar o caminho com vistas à redução de nossa dependência dos combustíveis fósseis para respeitar a biodiversidade e criar um sistema econômico seguro e com poucas emissões de carbono”, afirmou Viale durante a mostra, realizada entre 25 e 27 de maio nesta cidade. O primeiro passo para uma economia saudável e um ambiente limpo é “encontrar formas rentáveis de melhorar nossa infraestrutura e ‘descarbonizar’ nosso fornecimento energético”, disse Monica Frassoni, presidente da Aliança Europeia para Economizar Energia.

Esta organização foi criada por ocasião da 16ª Conferência das Partes (COP 16) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em dezembro de 2010, e inclui algumas das principais companhias multinacionais da Europa, além de um grupo de políticos de diversos partidos. “Sem compromissos obrigatórios com a eficiência energética até 2020 e sem objetivos de economia verificáveis para os membros da União Europeia (UE), o bloco corre o risco de alimentar sua dependência dos combustíveis fósseis”, destacou Frassoni.

Tão importante quanto ter um marco institucional e objetivos de economia setoriais nas principais áreas da economia europeia é conseguir uma mudança radical no estilo de vida. “As mudanças que vão durar são as que criarem raízes em uma mentalidade renovada”, explicou Karl-Ludwig Schibel, coordenador do braço italiano do Pacto dos Prefeitos. O movimento europeu pretende cumprir e superar o objetivo da UE de reduzir em 20% as emissões de dióxido de carbono (CO²) até 2020. O Pacto dos Prefeitos foi lançado pela Comissão Europeia em 2008, após a adoção do Pacote sobre Clima e Energia. “Realmente, acreditamos na efetividade de um processo de baixo para cima, promovido por cidadãos, autoridades regionais e administradores locais. É ali que ocorrem as revoluções mentais mais profundas”, detalhou Schibel.

Segundo a ambientalista Vandana Shiva, a consciência cultural de nossa escravidão intrínseca e frágil da “terra viva” é a ferramenta mais importante para promover a justiça, a sustentabilidade e uma nova economia. “É hora de abandonar o modelo centralizado, fossilizado e esclerosado, adotado na era industrial, e se construir um novo, descentralizado, democrático, horizontal e no qual todos os ecossistemas sejam respeitados e a diversidade seja um valor”, enfatizou.

“Devemos lutar contra as monoculturas mentais promovidas pela industrialização, e sermos cuidadosos com as velhas armadilhas escondidas em novas palavras, como economia verde”, acrescentou Vandana. Susan George, presidente do diretório do Transnational Institute, uma rede mundial de pesquisadores e ativistas, disse à IPS: “Não me agrada utilizar o termo economia verde, pois pode se converter em um meio pelo qual o capitalismo corporativo global consiga benefícios com um novo rosto mais respeitável”.

Vinte anos depois da Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a comunidade internacional se reunirá novamente nessa cidade, de 20 a 22 de junho, para outra Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, onde se discutirá sobre economia verde, cujo adjetivo verde continua sendo motivo de controvérsia.

“Há alguns anos proponho o Novo Tratado Verde, isto é, assumir o controle das finanças e os investimentos na transição verde e social. O primeiro passo é socializar, não nacionalizar, os bancos, para incluir cidadãos e clientes na gestão, e conceder empréstimos para pequenas iniciativas ambientais”, contou Susan. A chamada economia verde é algo totalmente diferente. “Sou pessimista sobre a Rio+20”, declarou. “Será apenas uma desculpa para que as grandes corporações digam: ‘a ONU é lenta e ineficaz, nós somos efetivos e inteligentes, nos deem o dinheiro e investiremos em economia verde’. Porém, apenas buscam novos benefícios. Devemos perguntar: uma economia verde para quem e gerida por quem?”.

Barbara Unmüßig, presidente da Heinrich Boll Stiftung, escreveu em um artigo intitulado “Economia verde: uma nova bala mágica”, que “grandes setores da sociedade civil acreditam que a economia verde seja uma área extremamente benéfica”. Para marcar a diferença, o modelo de economia verde também dever prestar atenção a questões de poder e igualdade, e ao mesmo tempo afastar a ênfase política global do crescimento e livre comércio. Envolverde/IPS