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Educação e inovação são chaves para o desenvolvimento

Assunção, Paraguai, 31/10/2011 – A economia latino-americana crescerá 4,4% este ano e o crescimento projetado é de 4% em 2012, depois do registro de uma média anual de 5% entre 2003 e 2008. Ainda assim, sofre deficiências e riscos que deverá superar aproveitando o impulso atual, se deseja sustentar o desenvolvimento futuro. A América Latina ainda tem 180 milhões de pobres, 76 milhões dos quais vivem na indigência, além de manter “duas fábricas de desigualdades”, o fator que “mais conspira contra o desenvolvimento”, destacou a secretária-executiva da Comissão Econômica da América Latina e do Caribe, (Cepal), Alicia Bárcena.

A primeira fábrica são as insuficiências na educação, que limitam as capacidades humanas, e a segunda é a “falta de competitividade”, devido aos baixos investimentos, tanto em infraestrutura quanto em inovações tecnológicas, explicou Bárcena. Ela e o secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, Ángel Gurría, divulgaram no dia 28 o informe “Perspectivas Econômicas da América Latina – 2012”, por ocasião da XXI Cúpula Ibero-Americana, que terminou no dia 29, na capital do Paraguai.

Infraestrutura, educação e inovações devem ser as áreas prioritárias nas intervenções dos Estados latino-americanos para garantir o desenvolvimento e a continuidade do crescimento econômico, afirmou Gurría na entrevista coletiva em que lançou o estudo, elaborado em conjunto pela agência especializada para a região da Organização das Nações Unidas (ONU) e da OCDE, que conta entre seus membros com todos os países industrializados.

Os investimentos da América Latina em infraestrutura física caíram de 4% do produto interno bruto (PIB), nos anos 1980, para a metade atualmente. Esta região mostra uma grande desvantagem no setor do transporte em relação à Ásia e, em especial, aos países da OCDE, enquanto a brecha em banda larga da internet constitui outro fator negativo, destacou Bárcena.

A secretária-executiva da Cepal disse que os investimentos foram “a grande ausência” na região nas três últimas décadas, já que no total não superaram 20% do PIB, quando, pelo menos, deveriam chegar a 27%. Contudo, a América Latina dispõe agora de um crescimento constante e margem fiscal para investir fortemente em inovações, para assim garantir um futuro promissor.

A região também conta com “ativos” privilegiados, como terra e água em abundância que permitem uma produção agropecuária destacada, além da mineração em crescimento, tudo o que lhe assegura a liderança em muitos setores, como carne, soja e cobre, acrescentou Bárcena. Outro aspecto ressaltado foi o progresso obtido pela sociedade na região, fazendo com que as questões econômicas não se baseiem apenas na relação entre Estado e mercado, como antes, incorporando a sociedade como ator.

A educação latino-americana também avançou muito quantitativamente, ao conseguir que quase todas as crianças concluam o ensino primário, mas ainda é muito alto o baixo rendimento, com uma grande quantidade de alunos que mostram deficiências de aprendizagem, alertou Gurría. O crescimento econômico da região, muito superior ao dos membros ricos da OCDE, é o “fruto de políticas sólidas”, que asseguram “bancos capitalizados” e a atração de elevados investimentos estrangeiros diretos, acrescentou. Entretanto, é preciso corrigir deficiências, recomendou.

As 180 milhões de pessoas que vivem na pobreza, equivalem a um terço da população total da região, flagelo que se soma ao fato de a região ter dez dos 15 países mais desiguais do mundo, ressaltou Gurría. A política de impostos, em geral, não contribui para reduzir as desigualdades, a carga fiscal é muito baixa em inúmeros países, diz o informe. O Paraguai é hoje “o único país no mundo que não cobra imposto sobre a renda das pessoas físicas”, mantendo uma carga fiscal de apenas 13% do PIB, disse Gurría, que estava ao lado do presidente desse país, Fernando Lugo.

“Queremos melhor educação”, um fator decisivo para o desenvolvimento nacional e o progresso pessoal, afirmou o vice-presidente da Costa Rica, Alfio Piva, que contou sua própria experiência de criança “descalça” do meio rural, que conseguiu subir socialmente graças ao ensino que recebeu por conta das bolsas de estudo municipais que conseguiu. Para isso, é preciso um “Estado mais forte” e a Costa Rica procura contar com mais recursos, elevando a carga fiscal de 13% para 15% do PIB para investir mais em educação e garantir computadores e banda larga aos professores, acrescentou Piva.

Por sua vez, a secretária de Estado de Cooperação da Espanha, Soraya Rodríguez, foi a encarregada de apresentar uma dura crítica às teorias que reduzem a capacidade estatal de investir e atacam o Estado do bem-estar social. Este órgão apoiou financeiramente a elaboração do estudo da Cepal e da OCDE. Com o Estado reduzido ao mínimo, “a roda da pobreza continua”, acrescentou. O gasto em educação na América Latina vem crescendo, mas a média ainda está em 4% do PIB, contra 5% da OCDE, compara o estudo. Isto contribui para que a taxa de matrícula no terceiro grau na região, chave para as inovações e capacitação, não chegue a 40%, que é a metade da que possuem Estados Unidos e Coreia do Sul. Envolverde/IPS