Em evento na Estação Sé do Metrô de São Paulo, travestis exigem visibilidade e respeito

A drag queen Renata Perón comandou o talk show que reuniu, no mesmo palco, integrantes da sociedade civil e do governo. Foto: Talita Martins.

A área livre do acesso sul da Estação Sé do Metrô de São Paulo foi tomada nesta segunda-feira, 30 de janeiro, por um grande número de pessoas reivindicando um olhar com respeito para travestis e transexuais. A ação aconteceu para marcar o Dia da Visibilidade de Travestis e Transexuais, comemorado sempre no dia 29 de janeiro, mas que em São Paulo teve destaque nesta segunda com a intenção de atingir o maior número de pessoas que circulam por esta estação de metrô.

A travesti Janaina Lima, do Centro de Referência da Diversidade do Município de São Paulo, pediu visibilidade. Segundo ela, esta população não é respeitada, inclusive por funcionários públicos, como os policiais. “A população precisa nos reconhecer como seres humanos e nos respeitar. É só isso que queremos”, disse.

O cartunista da Folha de S.Paulo Laerte Coutinho também esteve no evento e falou sobre a importância da luta pelos direitos humanos. Na semana passada, Laerte, que se veste de mulher há três anos, foi à Justiça para ter o direito de poder frequentar também o banheiro feminino.

A secretária da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, Eloisa de Sousa Arruda, reforçou a importância das políticas públicas para travestis e transexuais. “Na área da saúde, por exemplo, já temos um ambulatório especializado. Na secretaria da Justiça, temos a coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado. Estes serviços reforçam os direitos dessa população”, comentou.

O evento fez referência ao Dia da Visibilidade de Travestis e Transexuais, celebrado em 29 de janeiro, mas que em São Paulo ganhou destaque nessa segunda-feira com o propósito de atingir o grande número de pessoas que circulam pela Estação Sé do Metrô.

A drag queen Renata Perón cantou sucessos de Noel Rosa e Ivete Sangalo, mas foi o refrão “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, da música Pais e Filhos, da Legião Urbana, que mais emocionou a plateia e fez sentido para os participantes do ato.

O evento foi uma iniciativa da Secretaria da Justiça e da Cidadania de São Paulo, por meio da Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual.

Travestis e o mercado de trabalho

Uma das principais dificuldades lembradas pelas travestis presentes no evento foi a falta de opções de trabalho. “Sempre fecham as portas para nós porque somos travestis. Muitos empregadores não querem nem saber se temos qualificação profissional”, relatou Bianca, formada em auxiliar de administração, mas atualmente “profissional do sexo para sobreviver”, como define.

O presidente da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), Sérgio Avelleda, também participou da ação. Ele foi questionado se o órgão contrataria travestis para trabalhar no metrô. “Já tivemos uma jovem travesti trabalhando conosco, ela participou do programa Jovem Cidadão. Os funcionários do metrô são concursados, por isso qualquer pessoa pode ser contratada, independente da orientação sexual, cor ou classe social. Ela só precisa estar qualificada para exercer a função”, disse.

Sérgio ressaltou ainda que o Metrô é um espaço acolhedor dessa população. “As quatro milhões de pessoas que circulam pelas estações todos os dias se deparam com as campanhas contra o preconceito pela orientação sexual”, afirmou. Ele se referiu aos cartazes da campanha “Olhe e Veja Além do Preconceito. Respeite as Diferenças”, expostos nas estações e que abordam, principalmente, o respeito às travestis e transexuais e o direito delas utilizarem o nome social em órgãos públicos.

A coordenadora de Políticas Públicas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo, Heloisa Gama Alves, alertou as travestis de que todas as vezes que elas sofrerem discriminação é necessário denunciar.

Visibilidade trans

O Dia Nacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais é uma referência ao lançamento da primeira campanha de cidadania desenvolvida especificamente para esta comunidade: a ação “Travesti e Respeito”, divulgada em 2004 pelo Ministério da Saúde em parceria com o movimento social.

* Publicado originalmente no site Agência Aids.