Já temos um amplo conhecimento sobre os efeitos da saúde mental das mães sobre os filhos. Já no caso dos pais, essa relação ainda é pouco explorada. Uma pesquisa publicada este mês pelo periódico Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria, revela que crianças que moram com pais com sintomas depressivos ou outros problemas mentais têm mais chance de apresentarem problemas emocionais e de comportamento.
O estudo envolveu mais de vinte mil crianças norte-americanas com idades entre cinco e 17 anos e que vivem com ambos os pais, independente de serem biológicos, adotivos ou postiços. A chance de uma criança apresentar dificuldades de ordem emocional ou de comportamento foi de 19% quando a mãe tinha sintomas depressivos, 11% quando só o pai tinha esses sintomas e 6% quando nenhum dos pais apresentava os sintomas. No caso de ambos os pais terem sintomas depressivos, o risco das crianças subia para 25%.
A presente pesquisa é a análise mais robusta já realizada até então sobre a influência que tem a depressão do pai sobre a saúde mental dos filhos. Os resultados também revelam de forma inédita o impacto relativo da depressão materna e paterna numa mesma população.
A prevalência de depressão é muito alta na população geral, acometendo, nos Estados Unidos, 17% das mulheres e 9% dos homens. No Brasil, os números não são muito diferentes. Estudo recente demonstrou uma prevalência de 10% na região metropolitana de São Paulo, sendo duas vezes mais frequente nas mulheres do que nos homens.
* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.
** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.