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Fundo Mundial contra a aids contorna o temporal

Washington, Estados Unidos, 27/4/2012 – Depois de um ano muito difícil, o Fundo Mundial de Luta Contra Aids, Tuberculose e Malária “não está em crise”, assegurou sua subdiretora-executiva, Debrework Zewdie. Em uma mesa-redonda organizada pelo grupo de estudo independente Council on Foreign Relations, dos Estados Unidos, Zewdie afirmou que o Fundo voltou a receber compromissos substanciais de doadores bilaterais, após contornar um forte temporal no ano passado pelas dificuldades econômicas que afetam os países ricos.

Zewdie anunciou as novas ou renovadas promessas de financiamento para vários anos feitas por Alemanha, Espanha, Grã-Bretanha e Japão, no encontro, que aconteceu no dia 25. O doador mais importante, os Estados Unidos, manteve seu apoio apesar das dificuldades de 2011.

“Zewdie deu uma mensagem clara de que a transformação do Fundo Mundial está em processo e destacou uma gestão impecável dos recursos”, afirmou Mark Isaac, presidente interino da Amigos da Luta Mundial Contra Aids, Tuberculose e Malária. “Também assinalou a importância da atual liderança de Washington para garantir o apoio de outras nações e chegar com serviços vitais às pessoas mais necessitadas do mundo”, disse à IPS.

Este Fundo começou a funcionar em 2002 com o objetivo de trabalhar de uma forma diferente da de outros contribuintes multilaterais. Seria uma organização simples com um mandato simples: disseminar fundos para tratar e prevenir aids (causada pelo vírus HIV), tuberculose e malária. A organização atraiu rapidamente alguns dos maiores filantropos do mundo e celebridades. No ano passado, os projetos aprovados chegaram a US$ 23 bilhões. Atualmente, opera em 150 países, com interesse especial na África subsaariana.

Além disso, as atividades do Fundo Mundial aumentaram, pois cerca de 80% dos recursos foram entregues nos últimos cinco anos. Dessa forma, converteu-se na maior organização que fornece recursos econômicos à luta contra as três doenças que estão dentro de sua competência. Entretanto, nesse crescimento exponencial, o Fundo se converteu em um gigante complexo. “Quando foi criado pensou-se em algo como simples. Mas não há nada disso agora”, destacou Zewdie.

Em janeiro de 2011, a agência de notícias Associated Press informou, com base em dados do escritório do Inspetor Geral do próprio Fundo, que a organização havia perdido dezenas de milhões de dólares por má gestão e corrupção. Dois terços do dinheiro de alguns projetos acabaram desviados a partir de vários tipos de fraude. Seguiram-se mais denúncias de má gestão, o que levou a Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, e vários países da região a anunciar a retenção de quase US$ 450 milhões até a realização de uma investigação.

Os resultados dessa situação não tardaram a ser visíveis, e o pior ocorreu em novembro. Na época, como US$ 2,2 bilhões não haviam se materializado, a Junta Diretora do Fundo Mundial anunciou que cancelaria a próxima rodada de entrega de dinheiro. Houve várias advertências de diferentes âmbitos sobre os perigos que corriam os grandes avanços obtidos pela organização nos últimos anos.

Os comentários de Zewdie coincidiram com o Dia Mundial de Combate à Malária, celebrado no dia 25, cujo lema para este ano foi: Sustain Gains, Save Lives: Invest in Malaria (Preserve os êxitos, salve vidas: invista na luta contra a malária). O Fundo Mundial foi categórico ao afirmar que a estrutura de seus programas permitiu que os serviços no terreno não sofressem os impactos negativos da falta de fluidez de fundos, apesar do risco que correu o futuro da organização a médio prazo.

De fato, um informe financiado em parte pela Clinton Health Access Intiative diz que 91% dos casos de malária que ressurgiram nas últimas oito décadas foram decorrentes da debilidade dos programas de controle, o que é habitual quando os fundos são reduzidos. A mudança de atitude dos doadores obedeceu, pelo menos em parte, aos planos de reestrutura implantados pelo Fundo Mundial, que desenha um programa duplo para atender a complexidade da organização e a má gestão.

Zewdie afirmou que apesar de os recursos do Fundo serem divididos de forma igual entre custos administrativos e os programas, uma revisão acelerada de 60 dias fez com que os primeiros fossem reduzidos a um quarto do total. Além disso, a agência mudou o foco do que considera áreas de “alto impacto” após perceber que os recursos não iam apenas para os países que mais precisavam deles. Também será reduzida a quantidade de pessoas que trabalham na organização, das 600 que tem. Envolverde/IPS