Doha, Catar, 14/4/2011 – O Grupo de Contato para a Líbia, do qual participam países aliados contra o regime de Muammar Gadafi, acordou a criação de um fundo para canalizar recursos ao rebelde Conselho Nacional de Transição, com sede na cidade de Bengasi. Em uma declaração divulgada ao final da cúpula realizada ontem em Doha, capital do Catar, o Grupo pediu a renúncia de Gadafi e afirma que “seu regime perdeu toda legitimidade e deve abandonar o poder, permitindo ao povo determinar seu próprio futuro”.
O mecanismo financeiro proposto permitirá que sejam feitas doações internacionais diretamente aos rebeldes. O Grupo alertou que mais de 3,6 milhões de pessoas na Líbia necessitariam de ajuda humanitária em razão dos combates. Além disso, pediu que seja feita mais pressão contra o regime de Gadafi, embora sem chegar a um acordo sobre a ideia de ajudar os rebeldes com armas.
O correspondente da rede de TV Al Jazeera, James Bays, disse que alguns dos participantes tinham “profundas dúvidas” sobre a iniciativa de ajudar os rebeldes com dinheiro. “Conversei como o ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, e tinha dúvidas se isso é legal, ou não”, disse James. “Declarações da Grã-Bretanha e do Catar coincidiram quanto à situação em Bengasi ser urgente, em grande medida devido à falta de dinheiro. Nem tudo tem a ver com armas pesadas para os combatentes. Também é preciso pagar os funcionários públicos e reabrir as escolas”, acrescentou.
Depois da reunião, o primeiro-ministro do Catar, xeque Hamad bin Jassim bin Jaber bin Muhammad Al Thani, disse que Gadafi deveria renunciar. “Os que o cercam devem aconselhá-lo que é pelo bem da Líbia”, afirmou. “Esse é o cenário ideal, pela segurança de todos, incluindo ele próprio e sua família”. O primeiro-ministro também não descartou fornecer armas aos rebeldes. “O Catar começa fornecendo ajuda humanitária, incluindo gás de cozinha e outros produtos. Também recebemos seis mil refugiados. Quanto às outras necessidades, o país fará o necessário para que os líbios possam se defender”, afirmou.
O secretário de Assuntos Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, disse à Al Jazeera que dar armas aos rebeldes não seria uma ação contrária ao direito internacional. “As resoluções da Organização das Nações Unidas permitem fornecer armas”, afirmou. “Entretanto, agora fazemos nossa contribuição com nossas próprias forças militares, bem como fornecendo apoio não letal, como equipamentos de comunicação”, acrescentou. Anteriormente, William declarou aos jornalistas que “o embargo de armas se aplicava a toda Líbia”, mas ressaltou que “seria apropriado equipar a população com o que fosse necessário para se proteger”.
O chanceler da Itália, Franco Frattini, foi além. “A tática de Gadafi consiste em colocar tanques nas ruas, e não podemos lançar ataques contra pessoas nas ruas, nas praças ou em áreas densamente povoadas. Ou fazemos o possível para que essas pessoas se defendam ou retiramos nosso apoio”, afirmou. Por outro lado, o chanceler da Bélgica, Steven Vanackere, disse que seu país se opõe à ideia. “A resolução da ONU fala em proteger civis, não em armá-los”, explicou.
Por sua vez, o governo de Gadafi não deu importância à reunião em Doha e nem ao papel do Catar. “Esperamos que o povo e o governo dos Estados Unidos não acreditem nas mentiras do Catar, país que dificilmente é um sócio de qualquer tipo. É mais uma corporação petrolífera do que uma verdadeira nação”, disse no dia 12 aos jornalistas um porta-voz do regime líbio.
Entre os que compareceram a Doha, estava Moussa Koussa, ex-chanceler da Líbia, que não participou de nenhuma reunião formal, mas se reuniu com vários funcionários de forma paralela. Mustafá Gheriani, porta-voz dos rebeldes para a imprensa, afirmou que Moussa não “está de forma alguma ligado ao Conselho Nacional de Transição”. (IPS/Envolverde)
* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.